JORNAL DO COMERCIO 27/05/2014
Uma cidade que merece ser reconquistada
Apenas um porto-alegrense pode representar a toda a cidade, ou não. É o que veremos quando da chegada de milhares de visitantes à Capital, embora a sistemática divulgação de violência no Brasil pela imprensa estrangeira. Talvez exagerada, porém, em cima de fatos verdadeiros. Foi anunciado que 25% das reservas de torcedores foram canceladas, o que entristece. Afinal, tivemos problemas bem antes da Copa. Após o evento, eles continuarão existindo. Da mesma forma que o torneio não nos resolveu nada antes, depois dele caberá a todos nós tratar de endireitar a cidade, o Estado e o País. Existe um paradoxo atualmente em nossa cidade, como, de resto, em quase todas as capitais do Brasil: quanto mais se fala em inclusão social, mais alguns indicadores de crimes aumentam; e de variados tipos, geralmente envolvendo drogas e hoje atingindo a todos os estratos sociais. O prefeito José Fortunati apelou para que o negativismo acabe antes do início da Copa em Porto Alegre. Os porto-alegrenses talvez não avaliem bem as belezas e os prazeres que a Capital nos proporciona, senão quando, às vezes, os perdemos. É que somos mais exatos em calcular os desgostos que a cidade nos apresenta do que apreciar o que ela tem de bom. O ex-jogador Ronaldo disse sentir vergonha pelos atrasos nas obras. E nós? Sentiremos vergonha pelo visual de Porto Alegre que mostraremos aos visitantes em poucos dias?
Arquitetos e urbanistas têm alertado para o desprazer de uma vida com uso individual do automóvel, entupindo ruas de veículos, tirando o prazer de uma caminhada despreocupada e aumentando o índice de acidentes. A pichação sistemática de edifícios enfeia prédios públicos e particulares. A falta de educação é uma constante, desde filas e chegando ao neurotizado trânsito. O estresse nos tornou antissociais.
Muitos estão propondo soluções para questões de Porto Alegre e outras grandes cidades. Dentre elas, o transporte público, a flexibilização de espaços e a sustentabilidade. Os corredores de ônibus, obra do então prefeito Guilherme Socias Villela, existem há muitos anos, mas são questionados aqui e ali. Eles podem representar uma agressão às identidades específicas de cada bairro ou setor da cidade, dizem alguns. Um exagero, afinal, os corredores visam a facilitar o transporte coletivo com muito mais qualidade do que atualmente, no modelo Bus Rapid Transit (BRT), na sigla em inglês.
Para alguns técnicos, não basta ter os corredores do ônibus, uma vez que eles são acompanhados de verticalidade - leia-se edifícios - excessiva, o que vai gerar paredões construídos ao lado desses corredores. Claro, com as facilidades – embora os altos preços – oferecidas pela construção civil, não tem como deixar de construir edifícios em zonas que têm o famoso “ônibus na porta”.
Hoje, algumas ruas antes tradicionais e muito frequentadas pelos porto-alegrenses quando não havia tantos automóveis e o atual Centro Histórico era apenas o Centro da cidade, tornaram-se um espaço não praticável. São locais públicos escuros, sem vida, que geram violência. Enfim, Porto Alegre é uma cidade que merece ser reconquistada, ainda que paulatinamente, começando antes de 12 de junho, no início da Copa do Mundo.
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