quarta-feira, 30 de abril de 2014

DEIXE O COLAR DE OURO EM CASA

BLOOMBERG.COM, 29 de abril de 2014 00:01 GMT-0300 


Vai à Copa do Mundo Rio? Deixe o colar de ouro em casa


Por David Biller

Fotógrafo: Dado Galdieri / Bloomberg


Os fãs assistir a um jogo no recém-reformado estádio do Maracanã, durante o torneio de futebol Campeonato Carioca, no Rio de Janeiro em 6 de abril de 2014.


Os dois meninos tinham facas. Então Carlos Guzman entregue seu anel de casamento, iPhone e carteira. O que realmente incomodava era que a polícia disse que sabia onde um dos meninos viviam, ainda não tomou nenhuma atitude.

"Eles me disseram que eu tive sorte eu não ofereceu qualquer resistência, porque esse garoto tem sido conhecida a esfaquear as pessoas, mas já que ele é menor de idade que não podem fazer nada", disse Guzman, de 36 anos. "Eu acho que vai piorar com a Copa do Mundo. "

O crime da rua está crescendo no Rio de Janeiro, o maior destino turístico do Brasil, como cinta de polícia para os 400 mil fãs esperados para o torneio de futebol quadrienal em seis semanas. A ilegalidade coincide com uma desaceleração da economia e descontentamento latente depois de uma década de aumentar a paz nas favelas, conhecidas como favelas, espalhadas por toda a cidade.

Os assaltos cresceram 19 por cento no ano passado para 37.412, de acordo com dados oficiais. Isso é o dobro da quantidade em New York City e Cidade do México , embora o Rio, com 6,3 milhões de pessoas, tem cerca de 2 milhões menos moradores. Na principal área turística, que inclui os bairros de Copacabana, Flamengo e Ipanema, onde Guzman foi agredido, tais crimes aumentou 49 por cento. Muggings lá saltou 53 por cento em janeiro do ano passado.

Fotógrafo: Dado Galdieri / Bloomberg
Fãs passam por um posto de segurança antes de um jogo no Maracanã recém-renovado


Praias de Ipanema e Arpoador no ano passado sofreu uma série de incidentes conhecidos como "arrastões", ou "grandes drags", em que gangues atravessar correndo multidões atingindo as pessoas e roubando o que podem. Enquanto canal TV Globo questionou uma mulher na câmera sobre os assaltos, um menino puxou o colocar do entrevistado e o entrevistador correu atrás dele em vão.

"Sabemos que o nosso país pode ser prejudicado quando essa violência é visto pelo mundo", ministro dos Esportes, Aldo Brasil Rebelo disse a repórteres em dezembro.

Presença Polícia

Durante a Copa do Mundo, a polícia pretende garantir um perímetro em torno do estádio do Maracanã, onde a partida final será realizada, e outras áreas turísticas e implantar quase 7.000 policiais militares, incluindo 2.000 cujas férias foram adiadas, de acordo com uma declaração de 10 de abril. Outras 156-falantes de línguas estrangeiras oficiais funcionará ao redor da cidade.

A presença da polícia no Rio de Janeiro tem crescido como as autoridades se preparar para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de Verão de 2016. Forças policiais civis e militares atingiram 54.173 em 2013, um aumento de 11 por cento a partir de 2007, de acordo com o escritório de segurança do Estado.

Chegadas de estrangeiros-turísticas do Rio subiu para 1,76 milhões em 2012 a partir de 1,46 milhões uma década antes, de acordo com os dados mais recentes. A agência nacional de turismo espera 600 mil durante a Copa do Mundo de duração de um mês, com dois terços descendente no Rio de Janeiro.

Fotógrafo: Dado Galdieri / Bloomberg
Um membro do Batalhão de Operações Policiais Especiais, conhecida pela sigla BOPE local

Causas Contestação

Funcionários disputar os fatores por trás do salto no crime. As estatísticas variam de "várias razões operacionais", disse o escritório de segurança do Estado em um comunicado enviado por email. José Mariano Beltrame, o chefe de segurança do Estado do Rio, que inclui a cidade, se recusou pedidos de entrevista.

Pedro Fernandes, o secretário de Estado do Rio de assistência social e direitos humanos, disse que acredita que o aumento da criminalidade decorre de um maior uso de drogas, especialmente o crack.

Outros especialistas discordam. Não há nenhuma pesquisa que documenta um aumento no consumo de crack afetando crime, disse Ignacio Cano, professor de sociologia na Univerity do Estado do Rio de Janeiro, ou UERJ. "A ideia de que o crack está por trás do crime é uma mistificação", disse Cano.


Pobreza continuada

Cano aponta para a continuidade da pobreza nas favelas, onde vivem 1,4 milhões de pessoas, ou 22 por cento da população, mesmo com gangues de traficantes em retiro. Polícia desde 2008 estabeleceram 37 chamados unidades de pacificação , conhecidas como UPPs, nas favelas das gangues tinha controladas.

