domingo, 27 de abril de 2014

A COPA DO ACERTO DE CONTAS



ZERO HORA 27 de abril de 2014 | N° 17776


EDITORIAL INTERATIVO




Faltando 45 dias para o início do Mundial, o Brasil ainda não apresenta um clima festivo de Copa do Mundo, mas já tem mais certezas do que dúvidas: a competição organizada pela Fifa será, sim, realizada pelos brasileiros e todos temos que nos esforçar para que seja bem-sucedida. Todos é modo de dizer, pois os discordantes têm todo o direito de não fazer nada para ajudar, desde que, logicamente, também não façam nada para atrapalhar. O que se espera, agora que o evento se tornou inevitável e assumiu a dimensão de compromisso do país, é que apoiadores e opositores ajam civilizadamente, exercitando a pleno seus direitos democráticos.

Ainda que a Fifa não seja a Miss Simpatia, que as obras tenham atrasado e que os gastos tenham ultrapassado as previsões, já é certo que teremos estádios modernos e bonitos para os jogos e algumas melhorias importantes nas cidades escolhidas para sediá-los. O mais importante, porém, é que o Brasil cumpra o compromisso assumido perante a comunidade internacional e ofereça tanto aos visitantes quanto aos locais condições dignas de segurança e comodidade.

Não conta a nosso favor o atraso nas obras e algumas decisões deixadas para a última hora, quando já sabíamos que a Copa seria aqui há sete anos. Basta um olhar retrospectivo para se perceber erros imperdoáveis no planejamento e na execução do trabalho preparatório. Mas agora que estamos na reta final, faltando pouco mais de um mês para o jogo de abertura, não adianta ficar lamentando as falhas. O melhor é concentrar a energia no que falta fazer.

Depois, sim, caberá fazer um balanço geral, especialmente dos gastos públicos, que ultrapassaram em muito todos os orçamentos iniciais. Terminado o Mundial, o Brasil fica na obrigação de realizar internamente uma outra Copa – a Copa do acerto de contas com os contribuintes.

Agora, porém, é fundamental que governantes, homens públicos, lideranças esportivas e cidadãos caminhem no mesmo sentido, até mesmo para administrar democraticamente as manifestações de grupos inconformados. Se a Copa das Confederações foi um sucesso, mesmo tendo sido realizada no momento mais agudo dos protestos, pode-se esperar o mesmo da Copa do Mundo. Obviamente, as ameaças não devem ser subestimadas. Ninguém ignora que grupos organizados, corporações profissionais e organizações políticas já estão se articulando para aproveitar o momento de grande visibilidade do Mundial e promover atos públicos. É do jogo. Desde que a ordem pública seja mantida.

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O editorial foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial defende a Copa, mas pede acerto de contas depois. Você concorda?

O LEITOR CONCORDA

Sou favorável à realização da Copa do Mundo no Brasil. Sempre vi o povo brasileiro eufórico e apaixonado por futebol. O Brasil tem uma história muito linda de participação em muitas Copas. Agora, chegou a nossa vez. Vamos mostrar que somos um povo desportista, respeitoso e acolhedor. É claro que todo gasto realizado para esta festividade deve ser responsável e o povo deve saber como e quanto foi gasto. Se houver desvios, superfaturamento, ou qualquer coisa que comprometa a lisura dos gastos, que os responsáveis sejam rigorosamente punidos.

Rudi Freiberger

Santo Augusto (RS)

O mínimo que se espera – e que a Constituição da República exige! – é que haja prestação de contas de todos os recursos públicos utilizados na Copa: para estádios, para as estruturas temporárias (especialmente no caso das renúncias fiscais) e para obras de entorno. E que não se espere a fiscalização dos Tribunais de Contas, do Ministério Público e dos demais órgãos de controle – interno e externo – para que essa prestação de contas comece. Todos os beneficiados com recursos públicos devem – como manda a Constituição – prestar contas do dinheiro público que receberam. Exatamente pelo fato de nossa saúde, nossa educação, nossa segurança pública e outras áreas não serem aquelas que deveriam ser – pelo volume de tributos que pagamos – é que essas prestações de contas devem ser exigidas. E não só pelos órgãos de controle, mas por qualquer cidadão! Falar contra a Copa e fazer passeata é fácil, mas quem de nós exigirá a prestação de contas desse dinheiro?

César Augusto Hülsendeger

Porto Alegre (RS)

O LEITOR DISCORDA

Acerto de contas no rasil? Isso provavelmente não vai acontecer, exemplos para isso não faltam, aqui quase tudo acaba em pizza, um escândalo vai abafando o outro e assim vamos andando. Depois da Copa vem a Olimpíada, mais obras não vão ficar prontas, mais dinheiro será desviado e no fim tudo fica por isso mesmo.

Claiton Brezolin

Tapejara (RS)

Os black blocs, embora covardes e dissimulados, não são mais ameaçadores do que parte das empreiteiras e construtoras, entre outros tantos irresponsáveis que atrasaram as obras, que superfaturaram. Se não conhecemos os rostos dos imbecis atrás das vendas, desconhecemos também o bando de safados que está por trás da Copa e de um CNPJ, enchendo as burras com o dinheiro público. É possível que tenham combinado, farinha ruim do mesmo saco. A Copa é irremediável e a festa terá que ser bonita, por nossa autoestima. No entanto, considerando as manobras históricas das elites brasileiras, dificilmente haverá, depois, a copa da transparência. Sarney segue o godfather do Maranhão, Maluf está solto, Renan Calheiros preside o Senado, a bancada evangélica aumenta a cada eleição, a educação é um lixo, Vargas é outro suspeito no ninho do PT (lembram do partido da ética e da mudança?), os militares temem a verdade, o mensalão tucano foi para as cucuias, e assim caminha a nação canarinho. Tristeza!

Paulo Gaiger

Pelotas (RS)

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