quarta-feira, 2 de julho de 2014

LEGADO PEDAGÓGICO DA COPA


ZERO HORA 02 de julho de 2014 | N° 17847. ARTIGOS



Ari Riboldi*




Apar dos aspectos positivos que a Copa do Mundo traz à economia, a torcida maior é que também o povo brasileiro aprenda lições que modifiquem comportamentos e culturas. O fim da simulação e do jeitinho, o respeito às normas, a convivência sadia e cordial entre diferentes, a prática do esporte em clima de paz, a capacidade de aceitar a derrota, o discernimento para evitar a manipulação do esporte para fins políticos, a clareza do conceito de patriotismo.

A nossa seleção não pode, em campo, reforçar a cultura equivocada que se alastrou para todas as áreas de que sempre há um jeitinho à margem do sistema. Nem deve propagar a ideia de que a malandragem leva à vitória, de que a simulação é um meio de transgredir sem ser punido, de que o número de faltas “cavadas” representa esperteza. Essa prática em campo e a sua defesa em manifestações de dirigentes, de atletas e até de analistas ratificam um comportamento que valoriza a dissimulação e esperteza em detrimento da ordem e da disciplina. É um mau exemplo que se vende como se fosse habilidade e destreza e que, infelizmente, pega e é aplicado nas ações do dia a dia.

Por outro lado, torcedores estão dando uma lição de civilidade dentro e fora do campo. É clara demonstração de que é possível a convivência de torcidas opostas lado a lado, com respeito mútuo, em paz, sem brigas. Pelo contrário, o futebol é encontro e festa. Afinal, é apenas um esporte do qual a derrota e a vitória fazem parte. Aceitar também a derrota e com ela tirar lições para a vida, para a formação do caráter, eis mais uma boa lição. O cântico de hinos e as bandeiras carregadas com orgulho, porém, não podem ser confundidos com efervescência de patriotismo. É apenas paixão, emoção. O verdadeiro patriotismo não tem dia ou hora. Patriotismo é colocar-se a serviço da nação, é exercer a cidadania para o bem comum, em favor da coletividade.

O resultado de campo também não deve imiscuir-se com manipulações políticas. O uso político do esporte é sempre deplorável e só se configura se o povo não alcançar o mínimo de senso crítico. Nesse caso, uma boa educação e uma escola eficaz constituem antídoto perfeito. A torcida por um legado pedagógico que se instale em definitivo na cultura brasileira e faça viger outros valores é o que se espera como uma grande vitória nesta Copa.

PROFESSOR E ESCRITOR

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