Unidades das unidades começam com a polícia, por vezes acompanhados de tropas e veículos blindados, tomando o controle e, em seguida, permanecendo por meses, ao contrário do ex-tática de incursões relâmpago para capturar criminosos e apreender drogas. Isso muitas vezes levou a luta campal.

Em meio à repressão, a economia nacional tem balbuciou. O produto interno bruto expandiu a uma média de 2 por cento de 2011 a 2013, o mais lento ritmo de três anos em uma década. A mediana das previsões de economistas consultados pela Bloomberg é de 1,8 por cento de crescimento este ano. De 2006 a 2008, a economia cresceu a uma taxa anual de 5,1 por cento.

Rio foi responsável por 5 por cento do PIB nacional em 2011, de acordo com os números mais recentes do governo, segundo a São Paulo. O desemprego entre os anos de idade 18 a 24 foi de 34,2 por cento em março, em comparação com a média nacional de 34,9 por cento.

Mesmo que a cidade se assemelha a um canteiro de obras gigante, os postos de trabalho criados 24.211 no Rio em 12 meses até março foram menos de metade o número no mesmo período do ano anterior, de acordo com o Ministério do Trabalho.


Esgotos a céu aberto

A desaceleração contribuiu para um sentimento desaparecendo de oportunidades, disse Theresa Williamson, diretor-executivo da Catalytic Communities, um grupo de defesa que trabalha em bairros miseráveis. Além da educação pobres, favelas ainda tem energia elétrica irregular e água, coleta de lixo e esgotos, muitas vezes escassa abertos, disse ela.

"As pessoas só recorrem a coisas extremas, quando eles não têm esperança, e dois ou três anos atrás, eles eram muito mais otimista", disse Williamson por telefone do Rio de Janeiro. "O aumento da criminalidade é resultado da falta de esperança."

Para ter certeza, o Rio continua sendo muito menos perigoso do que era na década de 1990, eo retrocesso recente provavelmente não afetará o investimento, de acordo com James Guldbrandsen, uma gestora de ativos no Rio para sede em Nova York NCH Capital Inc.

"Quando cheguei aqui, há 17 anos era um lugar completamente diferente; você não podia andar fora do hotel em Copacabana durante a noite ", disse Guldbrandsen em uma entrevista. "Agora é tudo menos isso. Sim, é passos lentos, mas estamos nos movendo para a frente. "

Homicídios no Rio caiu em 2012 para o nível mais baixo em mais de duas décadas, embora eles gravaram o primeiro aumento em quatro anos, em 2013, subindo 10 por cento.


Favela Atividades

Uma década atrás, gangsters descansava à beira da piscina com suas armas automáticas e namoradas no complexo esportivo Vila Olímpica em uma expansão de favelas conhecido como Alemão, de acordo com o coordenador técnico Gedeon Rosa. Um dia, recentemente, as mulheres idosas praticado hidroginástica, e as crianças fez cursos de futebol, natação e capoeira - uma arte marcial brasileira.

Adolescentes eram escassos. Marcus Gabriel Santos, 15, foi um dos poucos. Mais cedo naquele dia, ele apresentou documentos de um cartão de trabalho do governo. Ele queria evitar ser envolvido em tráfico de drogas, como seu irmão mais velho fez. Para ficar longe de problemas, ele vai para a Vila diariamente para nadar e jogar futebol. A cidade eo Banco Interamericano de Desenvolvimento tem um projeto piloto para atrair jovens em risco do complexo desportivo.

Isso é pouco consolo para Sydney Blumstein, 30, que foi criado para o sol e samba depois de chegar no ano passado. Apenas seis horas depois, ela e uma amiga foram assaltadas em Copacabana. Uma semana depois, dois adolescentes detidos los novamente perto dos Arcos da Lapa, um aqueduto do século 18 e destaque turístico.


Turistas advertido

"Era como ver algo com seus próprios olhos que você já ouviu falar sobre e não acreditam até que aconteça", Blumstein, um Manhattan corretor de imóveis que já visitou 37 países, disse por telefone. "Eu disse a todos que me perguntou sobre Brasil desde então: Não traga nada muito precioso, porque não há uma boa chance de você não vai ser levá-lo para casa. "

Quanto Guzman, que foi assaltado no bairro Ipanema às 8 horas, a polícia disse que os policiais não poderiam prender o suposto autor, como ele não foi pego em flagrante. Ele será convidado para dar um depoimento, de acordo com um comunicado da polícia.

Após Blumstein e sua amiga foram assaltadas com uma faca, a polícia prendeu os meninos e, a pedido dos turistas, lançado em troca de retorno de sua câmera. Eles permitem que os meninos ficar com o dinheiro, e até mesmo deu-lhes um pouco mais.

"Nossa vida é muito difícil", um dos rapazes disse que, de acordo com Blumstein. "E parece que essas meninas têm uma vida que é muito fácil."


