sábado, 31 de maio de 2014

RODOVIÁRIA DA CAPITAL É ALVO DE OPERAÇÃO PARA A COPA

CORREIO DO POVO 30/05/2014 13:21

Denarc usou cães farejadores na revista de ônibus




Rodoviária da Capital é alvo de operação para Copa
Crédito: Denarc / Divulgação / CP


O 3º Departamento de Investigação do Narcotráfico (DIN) do Denarc realizou na manhã desta sexta-feira uma operação contra o tráfico de drogas na Estação Rodoviária de Porto Alegre. A ofensiva faz parte de uma série de ações que devem ocorrer durante a realização da Copa do Mundo. Hoje, a Polícia Civil usou três cães farejadores em um ônibus que chegou à Capital de Foz do Iguaçu, no Paraná.

De acordo com o titular do 3º DIN do Denarc, delegado Rafael Pereira, a operação buscava cocaína e maconha no coletivo que vinha do território paranaense. "Ainda que a gente não tenha encontrado nada nesta primeira operação, é importante salientar que a ofensiva serve como prevenção ao tráfico de drogas em Porto Alegre. A nossa ideia é evitar a chegada de entorpecentes porque nós sabemos que a demanda pode aumentar com o ingresso de turistas na cidade", explicou em entrevista ao site do Correio do Povo.

Pereira comentou que a Polícia Civil não pode fornecer informações sobre datas e quais são os destinos que serão investigados para surpreender os traficantes. "Queremos realizar estas operações de maneira paliativa, com calma, para causar surpresa em quem comercializa drogas e usa os ônibus para transportá-las", disse.

O delegado afirmou que, por conta da operação que realiza um cerco nas fronteiras do Estado durante a Copa do Mundo, muitos traficantes evitam o envio de caminhões com grande quantidade de drogas. "Eles acabam optando por transportar o material em carros ou em quantidades menores em ônibus. Além de drogas, procuramos também medicamentos contrabandeados, esteróides e anabolizantes", observou Pereira.

A Polícia Civil deve observar de perto as festas que ocorrerão durante o período da Copa do Mundo. "Eventos como a Fan Fest e outros tipos festas serão acompanhadas pelos policiais. A chance de entrada de drogas sintéticas e de entorpecentes de alta classe existe e precisamos evitar que isso aconteça", concluiu.

COMANDOS DE SEGURANÇA SERÃO LEGADOS


Cardozo diz que centros de comando de segurança para a Copa serão legado para o país. Para o ministro, polícias passarão a ser integradas e segurança pública terá ‘um novo patamar’

O GLOBO
Atualizado:30/05/14 - 18h43


Givaldo Barbosa / Arquivo O Globo 23/05


BRASÍLIA - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, listou como um legado deixado pela Copa do Mundo ao país os Centros Integrados de Comando e Controle dos estados. Segundo afirmou o ministro nesta sexta-feira, esses centros vão permitir, mesmo depois do mundial, a integração das polícias.

- Se alguém tem alguma dúvida de que a Copa do Mundo deixará aos brasileiros algum resultado, basta ver os Centros Integrados de Comando e Controle. Nunca tivemos integração entre as polícias. Nunca tivemos ações em que todos juntos participassem de um processo decisório, e a Copa do Mundo está permitindo a condição pra isso – disse o ministro, durante videoconferência com o governador do Ceará, Cid Gomes, para inaugurar o centro regional de Fortaleza.

Para Cardozo, os investimentos do governo federal para esses centros, que chegam a R$ 1,9 bilhão, vão levar a segurança pública do país a “um novo patamar”.



- Após o Mundial de futebol, esse sistema de monitoramento continuará funcionando e garantindo a segurança pública - avalia Cardozo.

A videoconferência serviu de teste para a integração dos centros instalados nas 12 cidades-sede do Mundial. As imagens são geradas nas cidades-sede e compartilhadas com os Centros Integrados de Comando e Controle Nacional (CICCN), que ficam em Brasília e no Rio de Janeiro.

O centro regional de Fortaleza – que atuará no mesmo modelo de outros centros regionais já inaugurados - vai funcionar 24 horas, para interligar os serviços de emergência da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, Polícias Federal e Rodoviária Federal, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e outros órgãos de segurança e trânsito das esferas federal e estadual. O objetivo é dar rapidez às decisões.

Os investimentos no centro de Fortaleza somam R$ 31 milhões, resultado de parceria do governo federal com o estadual.

NO RIO, PM TERÁ MAIS 1.600 SOLDADOS NAS RUAS


PM terá mais 1.600 soldados nas ruas a partir desta segunda-feira. Nesta sexta-feira, demonstração do policiamento que será empregado na Copa foi realizada no Aterro

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
O GLOBO
Atualizado:30/05/14 - 22h16

Com Pão de Açúcar ao fundo, PM faz demonstração de ações para segurança da CopaPablo Jacob / Agência O Globo


RIO - A partir de segunda-feira, mais 1.600 soldados recém-formados da Polícia Militar vão reforçar o patrulhamento ostensivo nas ruas do Rio, com a supervisão de oficiais. O efetivo faz parte da estratégia de aumentar o policiamento da cidade durante a Copa. As autoridades de segurança ainda estão discutindo como será a distribuição de mais de cinco mil soldados das Forças Armadas para prestar apoio ao evento. Mas já se sabe que, no domingo, soldados participarão da equipe responsável pelo deslocamento da seleção, que sairá da Granja Comary, em Teresópolis, para um amistoso em Goiânia, onde o Brasil jogará contra o Panamá, na terça-feira.


A presença mais ostensiva do Exército na proteção de todas as delegações nos 15 estados onde houver jogos ou seleções hospedadas foi determinada na última segunda-feira, pela presidente Dilma Rousseff. Falhas na segurança permitiram que professores em greve se aproximassem do ônibus onde estavam os atletas brasileiros quando deixavam um hotel próximo ao Aeroporto Tom Jobim, rumo à concentração em Teresópolis. O coordenador do Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR), delegado federal Anderson Bichara, responsável pelas ações de segurança na Copa no Rio, no entanto, minimizou o incidente e negou, nesta sexta-feira, ter havido qualquer erro de avaliação.



— Havia um delegado que servia como agente de ligação com a Polícia Federal dentro do ônibus, informando o que estava acontecendo. A partir das informações que tínhamos desse delegado e de outros agentes da Polícia Federal presentes no local, sabíamos que se tratava de uma manifestação pacífica. Além disso, mesmo naquele dia, já havia batedores militares atuando. A leitura que fizemos é que não havia perigo — disse Bichara.

Em relação às manifestações de rua, o subsecretário extraordinário de Grandes Eventos da Secretaria de Segurança Pública, Roberto Alzir, afirmou que os protestos estão liberados, mas com limites.

— Se for necessário, lançaremos mão do uso progressivo da força. Não está descartado, inclusive, o emprego de balas de borracha como último recurso. Mas manifestações envolvem variáveis. Interdições no trânsito até podem vir a ocorrer. O que não podemos permitir são aquelas que atrasem o evento — explicou Alzir.

Bichara também fez um balanço das ações do CICCR durante a semana. Ao todo, foram 12 varreduras de locais estratégicos, 17 escoltas e reconhecimentos de rotas, seis ações de controle de trânsito, 11 atividades de policiamento ostensivo, entre outras missões.

Demonstração no Aterro

Nesta sexta-feira, a Polícia Militar fez uma demonstração do policiamento que será empregado na segurança do estado, durante a Copa do Mundo. Com o Pão de Açúcar ao fundo, a PM apresentou, no Aterro do Flamengo, parte da equipe que trabalhará no evento, além de cães, cavalos, helicópteros, quadriciclos, lanchas, bicicletas e outros veículos. Cerca de 70 policiais participaram do evento.

SERVIDORES SÃO PROIBIDOS DE RECEBER INGRESSOS. MINISTROS E ASSESSORES PODEM


CGU vai publicar norma que proíbe servidores federais de receber ingressos para a Copa. Ministros e assessores especiais ficam de fora da proibição. Distribuição de ingressos pelos órgãos aos servidores é permitida

FLÁVIA PIERRY 
O GLOBO
Atualizado:30/05/14 - 20h17



BRASÍLIA – A Controladoria-Geral da União (CGU) quer deixar claro que servidores públicos não podem aceitar ingressos para jogos da Copa do Mundo ou eventos relacionados ao mundial. O órgão vai publicar na segunda-feira, no “Diário Oficial”, uma orientação normativa sobre o assunto. Além de ingressos, os servidores terão de recusar transporte ou hospedagem que tenham qualquer relação com o evento.

Mas ministros e assessores especiais ficam livres dessas regras. Esses cargos de hierarquia mais alta na administração pública não são alcançados pela norma da CGU e desvios de conduta nessa esfera são avaliados pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República.

O objetivo da norma é “evitar situações de conflito de interesses envolvendo a Administração Pública Federal”, de acordo com o órgão. Porém, alguns casos ficam fora da norma, que proíbe que os servidores recebam os ingressos diretamente de empresas ou entidades, mas permite que eles recebam os convites caso sejam distribuídos pelos órgãos em que trabalham, por exemplo, ou ainda se o servidor estiver em um desses eventos representando esse órgão.

Órgãos podem comprar e distribuir ingressos a seus servidores

Os ingressos dados à administração pública pela FIFA, pelo Comitê Organizador Brasileiro (COL) ou pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) poderão ser distribuídos a servidores públicos pelos próprios órgãos. Segundo a CGU, os servidores não poderão receber ingressos diretamente de empresas ou entidades.

Estatais que estejam envolvidas com os jogos também poderão distribuir ingressos a funcionários, se eles estiverem participando do evento para representar o órgão ou se sua presença no evento “atenda a razões de interesse público”. Porém, nesses casos, o órgão deverá aprovar o recebimento do ingresso e a origem dos ingressos deverá ser informada.

Além disso, a CGU explica que casos em que estatais ou órgãos públicos comprem os ingressos para distribuir a servidores estão fora da proibição. A compra desses ingressos será analisada pelos órgãos de controle da mesma forma que outros gastos são auditados.

Ingressos comprados e presenteados por parentes ou amigos aos servidores poderão ser aceitos, além de convites obtidos em promoções e sorteios.

O descumprimento dessas regras poderá acarretar punições. A norma define que os órgãos públicos devem divulgar essas regras aos servidores e apurar casos de desvio se houver indícios.

O recebimento de presentes ou benefícios por funcionários públicos já é limitado pela Lei 12.813, de 16 de maio de 2013. A regra diz que é proibido aos servidores “receber presente de quem tenha interesse em decisão do agente público ou de colegiado do qual este participe fora dos limites e condições estabelecidos em regulamento”. Porém, a instrução editada pelo CGU deixa claro que ingressos para jogos se enquadram nessa regra.

