sexta-feira, 6 de junho de 2014

A COPA DAS COPAS

REVISTA ISTO É N° Edição: 2323
| 30.Mai.14 - 20:50



EDITORIAL



Carlos José Marques, diretor editorial


A Copa que tem início nos próximos dias coloca os holofotes do mundo sobre um país dividido. O craque de futebol Ronaldo causou polêmica ao se dizer “envergonhado” com os atrasos na organização. O tricampeão Rivelino foi na cola e disse que o colega levou tempo demais para admitir algo que muitos sentem – inclusive ele. A presidenta Dilma, respondendo a críticas sobre obras nos aeroportos, criou um selo de qualidade própria, o “padrão Brasil”, em substituição ao propalado “padrão Fifa”. Ouviu apupos da turba de descontentes. Os gritos e ânimos da torcida estão acirrados. Em várias vertentes, sociais e políticas. Todos usam a Copa como argumento para objetivos difusos: do ataque ao aumento do custo de vida e da inflação à conquista da vitória nas eleições que ocorrem logo a seguir. O que, diga-se de passagem, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Na antessala daquele que é tido como o maior evento da Terra, o improviso é a marca. Aeroportos não estão realmente prontos. Estádios exibem no entorno uma completa falta de infraestrutura de atendimento. Sinalizações são precárias. O projeto de mobilidade urbana foi para as calendas e o deslocamento daqueles que vão assistir ao vivo às partidas está comprometido. O Brasil do “jeitinho” reforça o cacoete nessa área. Nas ruas, as mobilizações dão o tom com inúmeras bandeiras. Greves por reivindicações trabalhistas, protestos contra o evento e até índios exigindo demarcações de terra e atacando policiais à flecha exportam para o planeta surradas e caricatas imagens nacionais. Agem como uma torcida do contra, em prejuízo deles mesmos e do Brasil. Não há como negar que sobram problemas por aqui, mas esse não é o momento nem o campo adequado para buscar soluções a tantas demandas. Vincular toda sorte de reivindicações, vulnerabilidades e anseios à Copa é um equívoco. As históricas carências do País não são decorrentes da Copa nem podem ser atribuídas diretamente a ela. Ao contrário. O evento deverá trazer contribuições no caminho de superação de gargalos e servir como excelente outdoor de promoção global da Nação, com poderio de fogo capaz de reativar a economia e resgatar o humor internamente. Nos gramados, a peleja ainda nem começou, mas, dada a participação em massa das estrelas do futebol e das melhores seleções em atividade, o espetáculo está garantido. Será decerto uma grande Copa, talvez a “Copa das Copas”, como prega o governo, reavivando a velha mística da “Pátria de chuteiras” e derrotando, dentro e fora dos estádios, o coro daqueles que pregavam o “Não vai ter Copa”. A bola vai rolar!

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