Fonte e texto original
http://www.bloomberg.com/news/2014-04-28/headed-to-rio-world-cup-leave-the-gold-necklace-at-home.html

domingo, 27 de abril de 2014

AS TORCIDAS DO BRASIL

REVISTA ISTO É N° Edição: 2318 25.Abr.14 - 20:50




Carlos José Marques, diretor editorial


Pelo esporte e pela política, o Brasil vive hoje sob o embalo das torcidas. Uma delas, naturalmente mais patriótica e generalizada, anseia a vitória da seleção na Copa do Mundo que se aproxima. E a outra, firmemente plantada no mercado e em setores da produção, almeja a derrota da presidenta Dilma nas eleições que ocorrem logo após os jogos. 

Mesmo em campos distintos de interesse – e não necessariamente excludentes entre si –, essas torcidas se movem e são alimentadas pelo crescente clima de expectativa com os eventos que se aproximam. O levante político, expresso em rodas de conversa e encontros setoriais – e mesmo através de indicadores como o da bolsa, que sobe a cada pesquisa informando queda de aprovação da pré-candidata –, tem, na verdade, um componente muito menos personalizado do que se imagina. A grita não é, dizem esses torcedores, contra a figura pessoal da presidenta propriamente dita e sim contra o seu modelo de governo. 

Há uma visível e amplificada inquietação com a paralisia do Estado, com o descontrole dos gastos públicos e da inflação, com o despreparo dos quadros ministeriais, com a falta de regras claras e de planejamento de longo prazo. Existe ainda um sentimento de indignação, em diversas camadas sociais, com as mazelas, os esquemas ilegais e desvios de toda ordem que vêm marcando o aparato estatal. Nesse caldeirão de emoções e insatisfações esquenta o pedido por mudanças. 

O desejo da turba, já demonstrado inclusive nas manifestações de rua, é que o próximo mandatário, seja ele quem for, rompa com tudo isso que está aí e inicie uma gestão mais transparente e menos tolerante aos desmandos e malfeitos. Preservando conquistas, mas estimulando avanços e descartando de vez grupelhos que aparelharam podremente o Estado. 

Dilma, Aécio e Campos, cada um a seu modo, encaram um imenso desafio: eles precisam apresentar a plataforma de transformações para um novo Brasil, mais moderno e em sintonia com a lisura administrativa esperada. 

De seu lado, a presidenta tem a difícil tarefa de convencer que muita coisa será diferente em um eventual segundo mandato. Seus dois adversários vão, por sua vez, precisar mostrar alternativas e como pretendem guiar o País para tirá-lo da segunda divisão das nações. A torcida brasileira ainda está na retranca, mas dará o tom de seu apoio logo que perceber qual deles tem a melhor tática de jogo.

A COPA DO ACERTO DE CONTAS



ZERO HORA 27 de abril de 2014 | N° 17776


EDITORIAL INTERATIVO




Faltando 45 dias para o início do Mundial, o Brasil ainda não apresenta um clima festivo de Copa do Mundo, mas já tem mais certezas do que dúvidas: a competição organizada pela Fifa será, sim, realizada pelos brasileiros e todos temos que nos esforçar para que seja bem-sucedida. Todos é modo de dizer, pois os discordantes têm todo o direito de não fazer nada para ajudar, desde que, logicamente, também não façam nada para atrapalhar. O que se espera, agora que o evento se tornou inevitável e assumiu a dimensão de compromisso do país, é que apoiadores e opositores ajam civilizadamente, exercitando a pleno seus direitos democráticos.

Ainda que a Fifa não seja a Miss Simpatia, que as obras tenham atrasado e que os gastos tenham ultrapassado as previsões, já é certo que teremos estádios modernos e bonitos para os jogos e algumas melhorias importantes nas cidades escolhidas para sediá-los. O mais importante, porém, é que o Brasil cumpra o compromisso assumido perante a comunidade internacional e ofereça tanto aos visitantes quanto aos locais condições dignas de segurança e comodidade.

Não conta a nosso favor o atraso nas obras e algumas decisões deixadas para a última hora, quando já sabíamos que a Copa seria aqui há sete anos. Basta um olhar retrospectivo para se perceber erros imperdoáveis no planejamento e na execução do trabalho preparatório. Mas agora que estamos na reta final, faltando pouco mais de um mês para o jogo de abertura, não adianta ficar lamentando as falhas. O melhor é concentrar a energia no que falta fazer.

Depois, sim, caberá fazer um balanço geral, especialmente dos gastos públicos, que ultrapassaram em muito todos os orçamentos iniciais. Terminado o Mundial, o Brasil fica na obrigação de realizar internamente uma outra Copa – a Copa do acerto de contas com os contribuintes.