MÁSCARA NÃO SERÁ PROIBIDA

ZERO HORA 31 de maio de 2014 | N° 17814


ADRIANO DE CARVALHO


ENTREVISTA

TENENTE-CORONEL ANDRÉ CÓRDOVA. Subcomandante do Batalhão Copa

“Não vai ser proibido que se caminhe com máscara”



Torcedores com máscaras não serão barrados pela Brigada Militar no perímetro de restrição da Fifa ao redor do Beira-Rio. A polícia fará monitoramento, mas só irá intervir em caso de conduta ilegal ou comportamento suspeito. Em entrevista a ZH, o subcomandante do Batalhão Copa, tenente-coronel André Córdova, detalha as ações da BM.

Como funcionará a área de bloqueio no entorno do Beira-Rio?

Só poderão transitar veículos cadastrados pela prefeitura. Haverá postos de verificação nas vias bloqueadas para a checagem das credenciais de acesso. Se o veículo apresentar alguma característica suspeita ou estiver em uma lista de furto ou roubo, há como identificar a placa na hora.

Como será a verificação?

O veículo entra no posto e há um agente da Fifa, que checa a credencial no vidro. Se estiver conforme o padrão, o acesso será liberado. A Brigada fará a segurança com sete ou oito policiais e uma viatura em cada posto. Caso o motorista não seja liberado e tente forçar o acesso, vamos abordar e deter para averiguação.

Será feita revista aos pedestres na zona de restrição?

Caso esteja com bermuda e camiseta, por exemplo, nenhum problema. Será monitorado, mas não parado. Só será vistoriado quem tiver comportamento suspeito. Aí, teremos de checar identidade, se mora ou trabalha na área. Não queremos constranger, e sim proteger a população.

O que seria um comportamento suspeito?

Andar com mochila ou mala. Isto levaria a uma verificação em razão do histórico de problemas que tivemos no ano passado durante as manifestações. As pessoas podem carregar pedras, pedaço de ferro. O que também pode ser suspeito é um volume na cintura que possa parecer uma arma, ou artefato que possa ser usado contra as pessoas.

Quem estiver mascarado será barrado no perímetro?

Não vai ser proibido que se caminhe com máscara, não tem lei que proíba. Vamos acompanhar, se for o caso, até o portão do estádio, através do sistema de câmeras e rádio. Essa pessoa vai atrair os olhares, mas não quer dizer que será barrada. Vai depender da conduta. É claro que aquelas máscaras usadas em manifestações para se ocultar, produzir estragos, entram no rol de suspeito intuído. Se quebrar um vidro, pichar, na hora a polícia irá autuar.

Será possível estacionar veículos em uma via bloqueada?

É proibido. Você pode morar ali e ser coagido a levar seu carro cheio de explosivos, por exemplo. Neste período de bloqueio, a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) recolherá o carro. Claro que haverá bom-senso a cada caso.

Moro na área bloqueada, mas não me cadastrei e estou sem credencial. O que faço?

Seu veículo não entrará no perímetro sem credencial de acesso.

Prestadores de serviço poderão circular na área?

Também necessitam de cadastro junto à prefeitura.

Como será a estratégia em caso de manifestações?

Nossa ideia é evitar o contato físico. Dispersar sem encostar, que é o que fizemos desde o ano passado, com sucesso, na minha opinião. O fato de não ter contato físico minimiza a possibilidade de lesões ao manifestante e ao policiamento. O emprego do agente químico (gás lacrimogêneo), gera atuação psicológica e orgânica, fazendo com que a pessoa se atordoe e busque a dispersão.

Há preocupação especial com torcedores argentinos?

Para nós, são turistas. Caso se portem como pessoas com intuito depredatório, terão resposta proporcional do Estado. É uma torcida que costumeiramente vem a Porto Alegre e não tem muito problema. Existiram conflitos pontuais (como antes do jogo entre Grêmio x Newell’s neste ano, na Arena). Mas o histórico de convivência com a torcida argentina é muito bom.

BARRABRAVAS VIGIADOS

ZERO HORA 31 de maio de 2014 | N° 17814


PEDRO MOREIRA

DE OLHO NA TORCIDA

POLÍCIA OUVIU LÍDER de organizada do Inter que preparava logística para hospedar integrantes de uma associação argentina conhecida por atos violentos no país vizinho



Arepercussão de entrevistas sobre a recepção a barrabravas em Sapucaia do Sul fez com que o número estimado de torcedores argentinos hospedados na cidade da Região Metropolitana caísse, em menos de uma semana, de 500 para 150. Líder da Guarda Popular, Gilberto Bittencourt Viégas, 28 anos, afirmou que o proprietário do ginásio onde ficaria abrigada boa parte dos hinchas desistiu de um acordo verbal para a locação do espaço.

– Os donos acharam que ia acabar denegrindo a imagem deles pela má repercussão na mídia – disse o líder da organizada colorada, em entrevista a ZH.

Agora, Giba do Trem, como é conhecido, sustenta que os hinchas ficarão em casas de colorados nas proximidades. Serão apenas torcedores do Independiente, que mantêm parceria com a Popular. Inicialmente, um acordo com a Hinchadas Unidas Argentinas (HUA), associação de torcidas – a qual a barra do Independiente pertence –, conhecida por atos violentos e ligação com políticos no país vizinho, previa a vinda de até 500 pessoas para acompanhar Nigéria x Argentina, em 25 de junho.

– Disse a eles que não tinha como abrigar essas pessoas todas, pois me tiraram os meios de logística. Era o mínimo que eu podia fazer até para eles não virem para cá e eu não ter disponibilidade de ajudá-los – disse Viégas.

Em reportagem publicada na quinta-feira, ZH revelou que autoridades de segurança temem a infiltração de hinchas argentinos em meio a manifestações contra o Mundial em Porto Alegre. O líder da torcida colorada prestou depoimento na tarde de ontem na 1ª Delegacia da Polícia Civil de Sapucaia.

– Pode haver barrabravas aqui? Pode. Mas ficarão em casas de torcedores. Agora, os órgãos de segurança vão investigar quem são esses torcedores – disse o delegado Daniel Ordahi, ressaltando que as autoridades de segurança monitoram a situação.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

VAI TER UMA GRANDE COPA....APESAR DE TODOS OS PROBLEMAS

REVISTA ISTO É  Edição: 2323 | 30.Mai.14


# Vai ter uma grande copa...apesar de todos os problemas. Mesmo com as obras inacabadas, dinheiro público jogado fora e a violência dos protestos, os brasileiros estão prestes a desfrutar de um período histórico: o melhor campeonato de futebol em décadas


Amauri Segalla


Na semana passada, quem esteve na Granja Comary, em Teresópolis, local de treinos da Seleção Brasileira de Futebol, observou um espetáculo que se repete quase todos os dias. Nas primeiras horas da manhã, uma densa neblina cinzenta encobre o lugar, mas pouco depois ela é substituída por um sol luminoso. Não poderia haver imagem mais precisa para descrever as contradições da Copa do Mundo no Brasil. A Copa da incompetência, das obras prometidas e não entregues, dos protestos violentos e do oportunismo das greves está envolta por uma espessa camada de sombras, como se nuvens escuras anunciassem uma tempestade que se aproxima. Mas há uma outra Copa também, tão radiante quanto os dias ensolarados de Teresópolis, e que poderá ser conhecida e reverenciada nos pés hábeis de craques como Neymar e dos jogadores brasileiros concentrados na Granja Comary. Sim, vai ter Copa, mas não uma só. Uma escancara, para o mundo inteiro ver, as profundas mazelas nacionais. A outra será um torneio extraordinário de futebol, provavelmente o melhor em décadas, marcado por talentos excepcionais, rivalidades à flor da pele, embates para entrar na história.


ÍDOLO
Neymar na saída de um amistoso do Brasil:
o que ele tem a ver com o dinheiro público desperdiçado?

As duas faces da Copa são expostas todos os dias – e certamente cada vez mais, até o apito final da competição. Na terça-feira 27, durante um protesto contra o Mundial, um índio disparou uma flecha em direção a um grupo de policiais que acompanhava o ato em Brasília. O artefato atingiu a perna de um soldado, ferindo-o. Na mesma terça, o lateral-esquerdo Marcelo, o último jogador que faltava para completar o grupo dos 23 convocados, se apresentou na Granja Comary. A flechada e o sorriso farto de Marcelo ao se encontrar com o técnico Luiz Felipe Scolari são exemplos acabados do que está por vir. De um lado, confrontos que produzem vítimas. De outro, a festa do futebol.


PROTESTO
Índio dispara flecha contra policiais diante do Estádio Mané Garrincha,
em Brasília. Abaixo, o soldado atingido



Por que, afinal, tantas pessoas amam odiar a Copa no Brasil? Desde as legítimas manifestações que começaram em junho do ano passado, construiu-se a imagem de que o Mundial é responsável pelas desgraças da nação. Essa percepção está correta? Talvez ela seja resultado de uma mentira contada a partir de 2007, quando o Brasil foi escolhido sede da Copa. Autoridades de governos, integrantes notáveis do Comitê Organizador Local (COL) e a própria imprensa disseram, ou pelo menos insinuaram, que o torneio de futebol seria o antídoto para todos os males nacionais. Teríamos, enfim, aeroportos reluzentes, estradas seguras, metrôs confortáveis, segurança pública eficiente. Quase nada disso virou realidade. Pior ainda: ao desapontamento juntaram-se denúncias de corrupção e muito dinheiro jogado na lata do lixo. O resultado é conhecido. Hoje em dia, um contingente enorme de brasileiros associa imediatamente Copa a roubalheira, futebol a ineficiência, Fifa a abusos. Daí a possibilidade de amplos protestos durante a Copa. Para contê-los, o governo federal aposta na militarização das ruas, com tanques do Exército e policiais da Força Nacional de Segurança.


FESTA
Ruas decoradas em Natal: por que não admitir que a
Copa é bacana para um País como o Brasil?

A Copa será realizada num momento em que o Brasil dá motivos para o descontentamento. Basta dar uma olhada em alguns indicadores para conhecer o alto grau de incivilidade a que nos submetemos diariamente. Na semana passada, saíram os resultados do “Mapa da Violência”, estudo anual que detalha as mortes por causas extremas. O Brasil retrocedeu mais de três décadas, atingindo a maior taxa de homicídios de que se tem registro desde 1980. Isso depois de incontáveis anún­cios de políticas de segurança e após vultosos investimentos financeiros. Só os brasileiros sabem como tem sido difícil admirar o País. O transporte público é horrível. A economia não anda. Hospitais matam em vez de salvar. Falta água. Tudo é caro. São flagelos demais para uma nação inteira ignorar. “A população nas ruas é uma indicação de que os canais existentes para exercer a cidadania não são suficientes”, diz Gustavo Azenha, diretor do centro de estudos brasileiros da Columbia University.


