segunda-feira, 16 de junho de 2014

À MARGEM DA SOCIEDADE


ZERO HORA 16 de junho de 2014 | N° 17830


EDITORIAL


Grupos que insistem na tática da destruição combinam anarquia e delinquência, sem qualquer expressão como manifestação política.

É exemplar, para que se tenha a dimensão da perplexidade com o vandalismo de setores contrários à Copa, a cena vista na semana passada em vídeo, na internet, do encontro de um pai com o filho encapuzado. O pai flagrou o adolescente numa ação dos chamados black blocs, na periferia leste de São Paulo, onde os manifestantes promoviam barricadas e queimavam lixo na rua. O Brasil, já atordoa-do com tanta violência, pôde testemunhar o enfrentamento da radicalização e do bom senso. O que se vê praticamente todos os dias, principalmente nas grandes cidades, ganhou a forma de drama familiar. O homem que tenta retirar o filho da rua, correndo o risco de expor o próprio rosto e o rosto do rapaz, antes encoberto por uma camiseta, expressa a dimensão mais trágica de um constrangimento nacional.

O país se interroga, tanto quanto o pai do black bloc, sobre o sentido das manifestações que ultrapassam todos os limites da liberdade de expressão, da conduta política e da vida em comunidade. Os manifestantes violentos desafiam leis, referências de família e a própria cidadania. Depredam, destroem, agridem, certamente com a sensação de que assim desafiam instituições e organizações privadas, sob o pretexto de que expressam a opinião de segmentos da população. Está cada vez mais claro, pelo reduzido número de participantes nos atos de vandalismo, que os black blocs são, na verdade, representantes de si mesmos. Não há conteúdo convincente, tampouco expressão numérica nesse contingente, que insiste em recorrer à crítica feroz à Copa apenas como pretexto para a baderna.

Há pouco mais de um ano, quando as manifestações de rua tiveram início, os mesmos grupos radicais adotaram uma postura oportunista, para se misturar aos movimentos sociais e assim poder camuflar atitudes covardes. Há entendimento, em parte expressiva dos analistas políticos, de que os vândalos acabaram por afastar os brasileiros das manifestações. Às vésperas da Copa, em meio a protestos e prejuízos provocados por grevistas, os destruidores do patrimônio público e privado voltaram a agir, sob repúdio da maioria. Ressalte-se que não há como tratá-los ao lado de líderes grevistas, mesmo que muitos desses dirigentes tenham desrespeitado a legislação, o Judiciário e os que dependem dos seus serviços. Os vândalos são uma categoria à margem de enquadramentos políticos.

São cúmplices na anarquia e na delinquência, sem nenhum significado para as demandas mais legítimas do conjunto da sociedade. Ao contrário, desafiam a ordem estabelecida e cada vez mais se distanciam dos que fazem apelos pela qualificação da saúde, dos transportes e da educação. Suas ações se caracterizam por uma postura repetitiva, que não pode ter a tolerância das autoridades da segurança, o Ministério Público e a Justiça. Os arruaceiros não podem desfrutar da sensação de que estão prosperando no propósito de levar o caos às cidades.

EM RESUMO

Editorial condena a repetição de ações que agridem bens públicos e privados, perturbam a vida nas cidades e desafiam as leis.

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