Agora, porém, é fundamental que governantes, homens públicos, lideranças esportivas e cidadãos caminhem no mesmo sentido, até mesmo para administrar democraticamente as manifestações de grupos inconformados. Se a Copa das Confederações foi um sucesso, mesmo tendo sido realizada no momento mais agudo dos protestos, pode-se esperar o mesmo da Copa do Mundo. Obviamente, as ameaças não devem ser subestimadas. Ninguém ignora que grupos organizados, corporações profissionais e organizações políticas já estão se articulando para aproveitar o momento de grande visibilidade do Mundial e promover atos públicos. É do jogo. Desde que a ordem pública seja mantida.

***

O editorial foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial defende a Copa, mas pede acerto de contas depois. Você concorda?

O LEITOR CONCORDA

Sou favorável à realização da Copa do Mundo no Brasil. Sempre vi o povo brasileiro eufórico e apaixonado por futebol. O Brasil tem uma história muito linda de participação em muitas Copas. Agora, chegou a nossa vez. Vamos mostrar que somos um povo desportista, respeitoso e acolhedor. É claro que todo gasto realizado para esta festividade deve ser responsável e o povo deve saber como e quanto foi gasto. Se houver desvios, superfaturamento, ou qualquer coisa que comprometa a lisura dos gastos, que os responsáveis sejam rigorosamente punidos.

Rudi Freiberger

Santo Augusto (RS)

O mínimo que se espera – e que a Constituição da República exige! – é que haja prestação de contas de todos os recursos públicos utilizados na Copa: para estádios, para as estruturas temporárias (especialmente no caso das renúncias fiscais) e para obras de entorno. E que não se espere a fiscalização dos Tribunais de Contas, do Ministério Público e dos demais órgãos de controle – interno e externo – para que essa prestação de contas comece. Todos os beneficiados com recursos públicos devem – como manda a Constituição – prestar contas do dinheiro público que receberam. Exatamente pelo fato de nossa saúde, nossa educação, nossa segurança pública e outras áreas não serem aquelas que deveriam ser – pelo volume de tributos que pagamos – é que essas prestações de contas devem ser exigidas. E não só pelos órgãos de controle, mas por qualquer cidadão! Falar contra a Copa e fazer passeata é fácil, mas quem de nós exigirá a prestação de contas desse dinheiro?

César Augusto Hülsendeger

Porto Alegre (RS)

O LEITOR DISCORDA

Acerto de contas no rasil? Isso provavelmente não vai acontecer, exemplos para isso não faltam, aqui quase tudo acaba em pizza, um escândalo vai abafando o outro e assim vamos andando. Depois da Copa vem a Olimpíada, mais obras não vão ficar prontas, mais dinheiro será desviado e no fim tudo fica por isso mesmo.

Claiton Brezolin

Tapejara (RS)

Os black blocs, embora covardes e dissimulados, não são mais ameaçadores do que parte das empreiteiras e construtoras, entre outros tantos irresponsáveis que atrasaram as obras, que superfaturaram. Se não conhecemos os rostos dos imbecis atrás das vendas, desconhecemos também o bando de safados que está por trás da Copa e de um CNPJ, enchendo as burras com o dinheiro público. É possível que tenham combinado, farinha ruim do mesmo saco. A Copa é irremediável e a festa terá que ser bonita, por nossa autoestima. No entanto, considerando as manobras históricas das elites brasileiras, dificilmente haverá, depois, a copa da transparência. Sarney segue o godfather do Maranhão, Maluf está solto, Renan Calheiros preside o Senado, a bancada evangélica aumenta a cada eleição, a educação é um lixo, Vargas é outro suspeito no ninho do PT (lembram do partido da ética e da mudança?), os militares temem a verdade, o mensalão tucano foi para as cucuias, e assim caminha a nação canarinho. Tristeza!

Paulo Gaiger

Pelotas (RS)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A COPA JÁ ERA



PORTAL DO ROMARIO 22ABR
http://www.romario.org/news/all/copa-ja-era-por-jose-luiz-souto-maior/

Jorge Luiz Souto Maior



1. A perda do sentido humano


O debate entre os que defendem a causa “não vai ter copa” e os que afirmam “vai ter copa” está superado. Afinal, haja o que houver, o evento não vai acontecer, ao menos no sentido originariamente imaginado, como instrumento apto a gerar lucros e dividendos políticos “limpinhos”, como se costuma dizer, pois não é mais possível apagar os efeitos deletérios que a Copa já produziu para a classe trabalhadora brasileira. É certo, por exemplo, que para José Afonso de Oliveira Rodrigues, Raimundo Nonato Lima Costa, Fábio Luiz Pereira, Ronaldo Oliveira dos Santos, Marcleudo de Melo Ferreira, José Antônio do Nascimento, Antônio José Pitta Martins e Fabio Hamilton da Cruz, mortos nas obras dos estádios, já não vai ter Copa!

