MOBILIZAÇÃO A VOLTA DOS CARTAZES
MILHARES DE PESSOAS saíram às ruas no país para criticar realização do Mundial. Houve registro de vandalismo e detenções na capital paulista
Uma série de manifestações tomou conta das principais cidades no país ontem, no Dia Mundial de Lutas contra a Copa, batizado de 15M. Ao mesmo tempo em que houve protestos pacíficos, teve violência, com detenções e confrontos. Diversas categorias em greve, como a dos professores municipais em São Paulo e a dos estaduais e municipais no Rio, aproveitaram a situação e encorparam os atos.
Em São Paulo, foram registrados pelo menos nove manifestações ao longo do dia em diferentes partes da cidade. Uma delas, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto pela manhã, ocorreu próximo à Arena Itaquerão, estádio da abertura da Copa no próximo dia 12. Bloqueios parciais nas marginais do Pinheiro e do Tietê complicaram o trânsito. Em alguns pontos, pneus foram queimados, mas não houve incidentes mais graves. O movimento calcula que reuniu 6 mil pessoas.
À noite, atos na Avenida Paulista e no Centro tiveram cenas de tumulto e vandalismo. Vidraças de agências bancárias foram quebradas. A polícia deteve pelo menos 20 manifestantes. Segundo a Polícia Militar, eles tinham martelos e coquetéis molotov.
No Rio de Janeiro, mais de mil pessoas interditaram a Avenida Presidente Vargas, no centro, durante protesto no fim de tarde. Pelo menos 20 pessoas mascaradas, adeptas do movimento black bloc, participaram do protesto. Spray de pimenta chegou a ser usado por PM para dispersar princípio de confusão em frente à Central do Brasil. Um dos principais impactos foi sentido no trânsito, que apresentou lentidão.
Manifestações também foram registradas em Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE). Na capital mineira, predominaram faixas críticas aos gastos do torneio e demandas relacionadas ao transporte público. Com a decisão da Justiça, o reajuste das passagens de ônibus, que estava suspenso por liminar, entrou em vigor em Belo Horizonte.
Na capital do Ceará, houve confronto entre policiais e manifestantes. Um grupo de encapuzados começou o quebra-quebra. O comércio fechou as portas e a vitrine de uma loja de confecção foi destruída. Foram usadas balas de borracha para dispersar as pessoas.
“Não tem protesto que nos assuste”, diz ministro
Em reação às manifestações no país, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, disse ontem que os protestos em diversas cidades não assustam o governo.
– Não tem protesto que nos assuste. O que nos preocupa é o uso de métodos antidemocráticos, métodos da violência, seja por da parte da polícia, seja dos manifestantes – afirmou o ministro.
Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff fez um apelo à alma hospitaleira do brasileiro na Copa e comentou que seu governo não “nega conflitos”:
– Temos de conviver com eles.
EM PORTO ALEGRE, ATO DEPOIS DA CHUVA
Marcada para as 18h em frente à prefeitura de Porto Alegre, a manifestação organizada pelo Bloco de Luta pelo Transporte Público e pelo Comitê Popular da Copa começou por volta das 18h45min, depois que a chuva deu uma trégua. O grupo de cerca de 150 pessoas seguiu em caminhada pela Avenida Borges de Medeiros. Durante a marcha, alguns participantes carregaram cartazes contra a realização do Mundial e em favor de uma greve geral. No caminho, houve o registro de pichações de contêineres, praticadas por pessoas que encobriam o rosto.
Mais cedo, por volta das 17h, o Cpers e outros sindicatos também realizaram um protesto na Esquina Democrática. Parte do grupo se uniu à manifestação, que partiu de frente da prefeitura.
Arrastões, saques, assaltos e clima de medo em Recife
No terceiro dia de greve dos bombeiros e policiais militares de Pernambuco, a região metropolitana de Recife viveu um dia de saques e pânico. O cenário de arrombamentos e arrastões teve início na noite de terça-feira no município de Abreu e Lima, cujo comércio se tornou alvo de vândalos. Pessoas carregavam geladeiras, fogões, televisores e computadores pelas ruas, sem impedimento.
Ontem à noite, o Tribunal de Justiça de Pernambuco decretou a ilegalidade da greve e determinou o imediato retorno ao trabalho sob pena de multa diária de R$ 100 mil às associações da categoria. Em seguida, os policiais militares e os bombeiros encerraram a greve.
Antes, pela manhã, o caos ainda marcava a cidade. No bairro de Caetés, naquele município, mercadinhos foram invadidos por populares – incluindo crianças –, que levaram mercadorias usando até carrinhos de mão. A insegurança se espalhou na mesma rapidez com que as experiências de medo eram trocadas via redes sociais, criando um clima de caos e pânico que levou a região metropolitana a parar.
Comércio, escritórios, instituições públicas, universidades, escolas do Recife, Olinda e região metropolitana fecharam as portas diante do pavor instalado. À tarde, já não havia movimento nas ruas, desertas. Shows foram cancelados, sessões de cinema, suspensas e jogos de futebol, adiados.
Praticamente cada pessoa tinha uma história de assalto, arrastão ou violência para contar. Os casos eram relatados mesmo depois que os tanques do Exército começaram a ganhar as ruas, assumindo o policiamento ostensivo. O governador João Lyra Neto (PSB) pediu a presença da Força Nacional de Segurança. Pelo menos 140 pessoas foram detidas, de acordo com a Polícia Civil. Um projeto de cargos e carreiras para a categoria e de incorporação do risco de vida ao salário deverá ser votado até 30 de julho, segundo acordo com o governo.
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