FORÇAS NAS RUAS
Tropa do Exército na base aérea de Salvador (abaixo) e treinamento
de policiais em Brasília: atentos às manifestações



E o futebol, como fica nessa história? Reconheça-se que fizemos quase tudo errado, mas por que não admitir que é bacana demais uma Copa do Mundo no Brasil? Por que não separar os problemas da nação de algo totalmente diferente – as jogadas geniais, os dribles desconcertantes, os gols sensacionais? O que Neymar tem a ver com o dinheiro público despejado vergonhosamente nos estádios? Ou Messi? Ou Cristiano Ronaldo? Os três são as maiores estrelas do torneio e certamente entrarão para a história como figuras gigantescas do futebol. Por que não desfrutar, neste momento único, do que elas têm para oferecer? Dentro dos gramados, a Copa do Brasil vai reunir, como poucas vezes se viu, uma constelação de craques no auge da forma, seleções que são verdadeiros esquadrões e tudo isso sob os olhos de uma torcida que sabe celebrar como ninguém. “Como o Brasil é o País mais festejado do mundo do futebol, cria-se a expectativa de ser uma Copa inesquecível”, diz Tostão, titular da Seleção tricampeã em 1970 e hoje um analista reconhecidamente independente.



Mesmo fora do universo do futebol, a Copa não deixará apenas legados nefastos. Há algo de positivo também. No turismo, espera-se a chegada de 600 mil visitantes, mas esse não é o único ponto favorável. “Com a Copa, o Brasil vai economizar na propaganda dos destinos, o que normalmente tem um custo enorme”, diz Elzário Pereira da Silva Júnior, presidente da Associação Brasileira de Profissionais do Turismo. “O Mundial será benéfico para o turismo do País inclusive depois de acabar.” Em termos de infraestrutura, a Copa acelerou obras importantes. É um absurdo as reformas dos aeroportos não terem terminado a tempo, mas elas pelo menos estão em andamento. Sem a Copa, as autoridades teriam disposição política para começá-las? Muitas obras de mobilidade urbana também saíram do papel graças ao torneio de futebol. No Rio, o corredor expresso Transcarioca, que liga a Barra ao Aeroporto do Galeão, terá 20 de suas 45 estações funcionando durante os jogos, e as demais devem ficar prontas até o final do ano. Em Itaquera, onde se dará a partida inaugural, as obras viárias do entorno do estádio devem melhor a vida dos moradores do bairro periférico de São Paulo. A Copa trará nuvens pesadas para os céus brasileiros, mas o sol brilhará também.

Com reportagem de Camila Brandalise
Fotos: Sérgio Lima/Folhapress, Bruno Kelly/Reuters; Luciano da Matta/A Tarde/Ag. O Globo; Andre Borges/ComCopa

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O QUE TINHA QUE SER GASTO, ROUBADO, JÁ FOI


BLOG DO Juca Kfouri 27/05/2014 10:00


Texto publicado no Instagram de Joana Havelange, diretora do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo no Brasil:




Atualização às 14h30: Joana Havelange tirou a nota de seu instagram.

Parece tarde…

Nova atualização às 16h30: a revolta no COL é grande porque todos os seus funcionários são proibidos de usar as redes sociais para quaisquer comentários relativos à Copa do Mundo, justamente para evitar situações como a acima.

APÓS FALHA NO RIO, EXÉRCITO ASSUME SEGURANÇA DE AEROPORTOS, HOTÉIS E DESLOCAMENTOS


Apoio extra na Copa foi acertado na reunião terça-feira no Rio com o ministro da Justiça e o coordenador de ações de defesa da Copa

JAILTON DE CARVALHO
BRUNO DALVI (ESPECIAL PARA O GLOBO)
Atualizado:29/05/14 - 10h29


O primeiro contingente de militares que vai atuar na Copa já chegou a Salvador: tropa estará nas 12 cidades-sede e nos 15 estados que vão abrigar os centros de treinamentos das seleções estrangeiras Luciano da Matta/A Tarde


BRASÍLIA E VITÓRIA - Um dia após a presidente Dilma Rousseff reclamar das falhas na proteção do ônibus usado para transportar jogadores da seleção brasileira, o governo federal decidiu que as tropas do Exército assumirão a responsabilidade pela segurança dos aeroportos, dos hotéis e das ruas por onde deverão circular delegações com as equipes estrangeiras, representantes de governos estrangeiros e dos dois principais dirigentes da Fifa. O apoio extra dos militares no período da Copa do Mundo foi acertado na reunião de anteontem, no Rio, entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o coordenador de ações de defesa da Copa, general José Carlos De Nari, e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. O secretário extraordinário de Grandes Eventos, Andrei Passos Rodrigues, também participou do encontro.

A intervenção do Exército foi acertada a partir de uma sugestão da presidente. Pelo que ficou acertado, as tropas militares deverão marcar forte presença nas 12 cidades-sede e nos 15 estados que abrigam centros de treinamentos das seleções estrangeiras. A ideia é evitar brechas que exponham a risco ou a constrangimentos atletas e e representantes das delegações.

— Essa é a contribuição da presidenta aos estados — disse ao GLOBO uma das autoridades que participou das negociações.

A cúpula da segurança na Copa reafirmou também a importância da interação entre as autoridades federais e estaduais em cada um dos estados por onde passarão as delegações estrangeiras. Pelo acerto, generais, secretários de Segurança e superintendentes da Polícia Federal de cada estado deverão estar em permanente contato para facilitar deliberações, especialmente sobre o uso em larga escala de tropas militares. Essas autoridades civis e militares formarão grupos para resolver questões em tempo real e problemas complexos que necessitem do apoio das diversas estruturas de poder.

O governo federal decidiu mudar o desenho da segurança da Copa e atribuir papel mais abrangente aos militares um dia após o cerco do ônibus da seleção brasileira, no Rio, por professores que estão em campanha por reajuste salarial. A presidente não gostou de ver as imagens em que manifestantes se aproximaram com facilidade do ônibus e determinou a Cardozo e a De Nardi que viessem ao Rio para corrigir eventuais falhas.

O aumento das tropas já vinha sendo pensado como uma alternativa desde o ano passado, quando surgiram as primeiras ameaças de greve de agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal.

O Departamento de Comunicação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informou que, desde a primeira reunião sobre a segurança da Copa do Mundo, foi definido que os batedores usados nos deslocamentos da seleção seriam da Polícia Federal. No entanto, a entidade disse não fazer distinção sobre o uniforme a ser usado e informou que a mudança não afetará a rotina da seleção brasileira.

Segundo a assessoria da CBF, dentro da Granja Comary, em Teresópolis, o controle é feito por 30 seguranças particulares contratados pela entidade. A entidade lembrou ainda que na apresentação da seleção brasileira, na última segunda-feira, a equipe se deslocou do Rio de Janeiro para Teresópolis, num percurso de cerca de 90 quilômetros, escoltada por batedores e um helicóptero da Polícia Federal.

No Espírito Santo, esquema já em ação

No Espírito Santo, o Exército vai atuar na defesa da seleção da Austrália, que chegou ontem à noite e ficará hospedada no estado durante a Copa. Ontem, 120 militares foram distribuídos em pontos estratégicos de Vitória por onde a delegação passou, segundo o secretário estadual de segurança pública André Garcia. O Exército também enviou nove homens exclusivamente para acompanhar o comboio das delegações que ficarão em território capixaba. A equipe conta com um veículo e oito motos.

Outros 24 militares do Exército já fizeram revistas antiterroristas no Aeroporto de Vitória, hotéis, centros de treinamentos e outros locais da Região Metropolitana que serão frequentados pelas delegações de Austrália e Camarões. A delegação da Austrália ficará hospedada no Hotel Ilha do Boi e treinará no Estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. A delegação de Camarões ficará hospedada no Hotel Sheraton, na Praia do Canto, em Vitória, e treinará no Estádio Kleber Andrade, também em Cariacica. Os camaroneses chegarão no próximo dia 7.

UMA GREVE SELVAGEM E SEUS MISTÉRIOS


 O Estado de S.Paulo 28 de maio de 2014 | 2h 09


*Oliveiros S. Ferreira



Os últimos fatos nos permitem reflexões pouco agradáveis. No Rio de Janeiro e em São Paulo, assistimos a greves que uma autoridade definiu como "greves selvagens" - wild cat strikes, como eram chamadas nos Estados Unidos. A greve selvagem é aquela feita não apenas contra o patrão, mas também contra o sindicato da categoria, já que os trabalhadores que param o trabalho não obedecem mais à direção sindical.

Selvagem ou não, uma greve tem sempre um objetivo e um inimigo. Os grevistas pretendem conseguir melhores salários e condições de trabalho. Tornando-se um instrumento de luta da classe operária, o objetivo (podemos dizer a necessidade) era sempre salário e o inimigo era sempre o mesmo - o patrão. Se a população viesse a sentir falta de algo que pelos grevistas era produzido, isso não seria importante, seria problema menor, pois a greve não duraria o suficiente para que os "civis" contra eles se voltassem. As coisas mudaram de figura quando as greves afetaram setores essenciais à vida da cidade ou feriram os interesses do Estado. Neste último caso, um caráter insurrecional poderia ser-lhe atribuído. Sorel pensou na greve geral como "mito" para fazer a revolução.

No Rio e em São Paulo, os prejudicados foram menos os patrões do que a população. Em São Paulo (no Rio deve ter acontecido o mesmo), os "civis" faltaram ao trabalho, dormiram na rua, arriscaram-se a tudo. O prefeito Fernando Haddad, experimentando sabor amargo, teve reação emocional: "Sabotagem! Guerrilha!". Academicamente, tomemos suas palavras como base de nossa reflexão.

Comentando a greve geral inglesa de 1926, Haya de la Torre fez importante observação que serve aos estudiosos e às autoridades: "O significativo não é que 3 milhões de trabalhadores tenham parado, mas, sim, 3 milhões de trabalhadores em greve tenham voltado ao trabalho. Isso se chama organização!".

Cansamos de ver na TV um comandante fazer a tropa de assalto acertar os relógios para que a operação seja coordenada. A tropa, presume-se, terá sido treinada a obedecer e agir ordenadamente. Vejamos, então, São Paulo. Os ônibus saem das garagens e, logo em seguida, praticamente todos ao mesmo tempo, de maneira ordenada, param nas ruas. Há, portanto, uma organização por trás de todo esse movimento grevista, que pouco se incomoda com o sofrimento da população ou com sua reação. A grande "parada" foi na terça-feira. Na quarta-feira os ônibus começaram a voltar, enquanto os representantes dos grevistas parlamentavam com os representantes patronais, os da Prefeitura e os dirigentes sindicais (estes por que?). A precisão com que os ônibus pararam e depois voltaram a rodar sem que as reivindicações tivessem sido atendidas permite supor que a "tropa" foi treinada a obedecer e a fazer aquilo que todos sabiam dever ser feito. Ou a operação teria sido uma desordem sem fim.

A observação do prefeito sobre "guerrilha" permite essas considerações pouco tranquilizadoras. Inquietantes, sim, porque os fatos levam à conclusão de que existe uma organização não conhecida, talvez ilegal, que pode parar a cidade ou o País sem que haja reação alguma. Não houve reação e não haverá porque o Estado não está preparado para esse tipo de perturbação da ordem, que deixa a população à mercê não se sabe de quem.