Aliás, a Copa já não tem o menor valor para mais de 8.350 famílias que foram removidas de suas casas no Rio de Janeiro, em procedimento que, como adverte o jornalista Juca Kfouri, no documentário, A Caminho da Copa, de Carolina Caffé e Florence Rodrigues, “lembram práticas nazistas de casas que são marcadas num dia para serem demolidas no dia seguinte, gente passando com tratores por cima das casas”. Essas práticas, segundo relatos dos moradores, expressos no mesmo documentário, incluíram invasões nas residências, para medir, pichar e tirar fotos, estabelecendo uma lógica de pressão a fim de que moradores assinassem laudos que atestavam que a casa estava em área de risco, sob o argumento de que na ausência de assinatura nada receberiam de indenização, o que foi completado com o uso da Polícia para reprimir, com extrema violência, os atos de resistência legítima organizados pelos moradores, colimando com demolições que se realizaram, inclusive, com pessoas ainda dentro das casas. As imagens do documentário mencionado são de fazer chorar e de causar indignação, revolta e repúdio, como o são também as imagens da violência utilizada para a desocupação de imóvel da VIVO na zona norte do Rio de Janeiro, ocorrida no dia 11 de abril de 2014, onde se encontravam 5.000 pessoas. Lembre-se que as remoções para a Copa ocorreram também em Cuiabá, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Manaus, São Paulo e Fortaleza, atingindo, segundo os Comitês Populares da Copa, cerca de 170 mil famílias em todo o Brasil.

A Copa já não tem sentido para o Brasil, como nação, visto que embora sejam gastos cerca de R$ 30 bilhões para o montante total das obras, sendo 85% vindos dos cofres públicos, a forma como se organizou – ou não se organizou – a Copa acabou abalando a própria imagem do Brasil. Ou seja, mesmo se pensarmos o evento do ponto de vista econômico e ainda que, imediatamente, se possa chegar a algum resultado financeiro positivo, considerando o que se gastou e o dinheiro que venha a ser atraído para o mercado nacional, é fácil projetar um balanço negativo em razão da quebra de confiabilidade.

Se o Brasil queria se mostrar, como de fato não é, para mais de 2 bilhões de telespectadores, pode estar certo de que a estratégia já não deu certo.

A propósito, a própria FIFA, a quem se concederam benefícios inéditos na história das Copas, tem difundido pelo mundo uma imagem extremamente negativa do Brasil, que até sequer corresponde à nossa realidade, pois faz parecer que o Brasil é uma terra de gente preguiçosa e descomprometida, quando se sabe que o Brasil, de fato, é um país composto por uma classe trabalhadora extremamente sofrida e dedicada e onde se produz uma inteligência extremamente relevante em todos os campos do conhecimento, mas que, enfim, serve para demonstrar que maquiar os nossos problemas sociais e econômicos não terá sido uma boa estratégia.

2. Ausência de beneficio econômico

Mesmo que entre perdas e ganhos o saldo econômico seja positivo, há de se indagar qual o preço pago pela população brasileira, vez que restará a esta conviver por muitos anos com o verdadeiro legado da Copa: alguns estádios fantasmas e obras inacabadas, nos próprios estádios e em aeroportos e avenidas, além da indignação de saber que os grandes estádios e as obras em aeroportos custaram milhões aos cofres públicos, mas que, de fato, pouca serventia terão para a maior parte da classe operária, que raramente viaja de avião e que tem sido afastada das partidas de futebol, em razão do processo notório de elitização incrementado neste esporte.

Oportuno frisar que o dinheiro público utilizado origina-se da riqueza produzida pela classe trabalhadora, vez que toda riqueza provém do trabalho e ainda que se diga que não houve uma transferência do dinheiro público para o implemento de uma atividade privada, vez que tudo está na base de empréstimos, não se pode deixar de reconhecer que foram empréstimos com prazos e juros bastante generosos, baseados na previsibilidade de ganhos paralelos com o evento, ganhos que, no entanto, já se demonstram bastante questionáveis.

No caso do estádio Mané Garrincha, em Brasília, por exemplo, com custo final estimado em R$1,9 bilhões, levando-se em consideração o resultado operacional com jogos e eventos obtidos em um ano após a conclusão da obra, qual seja, R$1.137 milhões, serão precisos 1.167 anos para recuperar o que se gastou, o que é um absurdo do tamanho do estádio, ainda que o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o secretário executivo da pasta, Luis Fernandes, tenham considerado o resultado, respectivamente, “um êxito” e “um exemplo contra o derrotismo”.

O problema aumenta, gerando indignação, quando se lembra que não se tem visto historicamente no Brasil – desde sempre – a mesma disposição de investir dinheiro público em valores ligados aos direitos sociais, tais como educação pública, saúde pública, moradias, creches e transporte.

