Para chilenos, invasão ao Maracanã foi ato de desespero de quem estava sem ingresso. Grupo que está no Leme diz que muitos esperavam comprar os tíquetes com cambistas, mas valor desanimou
POR RAFAEL GALDO
O GLOBO 19/06/2014 12:06
Chilenos estão concentrados no Leme: alguns vieram de ônibus - Eduardo Naddar / Agência O Globo
RIO - No dia seguinte à vitória do Chile por 2 X 0 no Maracanã contra a Espanha, muitos torcedores chilenos continuam no Rio. Um dos principais pontos de concentração desta maré vermelha (eles chamam a seleção de La Roja) na cidade é a Praia do Leme, onde há dezenas de motorhomes, ônibus e carros dos que vieram por terra ao Brasil. Os irmãos Edgardo Espinoza, da cidade de Iquique, e Noe Espinoza, de Santiago, por exemplo, estão com um trailer estacionado na Praia do Leme. Foram cinco dias de viagem, passando pelo deserto do Atacama, e cruzando a Cordilheira dos Andes. Eles disseram ter acordado felizes com o triunfo contra a Espanha. Pela manhã, a dupla encontrou um casal de brasileiros moradores de Copacabana para devolver um celular encontrado por eles à noite, no calçadão. Eles disseram ter sido muito bem recebidos pelo povo brasileiro. Os irmãos conseguiram ver a partida no Maracanã, mas como a maioria dos que estão no Leme, chegaram à cidade sem ingressos.
— Foi um milagre, estávamos no meio de um monte de chilenos sem ingressos quando dois equatorianos se aproximaram oferecendo os tíquetes, que compramos por R$ 500 dólares cada — disse Noe Espinoza.
Os irmãos Edgardo e Noe Espinoza, que vieram de trailler: eles acharam celular de brasileira no calçadão e devolveram - Eduardo Naddar / Agência O Globo
Para os dois, a invasão do Maracanã por torcedores chilenos na quarta-feira, que terminou com 88 estrangeiros detidos, foi fruto de uma situação de “desespero”. A palavra, aliás, é repetida por outros torcedores que vieram ao Rio.
Motorista de um grupo que veio ao Brasil de ônibus, Victor Carloza também atribuiu a reação de seus compatriotas a uma vontade grande de assistir ao jogo e a uma frustração por não terem conseguido ingresso.
— Imagina viajar quatro mil quilômetros e não conseguir entradas? — questionou.
Muitos chilenos contam que vieram mesmo sem ingressos, pois esperavam conseguir comprar os tíquetes com cambistas. No entanto, o preço cobrado irregularmente desanimou que não podia desembolsar até mil doláres, o equivalente a cerca de dois salários mínimos no Chile.
— As pessoas se desesperaram, há uma euforia e uma vontade de ver o Chile vencer. A única coisa que queremos é que o Chile seja campeão — disse outro torcedor, o artesão Julio Cezar Jorge Ramos, no Rio com um grupo de 40 amigos que há 14 anos acompanha a seleção chilena.
A decisão de vir ao Brasil, conta Julio Cezar, foi há dois anos, durante a Copa América, na Argentina. Desde então, eles juntaram dinheiro vendendo rifas e promovendo eventos. No Leme, na Avenida Atlântica, eles encontraram um lugar para estacionar, mas passam por alguns apertos: só podem tomar banho nas duchas da orla. A convivência dos grupos com os moradores do Leme tem alguns momentos de tensão: muitos ficam circulando pela ciclovia. Nesta manhã, uma corredora derrubou, sem querer, a caneca de uma chilena que tomava chá no meio da pista.
Torcedores do Chile ficam concentrados no Leme - Eduardo Naddar / Agência O Globo
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