Sabemos qual o objetivo expresso: salário maior do que o que foi conseguido pelo sindicato. Não sabemos, porém, quem é o inimigo que se procura atingir com essa demonstração de força - que poderá voltar a repetir-se em outra oportunidade qualquer - nem qual objetivo principal ou acessório possa ter.

Não custa lembrar a História: logo depois da libertação, a CGT francesa (PC) decretou greve geral para mudar a política de austeridade imposta pela guerra e mudar o governo, se possível. Nada mais! O governo mobilizou os grevistas e o movimento acabou - também porque o Exército obedeceu e a população afetada pela greve concordou. Durante a Guerra da Coreia, uma greve paralisou as ferrovias. Truman aplicou a Lei Taft-Hartley, mobilizou os grevistas, e a greve acabou.

O governo francês e Truman sabiam o que estava em jogo. Nós, não! Sabemos apenas que há uma organização, informal que seja, valendo-se das facilidades das redes sociais (hipótese pouco provável) para... Para quê? Não se trata de derrubar o governo nem de mudar a política econômica. Muito menos desacreditar o governador do Estado. Atingir Haddad e outros prefeitos, que não teriam condições (em tempos normais) de fazer os patrões voltarem atrás, desmoralizando acordo feito dentro da lei e aumentando tarifas em tempo de eleição?

O difícil numa guerra (a "luta de classes" é, no fundo, uma guerra) é conhecer os objetivos reais do inimigo e seus planos de ataque. Sem conhecê-los a derrota é praticamente inevitável. Essa é a questão que Haddad trouxe à discussão quando exclamou "guerrilha!": contra quem lutamos? Ou melhor, contra quem e contra que se coloca a organização que programou e realizou a greve em São Paulo e no Rio?

Ao comentar as manifestações de junho passado e a ação dos black blocs, deixei a mesma pergunta no ar, indo ao extremo de falar numa organização de um só homem, o Dr. Fu Manchu. Exagero literário, sem dúvida. Que não elimina a hipótese de haver uma organização capaz de fazer tumulto na hora que lhe parecer conveniente.

Os espíritos que desejam paz a qualquer preço não a terão, mas talvez gostassem muito de ter uma notícia, amanhã: "Por ato da presidente da República, é decretado o estado de emergência em todo o País para garantir a realização da Copa, estando suspensas as garantias constitucionais constantes do artigo 5 da Carta Magna". Ou nisso talvez estejam apostando os próprios agitadores, que desconhecemos e dos quais ignoramos os objetivos.

*
PROFESSOR DA USP E DA PUC-SP, É MEMBRO DO GABINETE E OFICINA DE LIVRE PENSAMENTO ESTRATÉGICO.

A GARANTIA DA PRESIDENTE


O Estado de S.Paulo 29 de maio de 2014 | 2h 09


EDITORIAL



A presidente Dilma Rousseff desafiou abertamente o movimento "Não vai ter Copa", quase ao mesmo tempo que, na terça-feira, cerca de 2,5 mil índios e sem-teto pararam Brasília para protestar contra a Copa - foram impedidos pela PM de chegar ao Estádio Mané Garrincha, onde a taça está exposta, porque poderiam danificá-la ou dela se apropriar como seu troféu -, e foram dispersados a bombas de gás e de efeito moral, depois de reagir ao bloqueio até com a arma letal do arco e flecha.

Reunida em palácio com empresários de 35 setores da atividade, garantiu: "Não vai ter baderna". Foi a forma que encontrou para advertir os ativistas de que serão reprimidos caso ameacem reproduzir os distúrbios que marcaram a Copa das Confederações, em junho do ano passado. "Aquelas cenas", afirmou, "não vão se repetir." O governo, acrescentou, não permitirá que "encostem um dedo" nas delegações estrangeiras. Na segunda-feira, na ida e na chegada à concentração da Granja Comary, em Teresópolis, o ônibus da seleção foi alvo de protesto. Mas o máximo que os manifestantes fizeram foi colar adesivos no veículo.

Como quem suspeita que possa não ter sido captada em todas as suas implicações a mensagem de que o governo agirá preventivamente em defesa da paz pública e da "imagem do País", Dilma falou de sua disposição de "chamar o Exército". Mais do que isso, informou já ter oferecido a ajuda da Força aos Estados onde se situam as 12 cidades-sede da competição. As tropas serão despachadas assim que os governadores as requisitarem. A presidente deixou claro que, a depender dela, deveriam ir para as ruas, não como última, mas primeira linha de defesa, antes mesmo de qualquer manifestação.

Se é nítida a fronteira entre o exercício da livre expressão e a sua degradação em violências contra o patrimônio público e privado, cuja repressão é dever do Estado - como Dilma está de todo ciente -, há quem diga que o mesmo não se aplica quando o direito democrático de falar o que se queira, ainda que sem agressões ou depredações, interfira no direito da maioria de se dirigir aonde queira acompanhar os jogos, sujeita apenas ao inevitável agravamento dos problemas de circulação provocados pelo próprio evento. (Na reunião com os empresários, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, contou que, na Olimpíada de 2012 em Londres, ficou preso uma hora e meia em um engarrafamento.)

A distinção, no entanto, procede também. Das tantas coisas de que o País ainda não se deu conta sobre os imperativos da prática democrática, está a de que a coesão de uma sociedade pressupõe, entre outros valores, o da prevalência dos interesses legítimos do grande número, ainda que atomizado, sobre os de grupos menores, ainda que organizados. Sobre estes é que deveria recair a responsabilidade de subordinar as suas aparições públicas a favor ou contra seja lá o que for ao direito dos demais - a começar pelo de ir e vir em paz e segurança. Todo ato que o obste, mesmo em defesa de causas presumivelmente justas para a coletividade, é uma forma de violência social. O "Não vai ter Copa" é isso.

O pior é que o movimento que acha que o Brasil tem carências demais para se permitir realizá-la - superestimando toscamente os seus custos efetivos e subestimando os seus benefícios potenciais - está longe de ser o mais nocivo para milhões de moradores das nossas metrópoles. É da lógica das coisas que diversas categorias profissionais, quase sempre do setor público, apostando na vulnerabilidade dos seus interlocutores, tomem carona na Copa para fazer praça de suas reivindicações, infladas, de resto, pelo momento. O resultado é o sequestro das cidades, dia sim, o outro também.

A tal ponto chegou o transtorno que até ontem mais de 300 pessoas haviam assinado uma petição de acadêmicos lançada dias antes na internet pedindo "um basta" às passeatas abusivas, cobrando das autoridades que preservem o direito de ir e vir de todos os cidadãos e denunciando a "escalada antidemocrática das manifestações que não respeitam os direitos elementares" das populações.


O FATOR BARRABRAVA


ZERO HORA 29 de maio de 2014 | N° 17811


PEDRO MOREIRA

ELES VIRÃO. O fator barrabrava

CONHECIDOS POR ATOS violentos, torcedores argentinos são monitorados por autoridades de segurança do Estado e por integrantes da Interpol



Autoridades brasileiras responsáveis pela segurança da Copa do Mundo elencam possíveis ações de barrabravas argentinos em meio a manifestações contra o Mundial como uma das principais preocupações em Porto Alegre. Conhecidos por atos violentos e pelas relações promíscuas com governos e políticos, torcedores ligados à Hinchadas Unidas Argentinas (HUA), uma associação de organizadas do país vizinho, devem vir ao Estado para acompanhar o confronto entre Nigéria e Argentina.

– No meio de uma manifestação, eles podem praticar algum tipo de violência e aproveitar para se infiltrar. Estar ali, naquele momento, praticando aquele tipo de conduta, é um problema. As forças de seguranças se dividem em muitas frentes nesse tipo de ocorrência, o que dificulta – explica o representante da Interpol no Estado, delegado da Polícia Federal Farnei Franco Siqueira.

À frente da hospedagem a um grupo que pode ter entre 300 e 500 hinchas da HUA – entre os quais não estão apoiadores de Boca Juniors e River Plate – em um ginásio e casas de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, estaria o líder da organizada do Inter, Gilberto Bittencourt Viégas, 28 anos. Conhecido como Giba do Trem, ele afirma ter tomado assumido a negociação para trazer os hermanos, tocada até o início do ano pelo ex-comandante da torcida, Hierro Martins. Apesar de adotar um discurso contra a violência, Viégas é conhecido da Justiça gaúcha: foi impedido de entrar em estádios após agredir um guarda municipal em Novo Hamburgo, em setembro de 2013.

Comandante de Policiamento da Capital (CPC) e do Batalhão Copa, o coronel João Diniz Prates Godói relativiza a estadia de argentinos em domínios de Giba:

– Não procuramos ele porque não o temos como liderança constituída para fazer esse tipo de interlocução. Temos consulado, embaixada e estrutura de segurança para dar o melhor atendimento aos turistas, inclusive os que se dizem barrabravas.

Uma dor de cabeça para as autoridades são torcedores violentos sem ingresso para a partida em 25 de junho, que ficariam do lado de fora do Beira-Rio. De acordo com reportagem publicada no jornal argentino Clarín, o delegado Andrei Rodrigues, secretário Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos do governo federal, questionou o Ministério da Segurança local sobre a possibilidade de barra bravas se juntarem aos protestos.

– Não acreditamos que vão participar desses acontecimentos. Estamos conscientizando os argentinos que têm de ir ao Brasil para participar de um espetáculo único. Trabalhamos para que as pessoas se comportem adequadamente no território brasileiro – afirmou, em entrevista a ZH, Darío Ruiz, secretário de Cooperação com os Poderes Judiciais, Ministérios Públicos e Legislaturas, que prevê uma invasão de até 80 mil hermanos no Rio Grande do Sul.

LISTA DE TORCEDORES VIOLENTOS FOI ENTREGUE

Na semana passada, o governo argentino repassou às autoridades brasileiras uma lista com nomes de torcedores que já se envolveram em confusões. Com isso, as polícias poderão agir na Fronteira para evitar o acesso desses hinchas ao país. O secretário Ruíz diz não poder revelar quantos nomes há na lista:

– É para evitar qualquer tipo de representação judicial. Enviamos informações sobre os pontos indicados pelas autoridades, sobre quem tem antecedentes em ações violentas envolvendo o futebol.

A reportagem tentou contato com Andrei Rodrigues durante uma semana, mas não conseguiu falar com o secretário. Até o fechamento desta edição, a assessoria da secretaria não havia respondido os questionamentos encaminhados.


ENTREVISTA

“Nenhum órgão de segurança me procurou”

GILBERTO BITTENCOURT VIÉGAS, 
líder da Guarda Popular


Alegando ser responsável pela hospedagem de torcedores ligados à Hinchadas Unidas Argentinas (HUA) durante a Copa, Giba do Trem diz já haver cerca de 15 hermanos na Região Metropolitana à espera do Mundial.

De onde vem o dinheiro para hospedar os argentinos?

Mobilização da torcida, com venda de materiais, viagens.