O que se sabe com certeza é que a FIFA, que não precisa se preocupar com nenhum efeito social e econômico correlato da Copa, obterá um enorme lucro com o evento. “Uma projeção feita pela BDO, empresa de auditoria e consultoria especializada em análises econômicas, financeiras e mercadológicas, aponta que a Copa do Mundo de 2014 no Brasil vai render para a Fifa a maior arrecadação de sua história: nada menos do que US$ 5 bilhões entrarão nos cofres da entidade (cerca de R$ 10 bilhões).”

3. O prejuízo para o governo

O governo brasileiro, que tenta administrar todos os prejuízos do evento, vê-se obrigado, pelo compromisso assumido por ocasião da candidatura, a conferir para a FIFA garantias, que ferem a Constituição Federal e que, por consequência, estabelecem um autêntico Estado de exceção, para que o lucro almejado pela FIFA não corra risco de diminuição, entregando-lhe, além dos estádios, que a FIFA utilizará gratuitamente:

a) a criação de um “local oficial de competição”, que abrange o perímetro de 2 km em volta do estádio, no qual será reservada à FIFA e seus parceiros, a comercialização exclusiva, com proibição do livre comércio, inclusive de estabelecimentos já existentes no tal, caso seu comércio se relacione de alguma forma ao evento;

b) a institucionalização do trabalho voluntário, para serviços ligados a atividade econômica (estima-se que cerca de 33 mil pessoas terão seu trabalho explorado gratuitamente, sem as condições determinadas por lei, durante o período da Copa no Brasil);

c) o permissivo, conferido pela Recomendação n. 3/2013, do CNJ, da exploração do trabalho infantil, em atividades ligadas aos jogos, incluindo a de gandula, o que foi proibido, ainda que com bastante atraso, em torneios organizados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), desde 2004, seguindo a previsão constitucional e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

d) a liberdade de atuar no mercado, sem qualquer intervenção do Estado, podendo a FIFA fixar o preço dos ingressos como bem lhe aprouver (art. 25, Lei Geral da Copa);

e) a eliminação do direito à meia-entrada, pois a Lei Geral da Copa permitiu à FIFA escalonar preços em 4 categorias, que serão diferenciadas, por certo, em razão do local no estádio, sendo fixada a obrigatoriedade de que se tenha na categoria 4, a mais barata (não necessariamente com preço 50% menor que a mais cara), apenas 300 mil ingressos, sem quórum mínimo para cada jogo, e apenas dentre estes é que se garantiu a meia entrada para estudantes, pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; e participantes de programa federal de transferência de renda, que, assim, foram colocados em concorrência pelos referidos ingressos;

f) o afastamento da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, deixando-se os critérios para cancelamento, devolução e reembolso de ingressos, assim como para alocação, realocação, marcação, remarcação e cancelamento de assentos nos locais dos Eventos à definição exclusiva da FIFA, a qual poderá inclusive dispor sobre a possibilidade: de modificar datas, horários ou locais dos eventos, desde que seja concedido o direito ao reembolso do valor do ingresso ou o direito de comparecer ao evento remarcado; da venda de ingresso de forma avulsa, da venda em conjunto com pacotes turísticos ou de hospitalidade; e de estabelecimento de cláusula penal no caso de desistência da aquisição do ingresso após a confirmação de que o pedido de ingresso foi aceito ou após o pagamento do valor do ingresso, independentemente da forma ou do local da submissão do pedido ou da aquisição do Ingresso (art. 27).

4. O prejuízo para a cidadania

Para garantir mesmo que o lucro da FIFA não seja abalado, o Estado já anunciou que o evento terá o maior efetivo de policiais da história das Copas, com gasto estimado de 2 bilhões de reais, mobilizando, inclusive, as Forças Armadas, tudo isso não precisamente para proteger o cidadão contra atos de violência urbana, mas para impedir que o cidadão, vítima da violência da Copa, possa se insurgir, democraticamente, contra a sua realização.

A respeito das manifestações, vale frisar, é completamente impróprio o argumento de que como nada se falou antes, agora é tarde para os cidadãos se insurgirem. Primeiro, porque quando o compromisso foi firmado ninguém foi consultado quanto ao seu conteúdo. E, segundo, porque nenhum silêncio do povo pode ser utilizado como fundamento para justificar o abalo das instituições do Estado de Direito, vez que assim toda tirania, baseada na força e no medo, estaria legitimada. O argumento, portanto, é insustentável e muito grave, sobretudo no ano em que a sociedade brasileira se vê diante do desafio de saber toda a verdade sobre o golpe de 1964 e os 21 anos da ditatura civil-militar.

Deve-se acrescentar, com bastante relevo, que o evento festivo, composto por alguns jogos de futebol, está sendo organizado de modo a abranger toda a sociedade brasileira, impondo-lhe os mais variados sacrifícios, pois impõe uma intensa alteração da própria rotina social, atingindo a pessoas que nenhuma relação possuem com o evento ou mesmo que tenham aversão a ele.

