terça-feira, 8 de julho de 2014

FIANÇA DE CINCO MIL LIVRA SUSPEITO DA CADEIA


Delegado pedirá prisão preventiva dos envolvidos com a máfia de cambistas. Raymond Whelan, executivo da Match, foi liberado da prisão na madrugada após pagar fiança de R$ 5 mil

POR GISELLE OUCHANA / BRUNO AMORIM / ANA CLÁUDIA COSTA
O GLOBO  08/07/2014 11:12

O diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, deixa a 18ª DP, após ter conseguido um habeas corpus durante a madrugada - Fernando Quevedo / Agência O Globo



RIO - O delegado titular da 18ª DP (Praça da Bandeira), Fábio Barucke, disse que irá concluir ainda nesta terça-feira o inquérito que apura a máfia dos cambistas e a venda de ingressos privilegiados da Copa do Mundo. Barucke afirmou que deve pedir ainda a prisão preventiva do inglês Raymond Whelan e de todos os envolvidos no caso. Barucke acredita que Whelan só deve falar em juízo. Isso não impedirá, no entanto, a conclusão do inquérito e o pedido de prisão preventiva.

Fernando Fernandes, advogado do diretor-executivo da Match Services Raymond Whelan, contou que o valor pago pela fiança de seu cliente foi de R$ 5 mil. Whelan é suspeito de ser integrante de uma quadrilha internacional de cambistas. A prisão foi considerada ilegal e arbitrária pela desembargadora do plantão judiciário do Rio de Janeiro, Marília Castro Neves Vieira, que concedeu um habeas Corpus para o executivo. O advogado elogiou a rapidez da reação do Judiciário, mas criticou a ação que levou à sua prisão. Fernandes disse ainda que os direitos de seu cliente não foram respeitados:

— A lei brasileira determina que existem medidas suficientes para garantir uma investigação sem a necessidade de prisão. Qualquer um pode ser investigado, essa é uma garantia do estado. Mas os cidadãos também têm suas garantias. Se não fosse a reação do judiciário, criamos uma sensação de que é um país que não respeita suas próprias leis.

Segundo ele, o Juizado Especial do Torcedor foi criado para resolver situações de menor potencial ofensivo. Para Fernandes, não pode imputar organização criminosa, que é um crime grave, nem tem autoridade para realizar escutas telefônicas. O advogado acredita que a ação vai repercutir negativamente não só para o Whelan e para a empresa Match, mas também para o Brasil.

— Foi uma operação irresponsável do ponto de vista legal, com consequências de mídia desastrosas para nosso país. Precisamos demonstrar que temos arcabouço legal para receber eventos como a Copa do Mundo. Parece que estamos enfrentando um problema cultural de permanência de raciocínios do regime ditatorial que tivemos em nosso país — avaliou o advogado, acrescentando que Whelan está muito cansado depois de passar a noite preso, e não terá condições de dar entrevistas nesta terça-feira.

Whelan foi preso com 82 ingressos de jogos da Copa do Mundo enquanto tomava cafezinho no saguão do Copacabana Palace, onde está hospedado. A Match Services é uma empresa associada à Fifa que tem exclusividade para a venda de pacotes para o Mundial. Em nota, a empresa afirmou nesta terça-feira que continuará a apoiar plenamente todas as investigações policiais.

"Enquanto isso, Ray Whelan, assim como o resto do pessoal da Match, vai continuar a trabalhar em nossas áreas operacionais de responsabilidade, a fim de entregar uma bem-sucedida Copa do Mundo da Fifa 2014", diz trecho da nota.

Diretor da Match foi liberado na madrugada

O diretor-executivo da Match Services, o britânico Raymond Whelan, de 64 anos, foi liberado por volta das 4h50m desta terça-feira. Ao ser liberado, o britânico seguiu direto para o hotel onde está hospedado, sem falar com a imprensa. Ele deverá ser intimado para prestar depoimento, mas ainda não há data prevista. Whelan ficou preso por cerca de 12 horas. Inicialmente, o diretor-executivo da Match Services ficou detido em uma cela especial da 18ª DP. Depois que o habeas corpus foi concedido, ele aguardou a chegada do oficial de Justiça numa sala comum.

Aparentemente surpreso com a prisão, o britânico negou qualquer ligação com o argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana, preso na semana passada sob acusação de integrar um esquema de venda ilegal de ingressos para a Copa.


Whelan, que estava vivendo no país há dois anos, não explicou por que o número de seu aparelho celular, cedido pela Fifa, aparecia na memória do telefone de Fofana com o nome de Ray Brasil. As investigações mostram que o franco-argelino trocou em torno de 900 telefonemas e mensagens de texto com Whelan, que seria o responsável pelo repasse de parte dos ingressos negociados no mercado paralelo por Fofana.



A prisão de Whelan fez parte das investigações que já haviam prendido 11 pessoas, inclusive Fofana. Acusado de cambismo e formação de quadrilha, Whelan teve a prisão preventiva decretada nesta segunda-feira pela Justiça com base no Estatuto do Torcedor.

De acordo com o inspetor Vicente Barroso, que acompanhou a prisão do britânico, o executivo estava hospedado no 5º andar do Copacabana Palace, juntamente com integrantes do alto escalão da Fifa. Na suíte do estrangeiro, os policiais apreenderam US$ 1,3 mil, aparelhos celulares, vários ingressos (inclusive para a final), um computador e documentos que serão analisados.

— Já solicitamos todas as imagens do circuito interno do hotel desde o início da Copa e talvez venhamos também a solicitar as ligações feitas a partir da suíte do britânico. O objetivo é reunir elementos que provem a ligação do suspeito com Fofana e outros integrantes do grupo — disse o inspetor.

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