Você falou ao jornal argentino Olé que tem envolvimento com políticos locais.

Não falei em nenhum momento que tinha envolvimento político, foi um equívoco da parte deles. Fui aos políticos de Sapucaia para tratar da locação de alguns lugares, para ter mais opções.

Você tem ingressos para a Copa?

Nada.

Eles vêm com ingresso?

Vêm.

Como eles vão pagar a estadia?

Não vai ter nada de gasto da parte deles.

Você não tem receio de episódios de violência?

Não está longe de acontecer, mas eles estão conscientes de está todo mundo em cima. Eles vêm passar uma boa imagem.

Algum órgão de segurança procurou você?

Nenhum órgão de segurança me procurou.

O deslocamento deles para os jogos vai ser pelo trensurb?

De metrô, serão orientados. De ônibus, vão estar orientados.

Se a polícia pedir uma lista desses torcedores, você tem?

Não tenho, é incerta a quantidade de pessoas que vão vir.

A COPA E OS DIREITOS DAS CRIANÇAS


ZERO HORA 29 de maio de 2014 | N° 17811
ARTIGO


Mariza Alberton*



Durante a Copa 2014, temos a considerar o inevitável risco da violação dos direitos de crianças e adolescentes. Grande número de estrangeiros há de vir ao Brasil e nem sempre suas motivações para visitar o país tropical estarão voltadas para o turismo sadio, nem para o espetáculo futebolístico. Mas não podemos culpar apenas os “gringos” que aqui aportarão por ocasião deste megaevento! Uma legião de brasileiros também circulará pelo nosso país e, muitos, com segundas intenções. Nossas crianças e adolescentes estarão em situação de risco..

Devemos sempre nos antecipar às situações desfavoráveis para fazer frente aos problemas e poder construir estratégias de ações positivas. No contexto do megaevento esportivo que o Brasil em breve sediará, a situação não pode ser diferente! Prevenir é sempre melhor do que remediar. Sendo assim, devemos evitar toda e qualquer situação que possa possibilitar violação dos Direitos Humanos de meninas e meninos. Para mobilizar e fortalecer as redes locais, articular e monitorar as ações, captar recursos, construir estratégias de intervenção e realizar planejamentos, já estamos há bastante tempo nos preparando. A Agenda de Convergência, construída pela ação conjunta das redes nacionais de promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, governo federal e por organismos internacionais, é uma importante ferramenta para estabelecer ações de proteção e defesa em favor da infância brasileira. A partir desta agenda, foram estabelecidos compromissos compactuados pelos gestores municipais das cidades-sede da Copa 2014 com a União e os respectivos Estados.

Em 2013, transformamos a Jornada Estadual contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em espaço privilegiado para debater com as redes locais os legados da Copa para o nosso país, levantando problemas e apontando soluções. Coroando esta experiência, realizamos o evento “Por um Futuro Campeão” nesta quinta-feira, dia 29 de maio, às 18h30min, no Teatro do Sesc, em Porto Alegre. O objetivo é apresentar alternativas para garantia dos direitos de crianças e adolescentes durante a Copa.


PROFESSORA, ESPECIALISTA NA ÁREA DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


TREINO CONTRA O TERRORISMO


ZERO HORA 29 de maio de 2014 | N° 17811

DÉBORA ELY

TREINO PARA VALER. Capital contra o terror

MAIS DE 200 pessoas, de 14 órgãos, entre militares, policiais, bombeiros, médicos e agentes da Defesa Civil agiram em simulação de ataque que liberou poluentes radioativos e químicos



Durante meia hora na tarde de ontem, a Capital vivenciou um ataque terrorista que, mesmo com cenário beirando a realidade, não passou de uma simulação.

Organizado pelo Exército, por meio do Centro de Coordenação de Defesa de Área Porto Alegre, o treinamento para a Copa do Mundo mobilizou um contingente superior a 200 homens de mais de 14 órgãos – entre militares, policiais, bombeiros, médicos, enfermeiros e agentes da Defesa Civil.

O cenário armado simulou a localização de uma mochila ao lado do Ginásio do Gigantinho duas horas antes do início de uma partida do Mundial. De dentro do objeto, um dispositivo liberou agentes radioativos e químicos: cloreto de césio e dimetilamina. Trinta figurantes que se passaram por torcedores acabaram contaminados – sendo que três, com gravidade.

– O paciente atendido nas tendas é completamente jateado com produtos químicos que servem como antídoto e sai descontaminado do local – explica o coordenador da Câmara Temática da Saúde do Comitê Gestor da Copa, Eduardo Elsade.

A partir da identificação do componente exalado, a operação começou a ser armada como se fosse real. Somente em Porto Alegre, 200 homens do Exército estarão de prontidão para atuar em casos de possíveis ataques terroristas. Apesar de admitir que a possibilidade é pequena, o coordenador de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, coronel Miguel Ângelo Dziechciarz, diz que, caso ocorram ataques, a Capital estará pronta:

– Durante toda a nossa preparação, consideramos a utilização de algum agente químico, radioativo ou nuclear durante a Copa, mas julgo que a possibilidade é remota. Mostramos a parte reativa do evento, ou seja, depois que acontece o problema, mas existe uma sinergia de esforços muito grande antes de acontecer esse acidente, que é o pior cenário.

Cada cidade-sede do Mundial terá um grupo específico de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear que atuará na vistoria e varredura de todos os locais diretamente envolvidos na realização do torneio.

A equipe integra uma das 10 diretrizes das Forças Armadas para o Mundial, com base na preparação vivenciada durante outros grandes eventos.

Ao final da simulação, o coronel Dziechciarz avaliou o treino:

– Nota 9,5. Foi muito bom, mas, lógico, precisamos de alguns ajustes que serão feitos nesta semana. Se Porto Alegre não for a melhor cidade preparada para isso, não será a terceira. Será a segunda, com toda a certeza.



COMO É A OPERAÇÃO

-Menos de três minutos após a verificação da mochila, a área é isolada. O raio de contenção depende de uma série de fatores, como a substância utilizada no atentado e até mesmo a direção do vento – que pode obrigar a evacuação do Morro Santa Tereza, por exemplo.

-Na sequência, todos os órgãos envolvidos no resgate das vítimas são acionados. Profissionais que entrarem em contato com os pacientes precisam utilizar roupas especiais que evitam contaminação e máscaras de gás.
-Para a limpeza dos feridos, duas tendas infláveis de descontaminação foram adquiridas para a Copa: uma pelo Exército e outra pela Secretaria Estadual da Saúde.

-A segunda etapa do atendimento consiste no encaminhamento dos pacientes para a triagem. Quem passa bem é atendido pela Defesa Civil. Os mais graves são entubados e levados – por ambulâncias ou helicópteros – para um dos três hospitais de referência da Capital: Pronto Socorro, Cristo Redentor e Mãe de Deus.


NEGÓCIOS NO RITMO DA COPA



ZERO HORA 29 de maio de 2014 | N° 17811

CAIO CIGANA

MILHÕES DE REAIS EM AÇÃO

ESTRANGEIROS DEVEM SER MINORIA entre os turistas esperados para os jogos da Copa na Capital, mas devem ser responsáveis pela maior parte dos desembolsos no comércio e nos serviços, estimados em R$ 290 milhões



Mesmo minoria entre os mais de 100 mil turistas esperados em cada uma das cinco partidas da Copa do Mundo em Porto Alegre, serão os estrangeiros os responsáveis pela maior parte dos recursos injetados com a realização do Mundial. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) indica que, entre Capital, região metropolitana e Serra, a circulação de visitantes deve movimentar R$ 360 milhões em hospedagem, alimentação, lazer e compras. Desse total, R$ 290,5 milhões serão gastos por estrangeiros, calcula Lucas Schifino, economista da entidade.

Pouco mais de duas semanas antes de a bola rolar no Beira-Rio, a soma de vários estudos e sondagens de diferentes entidades empresariais sobre as expectativas de negócios para Copa começa a mostrar de forma mais nítida quem se beneficiará mais, quem pode ver as vendas murchar e de onde virá a maior parte do dinheiro extra que circulará graças ao Mundial.

Por enquanto, o jogo das projeções indica que o setor de serviços deve ganhar de goleada em faturamento, empurrado por uma enxurrada de dólares e euros.

– Os números que colocamos são bem realistas. Pode ser que sejam superados – diz Schifino, lembrando que as despesas com passagens aéreas e ingressos para os jogos estão excluídas do cálculo.

Também atenta ao impacto da Copa nas vendas, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital chegou a um número não muito distante – e restrito a Porto Alegre. Para a entidade, o resultado pode chegar até R$ 323,1 milhões. Dessa soma, R$ 101,8 milhões poderiam ser deixados no comércio e a maior parte, R$ 221,3 milhões, entraria no caixa do setor de serviços.

– Acreditamos que no comércio podem vender bem vestuário e artigos alusivos à Copa e ao Brasil. Lembranças também. Como nossa cultura é forte, produtos regionais devem sair bem – avalia Alcides Debus, vice-presidente da CDL.


PONTO FACULTATIVO PODE LEVAR CLIENTES PARA LOJAS


Sondagem do Sindilojas com os associados aponta a expectativa de vendas 7% superiores durante o período da Copa. Para o presidente da entidade, Paulo Kruse, vai se sair melhor quem decorar seu estabelecimento com motivos relacionados à Copa e que tiver funcionários aptos a se comunicar com os visitantes.

– Estamos aconselhando que pelo menos se contrate temporariamente pessoas com noções de inglês – afirma Kruse.

O ponto facultativo para os funcionários municipais em Porto Alegre após o meio-dia em dias com partidas no Beira-Rio e jogos da Seleção não deve ser problema. Tanto Sindilojas quanto CDL apostam que o maior tempo livre também reverterá em mais gente no comércio. Um ponto de interrogação, porém, é se acontecerem protestos na cidade.

– O potencial de perda é grande se houver violência e depredação – alerta Schifino.



HORA DE VIRAR O JOGO

Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo nacional tende a ver menos negócios no período do Mundial

-R$ 1,5 bilhão deve ser a perda de faturamento no comércio varejista no período da Copa.

-No setor do comércio, as maiores perdas devem estar no segmento de venda de combustíveis e lubrificantes, cerca de R$ 705 milhões, seguido por farmácias e perfumaria, em torno de R$ 300 milhões.

-O segmento que mais ganha é o de eletroeletrônicos, que deve faturar cerca de R$ 826 milhões a mais.



terça-feira, 27 de maio de 2014

PM É ATINGIDO POR FLECHA DURANTE PROTESTO CONTRA COPA

Do G1 DF 27/05/2014 20h02

Protesto contra a Copa termina em confronto com a polícia no DF; Índios que ocuparam marquise do Congresso se juntaram à manifestação.. Policial militar foi atingido por uma flecha disparada por um dos indígenas.