O próprio calendário escolar foi alterado, para que não houvesse mais aulas durante a Copa, buscando, de fato, melhorar artificialmente o trânsito e facilitar o acesso aos locais dos jogos. A educação, que é preceito fundamental, que se arranje, pois, afinal, é ano da Copa! Algumas cidades, para melhor atingir esse objetivo da facilitar a circulação, mascarando os problemas do transporte, pensam, seriamente, em decretar feriados nos dias de jogo da seleção brasileira, interferindo, também, na lógica produtiva nacional.

Nos serviços públicos já se anunciaram alterações nos horários de funcionamento, de modo a não permitir coincidência com os dias de jogos do Brasil, sendo que em alguns Tribunais do Trabalho (Mato Grosso – em Cuiabá e nas cidades do interior; Rio Grande do Sul e São Paulo, com diferenças de intensidade e de datas); o funcionamento foi suspenso, gerando adiamento das audiências… Ou seja, o trabalhador, que esperou meses para ser atendido pela Justiça, verá sua audiência adiada para daqui a alguns novos meses, pois, afinal, era dia de jogo da Copa!

Somados todos esses fatores, é fácil entender que a Copa já perdeu todo o sentido para a nação brasileira. Não por outra razão, aliás, é que a aprovação para a realização da Copa no Brasil, em novembro de 2008, que era de 79% caiu, em abril de 2014, para 48%, e os que eram contrários subiram, no mesmo período, de 10% para 41%, sendo que mais da metade dos brasileiros considera que os prejuízos serão maiores que os ganhos.

5. O prejuízo para a razão

Numa leitura otimista, o diretor-geral do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo Fifa 2014, que se chama, por coincidência reveladora, Ricardo Trade (comércio, em inglês), prefere dar destaque ao fato de que 48% são a favor e apenas 41% são contra, avaliando, então, que o copo está meio cheio. Só não consegue ver que o copo está esvaziando e que, de fato, nos trens e ônibus, que transportam os trabalhadores, só se fala da Copa para expressar indignação com relação às condições do transporte, da saúde, das escolas, e da falta de creches.

Sintomático, aliás, o fato de que as periferias das grandes cidades não estão pintadas para a “festa” do futebol, como estavam nas Copas anteriores e isso porque, com a Copa sendo realizada aqui, é possível ver as disparidades e perceber com maior facilidade como a retórica do legado não atinge, concretamente, a vida da classe trabalhadora.

Os tais empregos gerados são precários e inseridos, sobretudo nas obras de estádios, aeroportos e vias públicas, na lógica perversa da terceirização, sendo que muitos trabalhadores ainda serão explorados sem qualquer remuneração no mal denominado trabalho “voluntário”, referido com orgulho pelo “Senhor Comércio”.
Fato é que não será mais possível assistir a um jogo da Copa, no estádio, pela TV ou nos circos armados do “Fan Fest” e se emocionar com uma jogada ou um gol, sem lembrar do preço pago: assalto à soberania; Estado de exceção; gastos públicos; abalo da confiabilidade em razão da desorganização; violências dos despejos, dos acidentes de trabalho e da repressão policial.

Sobre o Fan Fest, ademais, é oportuno esclarecer que se trata de um “evento oficial” da Copa da FIFA, que deve ser organizado e custeado pelas cidades sedes de jogos, para que os excluídos dos estádios possam assistir aos jogos por um telão, com o acompanhamento de shows. Esse evento, organizado e pago pelo Estado (que se fará em São Paulo mediante pareceria com o setor privado, conforme Comunicado de Chamamento Público n. 01/2014/SMSP, que estabeleceu o prazo de uma semana para o oferecimento de ofertas), realizado em espaço público, atende aos interesses privados da FIFA e suas parceiras. No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, o Decreto n. 55.010, de 9 de abril de 2014, assinado pela vice-prefeita em exercício, Nádia Campeão (em nova coincidência reveladora), que regulou o evento, transforma a área pública do Fan Fest em uma área privada, reservada, como dito no Decreto, aos fãs da Copa. Nos termos expressos no Decreto: “FAN FEST: área do Vale do Anhangabaú indicada pela cidade-sede e reconhecida pela FIFA como área de lazer exclusiva aos fãs da Copa do Mundo FIFA 2014” (inciso VIII, do art. 2º.) – grifou-se

O mesmo Decreto fixa esse local, o do Fan Fest, como área de “restrição comercial”, que são “áreas definidas pelo Poder Público Municipal com perímetros restritos no entorno de locais oficiais específicos de competição, nas quais, respeitadas as normas legais existentes, fica assegurada a exclusividade prevista no artigo 11 da Lei Federal nº 12.663, de 2012, à FIFA ou a quem ela autorizar” (inciso XIII, do art. 2º.), valendo reparar que o Decreto, artificialmente, amplia, em muito, a extensão geográfica do Vale do Anhangabaú: “FAN FEST: a partir do Largo da Memória, Rua Formosa, Viaduto do Chá, Praça Ramos de Azevedo, Rua Conselheiro Crispiniano, Rua Capitão Salomão, Praça Pedro Lessa, Largo São Bento, Rua Florêncio de Abreu, Rua Boa Vista, Rua Líbero Badaró, Praça do Patriarca, alça de retorno da Av. 23 de Maio do sentido Bairro/Centro para o sentido Centro/Bairro, Av. 23 de Maio, entre o Largo da Memória e o Viaduto do Chá, conforme Anexo II deste decreto” (inciso II, do art. 3º.), atingindo até mesmo o espaço aéreo: “Os espaços aéreos correspondentes aos perímetros descritos nos incisos I e II do “caput” deste artigo também se constituem em áreas de restrição comercial” (parágrafo único do art. 3º.).

