segunda-feira, 14 de julho de 2014

A MÁFIA DOS INGRESSOS

TV GLOBO, FANTÁSTICO 13/07/2014 22h25

Novas escutas revelam atuação de quadrilha de cambistas e executivo. Gravações mostram como Raymond Whelan, que está foragido, tinha conhecimento das atividades de cambista do argelino Lamine Fofana, que continua preso. Um dos integrantes da quadrilha fala pela primeira vez.




O Fantástico denunciou, domingo (6), um esquema milionário de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo. Novas escutas autorizadas pela Justiça mostram como o inglês Raymond Whelan, que está foragido, tinha conhecimento das atividades de cambista do argelino Mohamed Lamine Fofana, que continua preso. Um dos integrantes da quadrilha fala pela primeira vez sobre o caso na reportagem de Bette Lucchese, Tyndaro Menezes e Arthur Guimarães.

Veja abaixo como os dois velhos parceiros se tratam ao telefone.

Lamine: Alô?
José: Oi, picareta!
Lamine: Fala.

Esse é um dos telefonemas gravados com autorização da Justiça na Operação Jules Rimet, que desarticulou a quadrilha internacional de cambistas que agiu durante a Copa do Mundo.

De um lado da linha, está o argelino Mohamed Lamine Fofana, apontado nas investigações como o chefe do bando. Do outro, um advogado brasileiro que se diz inocente.

Fantástico: O senhor participava de algum esquema de venda de ingressos para Copa?
José Massih (advogado): Não, não. Isso não.

O advogado José Massih ficou dez dias na cadeia. Como colaborou com as investigações policiais, responde ao processo em liberdade. Na última sexta-feira (11), ele voltou para casa, em São Bernardo do Campo, em São Paulo.

No site da empresa de Lamine Fofana, José era apresentado como um dos executivos da empresa, exercendo a função de advogado.

José Massih: Fiquei sabendo dessa foto exatamente quando estava detido.
Fantástico: O senhor chegou ser, em algum momento, empregado do Lamine Fofana?
José Massih: Nunca. De maneira nenhuma.

José Massih afirma que nunca viu Fofana negociar ingressos. Mas, para a polícia e o Ministério Público, o advogado era parte ativa de todo o esquema.

“José Massih funcionava como advogado do Fofana e ele foi flagrado vendendo ingressos adquiridos, cedidos pelo Fofana”, afirma o delegado Fábio Barucke, da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Na conversa abaixo, o advogado e Lamine Fofana discutem o preço mínimo de um ingresso para um cliente.

José: Qual é o mínimo que a gente faz pro Walter?
Lamine: Não entendi.
José: Qual é o valor mínimo que você faz pro Walter?
Lamine: Zé, eu pedi 1.5, ok? Se ele vem para 1.2, 1.3, fecha, entendeu?

“Tentei ajudar dois ou três, meia dúzia de amigos, então pode ser que foi nesses diálogos que o meu telefone estava grampeado, que pode ter sido isso”, se defende José Massih.

Em depoimento à polícia, o advogado ajudou a identificar Raymond Whelan. Ele conta que viu o inglês conversando com Lamine Fofana em uma festa no Rio. Raymond Whelan é executivo de uma das empresas escolhidas pela Fifa para vender ingressos para o Mundial, a Match Services.

Segundo as investigações, foi Whelan quem abasteceu o esquema chefiado por Lamine Fofana.

“O Raymond agia como facilitador para essa organização criminosa, distribuindo ingressos para que chegasse na mão com maior facilidade para o Fofana, e o Fofana negociava esses ingressos para terceiros com a ciência do Raymond”, afirma o delegado Fábio Barucke.

Na conversa com Raymond Whelan, fica claro que o inglês sabe que Fofana está revendendo ingressos.

Fofana: Deixa eu te ligar de volta. Vou perguntar ao meu cliente se ele precisar de ingressos Business. Te ligo de volta.
Raymond: Ok.

Em outra ligação, feita no dia 17 de junho, Whelan oferece a Lamine Fofana ingressos VIP.

Raymond: Você precisa de algum Hospitality para amanhã, para Espanha e Chile?
Fofana: Sim, talvez. Mas tenho que te retornar às 5 horas.
Raymond: Ok. Tenho 10 assentos business.

Lamine Fofana e outras nove pessoas continuam na cadeia. Raymond Whelan foi preso na segunda-feira passada (7) e acabou solto menos de 12 horas depois, graças a um habeas corpus. Ele é acusado, entre outros crimes, de cambismo, por facilitar a distribuição de ingressos, e organização criminosa.

“Esses valores que foram recebidos dos ingressos que foram vendidos no mercado negro não entraram legalmente na empresa”, afirma o promotor Marcos Kac

Na quinta-feira (10), a Justiça expediu mandado de prisão preventiva contra Raymond Whelan. Segundo a polícia, o inglês fugiu com a ajuda do advogado.

Imagens mostram o momento em que os dois deixam o luxuoso hotel em que Whelan estava hospedado, o mesmo usado pela delegação da Fifa.

“Já tem alerta vermelho na Interpol, já tem alerta na Polícia Federal. Ele é foragido da Justiça. Então não tem outra alternativa para ele, senão ele se entregar”, diz o promotor Marcos Kac.

Um dos donos da Match Services afirma em nota que "as ações contra Whelan não têm base e foram ilegais", mas diz que a Match está colaborando com a polícia na luta da Fifa contra a venda ilegal de ingressos.

Enquanto buscam o inglês, os investigadores iniciam uma nova etapa na Operação Jules Rimet.

“Vamos instaurar agora um novo inquérito, de crime de lavagem de dinheiro, para identificar o destino desse dinheiro obtido de forma ilícita pela quadrilha”, afirma o delegado Fábio Barucke.

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