Ricardo Moreira


Indígena atira flecha contra policial durante protesto em Brasília nesta terça-feira (27). (Foto: Lunae Parracho/Reuters)

A 16 dias da abertura da Copa do Mundo, um protesto contra o mundial da Fifa terminou em confronto com a polícia militar do Distrito Federal nesta terça-feira (27) e gerou um congestionamento que praticamente parou o trânsito na área central de Brasília. Segundo a PM, cerca de 2,5 mil pessoas participaram da manifestação, entre as quais um grupo de 300 índíos que desembarcou na capital federal para protestar contra mudanças nas regras de demarcação de terras indígenas.

Imagem capta momento em que flecha atirada por
indígena atinge a perna de um policial do pelotão de
cavalaria do DF (Foto: Reprodução/TV Globo)

Em meio ao protesto, um policial militar do pelotão de cavalaria foi atingido por uma flecha disparada por um indígena. O policial ferido foi submetido a uma cirurgia para retirar o artefato da perna.

Segundo o Conselho Indigenista de Missionários, dois índios também ficaram feridos com bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela PM.

O protesto teve início por volta das 17h, quando integrantes de movimentos sociais se concentraram na rodoviária do Plano Piloto para criticar os gastos públicos na Copa e reclamar de problemas nas áreas de habitação, saúde e educação. Na rodoviária, este grupo se juntou a familiares do auxiliar de serviços gerais Antônio de Araújo, que, há um ano, sumiu após uma abordagem policial na cidade satélite de Planaltina e aos indígenas que mais cedo haviam ocupado a marquise do Congresso Nacional.

Após a concentração, os manifestantes saíram em marcha pelo Eixo Monumental, uma das principais vias de Brasília, em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Na tentativa de evitar que o grupo se aproximasse da arena que será palco de sete jogos da Copa, os 900 policiais mobilizados para o protesto passaram a disparar bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

O protesto ocorreu durante visitação pública à Taça da Copa do Mundo, que encerra, em Brasília, um tour pelas cidades-sedes do evento da Fifa. O ex-jogador e tetracampeão mundial Bebeto participou da exposição no estacionamento do estádio Mané Garrincha.

Alegando falta de segurança, a organização do evento fechou o acesso do público assim que os manifestantes começaram a entrar em confronto com a PM.

Responsável pela exposição no estádio, a Coca-Cola lamentou que o protesto tenha impedido que centenas de pessoas conseguissem visitar a taça da Copa do Mundo nesta terça-feira. Por meio de nota oficial, a empresa classificou as manifestações como parte do "processo democrático" e afirmou que a visitação desta quarta (28), que começa às 9h, está mantido.

A COPA DA ESPERANÇA E A COPA DO MEDO



O GLOBO, 27/05/2014

Arnaldo Jabor


Nos outros mundiais, éramos a pátria de chuteiras; hoje somos chuteiras sem pátria


Meu avô chegou em casa chorando. As ruas estavam desertas e o silêncio era total. Isso, no dia 16 de julho de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai. Lembro de meu avô dizendo que só se ouviam os sapatos. Os chinelos, até pés descalços desciam as rampas do Maracanã, e, vez por outra, alguém soluçava. Eu era pequeno e não entendia bem aquele desespero que excitava a criançada — ver adultos chorando! Muitos anos depois o Nelson Rodrigues me disse a mesma coisa: só os sapatos falavam. Mas, por que isso aconteceu?

A guerra tinha acabado, a Fifa nos escolhera para a sede da Copa porque a Europa estava ainda muito combalida pela guerra. Tivemos de construir o Maracanã, que o prefeito Mendes de Morais inaugurou como se fosse o símbolo de um Brasil novo — o maior estádio do mundo. Getúlio Vargas já era candidato a presidente democraticamente eleito e tínhamos a sensação de que deixaríamos de ser um país de vira-latas para um presente que nos apontava o futuro. O governo Dutra tinha gasto a maior parte de nossas altas reservas do pós-guerra em importações americanas. Inteiramente submissos ao desejo dos gringos, nos enchemos de produtos inúteis: meias de náilon, chicletes de bola, bolinhas de gude coloridas com que jogávamos, ioiôs, carros importados, o novo clima do cinema americano, dos musicais da Metro, o sonho de alegria e orgulho que pedimos emprestado aos Estados Unidos. Com ingênua esperança de modernidade, achávamos que nossa vez tinha chegado. E fomos ao jogo para ver nossa independência. Tínhamos certeza absoluta da vitória. Os jornais já fotografavam os jogadores do “scratch” como campeões invencíveis. Tínhamos ganho tudo. Apenas um empate com a Suíça, sete a um contra a Suécia, seis a um contra a “fúria” espanhola. O estádio estava cheio de ex-vira-latas, de ex-perdedores; como diria Nelson Rodrigues, todos éramos patrióticos granadeiros bigodudos e dragões da independência, Napoleões antes de Waterloo. Não queríamos apena uma vitória, mas a salvação. Só a taça aplacaria nossa impotência diante da eterna zona brasileira. Queríamos berrar ao mundo: “Viram? Nós somos maravilhosos!”

Precisando de somente um empate, a seleção brasileira abriu o marcador com Friaça aos dois minutos do segundo tempo, mas o Uruguai conseguiu a virada com gols de Schiaffino e Ghiggia. Claro que foi um terrível lance de azar, mas, para nós, o mundo acabou. No estádio mudo, sentia-se a respiração custosa de 200 mil pessoas. Ouvia-se a dor. Foi uma mutação no país.

Não estávamos preparados para perder! Essa era a verdade. E a certeza onipotente leva à desgraça. Traz a morte súbita, a guilhotina. Sem medo, ninguém ganha. Só o pavor ancestral cria uma tropa de javalis profissionais para o triunfo, só o pânico nos faz rezar e vencer, só Deus explica as vitórias esmagadoras, pois nenhum time vence sem a medalhinha no pescoço e sem ave-marias. Isso é o óbvio, mas foi ignorado. E, quando o óbvio é desprezado, ficamos expostos ao sobrenatural, ao mistério do destino. Um amigo meu, já falecido, Paulo Perdigão, escreveu um livro essencial para entender o país naquela época: a “Anatomia de uma derrota”, onde ele cria uma frase que nos explicava em 1950 e que nos explica até hoje: o Brasil seria outro país se tivéssemos ganho “aquela” Copa, “naquele” ano. “Talvez não tivesse havido a morte de Getúlio nem a ditadura militar. Foi uma derrota atribuída ao atraso do país e que reavivou o tradicional pessimismo da ideologia nacional: éramos inferiores por um destino ingrato. Tal certeza acarretou nos brasileiros a angústia de sentir que a nação tinha morrido no gramado do Maracanã...”. E aí ele escreveu a frase rasgada de dor: “Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950!”.

Esta sentença nos persegue até hoje. Talvez nunca mais tenhamos o peito cheio de fé como naquele ano remoto.

Lá, sonhávamos com um futuro para o país. Agora, tentamos limpar nosso presente. Somos hoje uma nação de humilhados e ofendidos, debaixo da chuva de mentiras políticas, violência e crimes sem punição. Descobrimos que o país é dominado por ladrões de galinha, por batedores de carteira e traficantes. E mais grave: a solidariedade natural, quase “instintiva” das pessoas está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo. Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. Repito: estamos vivendo uma mutação histórica.

Há uma africanização de nossa desgraça, com o perigo de ser irreversível. E não era assim — sempre vivemos o suspense e a esperança de que algo ia mudar para melhor.

Isso parece ter acabado. É possível que tenhamos caído de um “terceiro mundo” para um “quarto mundo”. O quarto mundo é a paralisação das possibilidades. Quem vai resolver o drama brasileiro? As informações criam apenas perplexidade e medo mas, como agir? Não há uma ideologia que dê conta do recado.

O mais claro sinal de que vivemos uma mutação histórica é esta Copa do Medo. Há o suspense de saber se haverá um vexame internacional que já nos ameaça. Será péssimo para tudo, para economia, transações políticas, se ficar visível com clareza sinistra nossa incompetência endêmica, secular. Nunca pensei em ver isso. O amor pelo futebol parecia-me indestrutível. O governo pensava assim também, com o luxo dos gastos para o grande circo. E as placas nas ruas se sucedem: “Abaixo a Copa!”, “Queremos uma vida padrão Fifa!”.

Como vão jogar nossos craques? Com que cabeça? Será possível ganharmos com este baixo astral, com a gritaria de manifestantes invadindo os estádios? Haverá espírito esportivo que apague essa tristeza?

Antes, nas copas do mundo éramos a pátria de chuteiras. Hoje somos chuteiras sem pátria.

ados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

SEGURANÇA CONTARÁ COM 157 MIL HOMENS

O Estado de S. Paulo 27 de maio de 2014 | 5h 08

Segurança da Copa do Mundo contará com 157 mil homens. Agentes da polícia e das Forças Armadas terão as manifestações como maior preocupação durante o Mundial


BRASÍLIA - O Brasil terá 157 mil homens, entre integrantes das Forças Armadas e policiais, para fazer o trabalho de segurança durante a Copa do Mundo. A maior preocupação das autoridades brasileiras são os protestos que certamente vão acontecer nas 12 cidades que receberão jogos do Mundial - e provavelmente também em algumas que não terão partidas do torneio.


Wilton Junior/Estadão
Protestos marcaram chegada da seleção à Teresópolis


Dos 157 mil agentes de segurança que vão trabalhar na Copa, serão 57 mil integrantes das Forças Armadas - 35 mil homens do Exército, 13 mil da Marinha e nove mil da Aeronáutica, ao custo de R$ 709 milhões para o Ministério da Defesa. A informação foi dada na sexta-feira pelo ministro responsável pela pasta, Celso Amorim. Ele considera que as tropas estão preparadas para encarar o desafio de garantir a realização de um Mundial com segurança.

"Nossas tropas estão absolutamente treinadas e equipadas para o ambiente específico da Copa", afirmou Amorim, que revelou que 21 mil dos 57 mil homens das Forças Armadas estarão em estado de alerta para as situações que exijam resposta imediata. Ele acredita que falta de experiência não será um problema no Mundial. "Tivemos observadores militares atuando em eventos internacionais como a Copa de 2010, na África do Sul, e a Olimpíada de Londres, em 2012."

Os militares estarão espalhados pelas 12 cidades-sede do Mundial e também por algumas cidades que vão receber seleções para treinamento, como Vitória, Aracaju e Maceió. O plano de segurança para a competição se baseia em dez pontos principais, entre eles controle do espaço aéreo, defesa de áreas marítimas e fluviais e de estruturas estratégicas, inteligência, prevenção e combate ao terrorismo e defesa química.

PROTESTOS

Uma das funções mais importantes das Forças Armadas na Copa será ajudar a polícia a proteger as fronteiras do Brasil, mas a maior preocupação das autoridades estará bem perto do centro dos acontecimentos futebolísticos. Protestos são esperados em todas as cidades envolvidas no Mundial, especialmente nos dias de jogos. Ainda assim, o governo tenta passar uma mensagem tranquilizadora. José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, disse não acreditar que as manifestações serão tão grandes quanto as ocorridas em junho do ano passado, durante a disputa da Copa das Confederações.

