COPA NAS RUAS
Numerosos na internet, poucos nas ruas. Mesmo assim, os manifestantes que foram ao centro de Porto Alegre criticar a realização da Copa do Mundo no Brasil conseguiram chamar atenção pelos atos violentos ontem. A marcha pela Capital deixou um rastro de vitrines quebradas, contêineres virados e incendiados, placas de sinalização e peças alusivas à competição derrubadas e o comércio assustado.
Dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar (BM) sofreram ferimentos leves decorrentes de pedradas atiradas por manifestantes, e 14 pessoas (sete adultos e sete adolescentes) acabaram detidas por vandalismo. Os suspeitos foram levados para a Academia Integrada de Segurança Pública, onde seriam autuados em flagrante. Foram encontrados dois coquetéis molotov, canivetes, facas, máscaras e drogas. Segundo a BM, as cenas captadas pelo imageador (equipamento instalado em helicóptero que registra e transmite imagens) ajudaram a identificar o principal suspeito de comandar depredações.
A manifestação convocada pelo Bloco de Luta pelo Transporte Público se manteve pacífica enquanto se concentrou diante da prefeitura, por volta do meio-dia. Ali, com faixas, cartazes e gritos, os participantes protestaram contra a realização do Mundial, exigiram mais investimento em saúde e educação e pediram a desmilitarização da polícia, entre outras demandas. Placas formavam a frase em inglês “Fifa go home” (Fifa, vá para casa).
LOJISTAS LAMENTAM PERDAS NAS VENDAS
A concentração de manifestantes não foi massiva. Enquanto 4,5 mil pessoas haviam confirmado presença na página do evento no Facebook, apenas 500 compareceram, segundo estimativas do Centro Integrado de Comando da Cidade. Tão logo a caminhada teve início, um grupo de duas dezenas de jovens vestidos de preto e mascarados passou a depredar bens públicos e privados.
De início, uma janela da prefeitura foi quebrada com pedras. O grupo seguiu pela Júlio de Castilhos entoando palavras de ordem. Temerosos, os lojistas começaram a baixar as cortinas metálicas e fechar seus estabelecimentos.Após encerrar o expediente mais cedo, eles emitiram nota lamentando que tiveram de fechar as portas em uma data importante de vendas, o Dia dos Namorados.
Sob o monitoramento do BOE, que não interveio, os mascarados destruíram a fachada de um McDonald’s na Rua da Praia, e, no caminho ao longo da Salgado Filho e da Borges de Medeiros, quebraram os vidros de agências bancárias da Caixa, do Banco do Brasil e do Santander e da sede da Oi. Contêineres de lixo foram virados e incendiados. Placas de sinalização, luminárias públicas e material publicitário da Copa foram depredados.
A marcha terminou no Largo Zumbi dos Palmares, onde o BOE protegeu a frente da Secretaria Municipal de Turismo. A maior parte dos participantes da caminhada deixou o local, mas algumas dezenas de manifestantes mais exaltados resolveram seguir pela Borges de Medeiros em direção à fan fest que se realizava na orla do Guaíba, no Anfiteatro Pôr do Sol. Foram impedidos pela BM. Nas proximidades da Avenida Ipiranga, foram dispersados pelo BOE com o auxílio de pelo menos três bombas de efeito moral.
O Bloco de Luta deverá convocar novo protesto para domingo, dia em que Porto Alegre receberá o seu primeiro jogo da Copa, entre França e Honduras, no Beira-Rio. Está prevista a realização de uma assembleia hoje, às 18h30min, no assentamento urbano Utopia e Luta, no Centro, em que os militantes do grupo irão discutir os detalhes da próxima mobilização.
Os rodoviários, que cogitavam bloquear garagens ou rodar em baixa velocidade, acabaram desistindo de promover atos ontem.
ENTREVISTA
Entrevista com SILANUS MELLO, Subcomandante da BM
“Monitoramos quem depreda”
O coronel Silanus Mello defende a postura dos PMs nos protestos como forma de evitar confrontos que resultem em pessoas feridas.
Quebraram vidraças de bancos, lojas e prédios e placas de sinalização, viraram e queimaram contêineres. Por que isso aconteceu?
Nossa linha é de acompanhar a manifestação, tentar evitar depredações, mas, se acontecem, monitoramos quem está depredando, dentro daquela linha de não atacar toda a manifestação. Tem presos que foram monitorados, filmados e depois, na dispersão, a gente fez a prisão.
Foram presos todos que fizeram a quebradeira?
Foram alguns presos. Ainda não temos o número total e o que cada um fez. Foram apresentados na Acisp (plantão da Polícia Civil para lavratura de flagrantes).
Qual a orientação aos PMs? É de intervir o mínimo possível para não passar a imagem de que a BM é violenta?
Não. Estamos adotando o mesmo procedimento de 2013.
Mas, no ano passado, aconteceu muita quebradeira...
E nós prendemos bastante gente também, e não tivemos feridos. A linha que adotamos é manter a integridade física dos manifestantes e das pessoas que não estão na manifestação.
Há pessoas que relataram sensação de tolerância por parte da BM?
Essa sensação, para mim, pouco importa. Eu estava lá, e estou dizendo qual o procedimento, de garantir a integridade das pessoas para que elas e os policiais não se machuquem, e assim, a gente evita que eles atrapalhem o evento.
BALANÇO DO ATO
- Dois PMs feridos e dois manifestantes atendidos com cortes nas mãos.
- Quatro prédios públicos atacados (prefeitura, Centro Administrativo, Daer e Tribunal de Justiça).
- Quatro bancos depredados (Banco do Brasil (2), Santander e Caixa).
- Três lojas atacadas (McDonald’s, Aerolíneas Argentinas e Oi).
- Dois contêineres incendiados e uma luminária pública derrubada.
- Placas de sinalização e material de divulgação da Copa destruídas.
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