"A nossa sensação é que os protestos terão uma dimensão menor do que os de junho do ano passado", opinou o ministro. "Agora, falando sinceramente, nós estamos preparados para qualquer situação."

Na Copa das Confederações, que contou com o trabalho de 19,4 mil integrantes das Forças Armadas, os protestos assustaram as seleções participantes e os dirigentes da Fifa. Alguns convidados da entidade chegaram a desistir de ir a um jogo em Salvador por medo de serem agredidos por manifestantes.







PORTO ALEGRE, UMA CIDADE QUE MERECE SER RECONQUISTADA


















JORNAL DO COMERCIO 27/05/2014


Uma cidade que merece ser reconquistada


Apenas um porto-alegrense pode representar a toda a cidade, ou não. É o que veremos quando da chegada de milhares de visitantes à Capital, embora a sistemática divulgação de violência no Brasil pela imprensa estrangeira. Talvez exagerada, porém, em cima de fatos verdadeiros. Foi anunciado que 25% das reservas de torcedores foram canceladas, o que entristece. Afinal, tivemos problemas bem antes da Copa. Após o evento, eles continuarão existindo. Da mesma forma que o torneio não nos resolveu nada antes, depois dele caberá a todos nós tratar de endireitar a cidade, o Estado e o País. Existe um paradoxo atualmente em nossa cidade, como, de resto, em quase todas as capitais do Brasil: quanto mais se fala em inclusão social, mais alguns indicadores de crimes aumentam; e de variados tipos, geralmente envolvendo drogas e hoje atingindo a todos os estratos sociais. O prefeito José Fortunati apelou para que o negativismo acabe antes do início da Copa em Porto Alegre. Os porto-alegrenses talvez não avaliem bem as belezas e os prazeres que a Capital nos proporciona, senão quando, às vezes, os perdemos. É que somos mais exatos em calcular os desgostos que a cidade nos apresenta do que apreciar o que ela tem de bom. O ex-jogador Ronaldo disse sentir vergonha pelos atrasos nas obras. E nós? Sentiremos vergonha pelo visual de Porto Alegre que mostraremos aos visitantes em poucos dias?

Arquitetos e urbanistas têm alertado para o desprazer de uma vida com uso individual do automóvel, entupindo ruas de veículos, tirando o prazer de uma caminhada despreocupada e aumentando o índice de acidentes. A pichação sistemática de edifícios enfeia prédios públicos e particulares. A falta de educação é uma constante, desde filas e chegando ao neurotizado trânsito. O estresse nos tornou antissociais.

Muitos estão propondo soluções para questões de Porto Alegre e outras grandes cidades. Dentre elas, o transporte público, a flexibilização de espaços e a sustentabilidade. Os corredores de ônibus, obra do então prefeito Guilherme Socias Villela, existem há muitos anos, mas são questionados aqui e ali. Eles podem representar uma agressão às identidades específicas de cada bairro ou setor da cidade, dizem alguns. Um exagero, afinal, os corredores visam a facilitar o transporte coletivo com muito mais qualidade do que atualmente, no modelo Bus Rapid Transit (BRT), na sigla em inglês.

Para alguns técnicos, não basta ter os corredores do ônibus, uma vez que eles são acompanhados de verticalidade - leia-se edifícios - excessiva, o que vai gerar paredões construídos ao lado desses corredores. Claro, com as facilidades – embora os altos preços – oferecidas pela construção civil, não tem como deixar de construir edifícios em zonas que têm o famoso “ônibus na porta”.

Hoje, algumas ruas antes tradicionais e muito frequentadas pelos porto-alegrenses quando não havia tantos automóveis e o atual Centro Histórico era apenas o Centro da cidade, tornaram-se um espaço não praticável. São locais públicos escuros, sem vida, que geram violência. Enfim, Porto Alegre é uma cidade que merece ser reconquistada, ainda que paulatinamente, começando antes de 12 de junho, no início da Copa do Mundo.

FOGO AMIGO

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ZERO HORA 27 de maio de 2014 | N° 17809


EDITORIAL





O país precisa conciliar os direitos de minorias inconformadas com o das maiorias interessadas em vê-lo cumprir compromissos assumidos com a comunidade internacional.

Protestos de grupos desfavoráveis à Copa ou que simplesmente se aproveitam da visibilidade propiciada no momento em que as atenções de boa parte do mundo se voltam para o Brasil precisam ser vistos como naturais num país livre. Só não podem prejudicar terceiros. Os episódios associados ao primeiro dia de concentração indicam que as minorias dispostas a fazer barulho estão mesmo decididas a complicar a competição, sem qualquer consideração com a vontade da maioria e com os prejuízos à imagem do país no contexto internacional.

Eventos dessa grandeza sempre provocam sobressaltos. Mesmo na Alemanha, frequentemente apontada como parâmetro de eficiência, a Copa de 2006 gerou inquietações em relação à segurança. Na África do Sul, num determinado momento, a combinação de manifestações com atrasos das obras chegou a passar a ideia de que a realização do Mundial de 2010 estava ameaçada. Em ambos os países, o futebol acabou se impondo como um traço comum entre povos marcados por diferenças abissais e a grande festa do mundo esportivo pôde transcorrer sem maiores percalços. Sem prejuízo à livre manifestação, essa deve ser também a expectativa em relação ao Brasil.

O país precisa conciliar os direitos de minorias inconformadas com o das maiorias interessadas em vê-lo cumprir compromissos assumidos com a comunidade internacional.

MAIS POLICIAIS, MENOS DELITOS



ZERO HORA 27 de maio de 2014 | N° 17809


SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI



HUMBERTO TREZZI

O Rio de Janeiro é exemplo acabado de como a presença policial nas ruas opera milagres. Durante a Rio 92, a cada eleição e logo após as ocupações militares em favelas, o número de delitos cai exponencialmente.

A receita vale para qualquer lugar: polícia é como espantalho, assusta ladrão assim como o boneco de pano assusta o corvo. Simples. E qual o número ideal de policiais? Existe um mito de que seria três por mil habitantes, recomendado pelas Nações Unidas. Procuramos e verificamos: a ONU não recomenda nenhum número mínimo, apenas constata o que ocorre na realidade mundial.

Existem países que superam em muito essa média: sete por mil habitantes (Ilhas Maurício), cinco por mil (Itália), quatro por mil (Portugal). No Brasil, a média é de dois PMs (polícia ostensiva, de patrulhamento) por mil habitantes, a mesma no Rio Grande do Sul, conforme números de 2012.

E mais policiais nas ruas de uma cidade é garantia de menos crimes? Depende do tipo de delito. Contra roubos e furtos, é bem provável que a presença policial seja receita de sucesso.

Já contra homicídios, não, porque muitos acontecem dentro de residências ou em rodas de amigos, difíceis de o policial prevenir. Tanto que Alagoas tem três PMs por mil habitantes (acima da média brasileira) e um dos mais altos índices de assassinatos no país.

O certo é que o incremento de tropas da Brigada Militar durante a Copa é saudado pela maioria da população. A presença policial inibe brigas, roubos, saques. Governante que centrar discurso na promessa de investir no setor fará votos, com certeza.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Até posso concordar com a afirmação de que mais policiais, menos delitos, mas é paliativa e ilusória na medida que se o crime compensa, nada o detém, nem mesmo uma polícia enfraquecida pelas leis, fracionada pelo corporativismo, subserviente à partidos e segregada pela justiça. O primeiro princípio capaz de deter o crime é a CERTEZA DA PUNIÇÃO, e esta passa pelo envolvimento de um sistema de justiça criminal que preveni, contém, apura, denuncia, processa, julga, sentencia e executa penalmente com controle total, segurança e objetivos para reeducar, ressocializar e reintegrar. A polícia é apenas a parte inicial deste sistema. Está mais para espantalho do que para soluções.

AS CORES DA SEGURANÇA NA CAPITAL PORTO ALEGRE



ZERO HORA 27 de maio de 2014 | N° 17809


CARLOS ISMAEL


COPA DO MUNDO


ESTRATÉGIA DA BM já está nas ruas. O mapa de Porto Alegre foi assinalado com três cores, que identificam as necessidades de policiamento de cada área a partir da distância do estádio e concentração de público esperada



A Brigada Militar (BM) dividiu Porto Alegre em três cores e já colocou em ação o plano de segurança para a Copa. Cada classificação representa uma faixa territorial determinada pela distância em relação ao Estádio Beira-Rio e concentração de pessoas. A pouco mais de duas semanas do evento, já é visível o reforço no efetivo nas ruas da Capital.

São cerca de 2,7 mil policiais militares (PMs) envolvidos com o evento. Desses, 1,4 mil integram o Batalhão Copa. O restante forma o Batalhão Especial de Pronto Emprego (Bepe), que atuará na contenção de eventuais manifestações em dias de jogos. Quando não houver partidas, o Bepe fará a segurança do perímetro dos centros de treinamento de seleções e do centro oficial de treinamento.

Já o Batalhão Copa estará espalhado pela cidade, nos espaços demarcados pelas cores vermelha, amarela e verde. De acordo com o comandante do Batalhão Copa, coronel João Diniz Prates Godoi, a força foi divida em nove companhias, com até 200 PMs cada, que irão cobrir o patrulhamento desde o estádio e adjacências (área vermelha) até bairros mais afastados e o aeroporto, na zona norte (região verde).

A área amarela compreende o perímetro que vai do Centro Histórico até o Viaduto Dom Pedro I, no bairro Praia de Belas. Nessa área, estão incluídos o Anfiteatro Pôr do Sol, onde ocorrerá a Fan Fest, e o Acampamento Farroupilha extraordinário, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, que já começou a ser montado e deve se estender até o período tradicional, em setembro. Além disso, serão monitorados hotéis, pontos turísticos, parques e o Caminho do Gol, um trajeto que sai do Largo Glênio Peres pela Avenida Borges de Medeiros até o estádio.

– Nesse percurso, teremos oito ônibus, postos móveis de referência para os turistas, com PMs capacitados em línguas estrangeiras para dialogar em francês, inglês e espanhol – explica o coronel Godoi.

A operação conta ainda com 13 micro-ônibus, 42 viaturas, 130 conjuntos montados (policial e cavalo) e 106 motocicletas. Haverá também equipes de policiamento aéreo e com embarcações no Guaíba.


CORONEL ASSEGURA PATRULHA NO INTERIOR

O reforço no efetivo conta com brigadianos do Interior. Há um mês, a previsão da BM era de que dois terços, pouco mais de 2 mil PMs, viriam de outras cidades, e o restante, cerca de 900, seria da Capital e Região Metropolitana. O subcomandante-geral da BM, coronel Silanus Mello, garante que o número atual é menor, mas não revela o dado exato. Mantida a proporção anterior, teriam desembarcado em Porto Alegre cerca de 1,8 mil de vários pontos do Estado.

A estratégia gerou queixas da Federação das Associações dos Municípios (Famurs), que teme o esvaziamento da segurança nas cidades que cederam pessoal. O presidente da entidade e prefeito de Santo Ângelo, Valdir Andres (PP), afirma que recebeu reclamações de colegas:

– A Copa é importante, mas não é justo que o Interior fique sem segurança.

O coronel Mello afirma que a escolha dos locais de onde seriam deslocados brigadianos teve como critério a manutenção do policiamento de rotina, com base nos índices de criminalidade:

– Isto é já página virada. Suspendemos férias e licenças para 3,7 mil policiais de todo o Estado durante o período da Copa. Eles estarão disponíveis para o patrulhamento regular. Assim, o remanejamento para o evento foi compensado.





segunda-feira, 26 de maio de 2014

PROTESTOS MARCAM A APRESENTAÇÃO DA SELEÇÃO PARA A COPA

ZH ESPORTES. Atualizada em 26/05/2014

Protestos marcam a apresentação da Seleção para a Copa. Jogadores também ouviram manifestações na chegada a Granja Comary



Protestos pediram investimentos em saúde e educação no BrasilFoto: Carlos Moraes, Estadão Conteúdo


Começou a Copa do Mundo para a Seleção Brasileira. Na manhã desta segunda-feira, os jogadores convocados por Luiz Felipe Scolari se apresentaram em um hotel no Rio de Janeiro de onde partiram para Teresópolis, onde localiza-se a Granja Comary.

Os primeiros a chegar foram os atletas que atuam em clubes do Rio de Janeiro, como o goleiro Jefferson, do Botafogo, e o centroavante Fred, do Fluminense. Os demais chegaram na sequência, enquanto Neymar já havia se apresentado ainda de madrugada no hotel.

Em frente ao local da apresentação dos atletas no Rio de Janeiro, um grupo de professores protestava, de forma pacífica, pedindo a melhoria na educação e na saúde do país, com faixas em português e inglês.

— Da Copa, da Copa, da Copa eu abro mão. Eu quero mais dinheiro para a saúde e educação! — dizia um dos gritos do protesto nesta manhã.

Quando o ônibus da Seleção começou a se movimentar em frente ao hotel, intensificaram-se os protestos, e os manifestantes colaram adesivos com a mensagem de greve na educação na lataria do veículo. Um cordão de isolamento, feito pelo forte esquema de segurança montado, não conseguiu impedir que as pessoas se aproximassem do ônibus.


E em Teresópolis...

Sob forte escolta, com direito a helicóptero da Polícia Rodoviária Federal durante os 100 quilômetos de viagem do Rio até Teresópolis, a Seleção chegou por volta do meio-dia à Granja Comary, ainda sob protestos.


O PSTU desfraldou uma faixa em inglês, buscando atingir os jornalistas estrangeiros (são mais de mil credenciados ao todo, somando os brasileiros).

Também um grupo de professores, exigindo melhores salários, se postou em uma das barreiras de acesso à Granja Comary. Eles pediram mais investimentos para a educação, criticando os gastos públicos na construção das arenas do Mundial.

O dia será de exames médicos. Amanhã, terça-feira, começam os exames físicos. Treino tático e técnico mesmo, só na quarta-feira.


SELEÇÃO SOB VAIAS E PROTESTOS

JORNAL EXTRA 26/05/14 11:13

Copa do Mundo 2014: sob vaias e protestos, seleção brasileira deixa hotel no Rio e vai para a Granja Comary


Manifestantes cercam o ônibus da seleção brasileira Foto: Guilherme Pinto / Extra
Leonardo André


As manifestações já começaram no Rio, antes mesmo do início da Copa do Mundo de 2014. Com vaias e protestos, os jogadores da seleção brasileira deixaram o hotel onde aconteceu a apresentação, por volta das 10h30 desta segunda-feira, rumo à Granja Comary, em Teresópolis (RJ). Cerca de 70 pessoas ligadas aos profissionais da educação gritaram, bateram na lateral do ônibus que levava os atletas e ainda colaram adesivos criticando os gastos do Mundial no país.

Mesmo com dificuldade, o veículo conseguiu deixar o local sob escolta policial. Dos 23 convocados pelo técnico Luiz Felipe Scolari, apenas o lateral-esquerdo Marcelo não se apresentou. O jogador ganhou uns dias a mais porque, no sábado, ganhou o título da Liga das Campeões com o Real Madrid. Ele chagará à Granja na próxima quinta-feira.

Manifestantes colaram adesivos na lateral do ônibus da seleção brasileira e bateram no veículo Foto: Leonardo André / Extra


O atacante Neymar foi o primeiro a se apresentar. O craque do Barcelona chegou ainda na madrugada no hotel. Depois foi a vez do goleiro Jefferson e do atacante Fred, assim como os demais jogadores.

A Seleção Brasileira chega ainda nesta segunda em Teresópolisl. O Brasil está no Grupo A, com Camarões, Croácia e México, e terá a estreia contra o croatas no dia 12 de junho, na Arena Corinthians, em São Paulo.

Antes, a equope fará dois amistosos. No dia 3 de junho, o Brasil joga o primeiro amistoso antes do Mundial contra o Panamá, às 16h, no Serra Dourada, em Goiânia. Três dias depois, a equipe tem mais um amistoso contra a Sérvia, às 16h, no Morumbi.

O MARACANAZO ANTES DA COPA

 

O Estado de S.Paulo 26 de maio de 2014 | 2h 07


*Luiz Sérgio Henriques



Nesta altura dos acontecimentos, segundo a previsão de quem concebeu a transformação do País e de um sem-número de suas principais cidades em palco de um evento global como a Copa do Mundo, o clima psicossocial - para usar um termo de tristes tempos, que têm deixado sua marca retórica até mesmo nos discursos presidenciais - deveria ser de festa e celebração. Uma grande corrente pra frente coroaria uma década, ou pouco mais, de êxitos sociais retumbantes e, como decorrência, manteria junto à bandeira do escanteio uma oposição à míngua de propostas e lideranças: uma oposição carcomida, sitiada num gueto "neoliberal", incapaz de compreender um tempo de revolução social, de mobilidade e gestação de novas classes médias, de prosperidade e expansão do consumo privado.

Não faltou quem insinuasse a perenidade da nova ordem ou a projetasse até os fastos de 2022, quando, simbolicamente, o País se daria conta de que sua face cruel e excludente, velha de 500 anos, teria ficado perdida para sempre em algum espelho do passado. A poucas semanas da Copa, porém, todas essas fantasias parecem caducas. Se a sorte da pátria de chuteiras está nos pés de Neymar e companhia, a quem só se pode desejar o êxito das magistrais gerações anteriores de Garrincha, Pelé ou Gerson, há laivos de imprevisto maracanazo na visão que temos de nós mesmos, como sociedade e comunidade política, e na visão que projetamos para os outros, a tal "imagem do Brasil no exterior", para recorrer novamente ao léxico de antanho.

Alguma coisa deu errado na receita da celebração: eis-nos às voltas com o renitente complexo de vira-latas, de rodriguiana memória, chamados a encarar as duras realidades de uma "sociedade incivil". Nesta última, que constitui a trama concreta do cotidiano de milhões de (sub)cidadãos, o que se eterniza é, antes, a precariedade dos serviços públicos e a improvisação das políticas, remendadas por "projetos de impacto", a exemplo da importação de médicos ou paramédicos, como se nessa dimensão - serviços públicos e políticas sociais - não estivesse em jogo um aspecto decisivo da luta hegemônica que deveria ser a preocupação essencial de uma esquerda com vocação dirigente, à moda "ocidental", sem flertes com as "democracias autoritárias" que nos rodeiam. Ou alguém duvida de que um sistema público de saúde com gestão modelar modificaria em sentido luminoso o modo de vida dos brasileiros, com ampla repercussão na sociabilidade e mesmo na elevação da renda real?

Em vez da luta hegemônica, temos uma política partidária frequentemente mesquinha e permeada de estéril conflituosidade. O grande partido social-democrata, entre nós, dividiu-se em metades inconciliáveis por toda uma época histórica que podemos datar da Constituição de 1988; e a reconciliação das duas metades nem sequer está à vista.

O primeiro ramo da social-democracia, que de todo modo nos legou o controle do processo inflacionário ainda no governo "peemedebista" de Itamar Franco, operou certamente nas condições de crise do nacional-desenvolvimentismo e de ajuste à impetuosa globalização dos anos 1990, o que teria implicado, em qualquer circunstância, reformas favoráveis ao mercado. Mas, exceção feita a um ou outro de seus expoentes, jamais se penitenciou da confiança desmedida nos mecanismos de mercado que arrastou os social-democratas da terceira via, como o reconheceram Bill Clinton e Massimo D'Alema.

Fundamentalmente, comportou-se como uma cabeça sem corpo, um conjunto de personalidades respeitáveis que não logrou lançar raízes e se articular capilarmente com a sociedade, assim desatendendo a um requisito essencial da política de massas, na qual os partidos são "a democracia que se organiza". A húbris - a desmedida - se revelaria ainda na intenção anunciada de permanecer 20 anos à frente do governo, para reformar o Brasil, e na desastrada emenda da reeleição, implantada, ainda por cima, sem os cuidados que levaram a democracia norte-americana a limitar mandatos presidenciais no pós-guerra, mesmo considerando a importância histórica do reformismo rooseveltiano.

Corpo sem cabeça, ou com uma cabeça majoritariamente atrasada, não obstante o trabalho intelectual que cercou o seu nascimento, é como muitas vezes se comporta o segundo ramo da social-democracia. Partido originalmente de massas, com forte enraizamento sindical e laços "orgânicos" com a intelligentsia, que lhe deu uma teoria do Brasil classista e antipopulista, esse ramo conhece o descomedimento de forma inversa e simétrica ao primeiro. Suas ações à frente do Estado parecem reciclar vetusto lema revolucionarista: "Temos o governo, ainda não temos o poder". Mas a ocupação do poder não tem - historicamente não pode ter - o sentido de outrora, o da construção de um novo modo de produção e da "transição para o socialismo". Por isso se estiola em acordos sem programa mediante os quais, paradoxalmente, se legitima toda a política patrimonialista, desde que as armas estejam apontadas contra a primeira fração - "neoliberal" - do grande partido social-democrata que não temos.

O travo amargo de maracanazo terá origem nessa política manca, que se reitera a cada rodada eleitoral e afeta violentamente a qualidade do discurso público, alimentando o fanatismo, o sebastianismo e vícios correlatos de secular memória. Não há estratégias de aggiornamento econômico nem de inclusão social que alterem este sentimento de derrota.

Até que progredimos um pouquinho, como dizia o poeta da Pauliceia Desvairada: afinal, progredir também é uma fatalidade. Mais problemático é saber se temos uma cidadania vibrante, livre de tutela, capaz de dar mais do que o consenso passivo na hora da bonança ou de explodir em fúria na hora inevitável das dificuldades.
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TRADUTOR E ENSAÍSTA, É UM DOS ORGANIZADORES DAS 'OBRAS' DE GRAMSCI NO BRASIL