É importante saber que ao se impedir a comercialização na área reservada a Prefeitura de São Paulo acabou interrompendo um processo de negociação, iniciado em maio de 2012, com os ambulantes que atuavam na cidade e, em especial, na região central, onde se situa o Vale do Anhangabaú, e cuja licença havia sido cassada no contexto de uma política de endurecimento muito forte quanto à fiscalização de sua atuação, que fora intensificada, exatamente, a partir de 2011, quando houve a assinatura do termo de compromisso, anunciando São Paulo como uma das cidades sedes da Copa. Em 2012, acabaram sendo canceladas todas as 5.137 licenças dos ambulantes e até hoje, mesmo após instaurado, desde 2012, um grupo de trabalho tripartite – trabalhadores, sociedade civil e prefeitura (Fórum dos Ambulantes), para a discussão do problema, nada se resolveu e, em concreto, ao editar o Chamamento Público acima citado, a Prefeitura acabou dificultando sobremaneira a pretensão dos ambulantes de terem alguma atuação comercial durante a Copa. É a Copa, na verdade, fechando postos de trabalho!

6. De novo o dinheiro

Há de se considerar que todos esses efeitos já foram produzidos e continuarão repercutindo na vida real para além da Copa, ainda que o saldo econômico desta venha a ser positivo.

E se o tema é dinheiro, há de se indagar: dinheiro para quem, cara pálida? É evidente que o benefício econômico não ficará para a classe trabalhadora e sim para quem explora o trabalho ou se vale da lógica de reprodução do capital. Para o trabalhador, o dinheiro que se direciona é o fruto do trabalho realizado, que, de fato, na lógica do modelo de sociedade capitalista, não representa, jamais, o equivalente necessário para restituir à classe trabalhadora como um todo o valor do trabalho empregado no serviço ou na obra. A lógica econômica da Copa não é outra coisa senão a intensificação do processo de acumulação de riqueza por meio da exploração do trabalho alheio, sendo que se considerarmos a utilização do denominado “trabalho voluntário”, que se realizará sem qualquer custo remuneratório, a acumulação que se autoriza é ainda maior.

O tal efeito benefício econômico, a que tanto se alude, portanto, não será, obviamente, revertido à classe trabalhadora. Esta, inclusive, será enormemente prejudicada, na medida em que o dinheiro público utilizado para financiar a atividade lucrativa de índole privada foi extraído da tributação realizada sobre a riqueza produzida pelo trabalho e que, assim, deveria ser, prioritariamente, revertida ao conjunto da classe trabalhadora para a satisfação das necessidades essenciais garantidas por preceitos constitucionais: escolas, hospitais, previdência e assistência social, creches e transporte, por exemplo. É completamente ilógico dizer, como disse o diretor-geral do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo Fifa 2014, no texto mencionado, que se está usando o dinheiro público para incentivar uma produção privada com o objetivo de, ao final, tributar essa produção e devolver o dinheiro aos cofres públicos.

O argumento seria apenas ilógico não fosse, também, digamos assim, carregado de alguns equívocos, o que o torna, portanto, muito mais grave. Ora, como adverte Maurício Alvarez da Silva, pelos termos da Lei Geral da Copa, Lei n. 12.350/10, “foi concedida à Fifa e sua subsidiária no Brasil, em relação aos fatos geradores decorrentes das atividades próprias e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos, isenção de praticamente todos os tributos federais”.

Além disso, em 17 de maio de 2013, o governo federal publicou no “Diário Oficial da União decreto que concede isenção de tributos federais nas importações destinadas à Copa das Confederações neste ano e à Copa do Mundo de 2014. Entre os produtos incluídos na isenção estão alimentos, suprimentos médicos, combustível, materiais de escritório, troféus. O benefício abrange Imposto sobre Produtos Industrializados incidente na importação, Imposto de Importação, PIS/Pasep-Importação, Cofins-Importação, Taxa de utilização do Siscomex, Taxa de utilização do Mercante, Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante e Cide-combustíveis”.

Em concreto, continuarão sendo tributados apenas as empresas nacionais, que não estejam integradas ao rol das apaziguadas da FIFA, sofrendo, ainda, com a isenção concedida às importadoras, os trabalhadores e os consumidores, sendo que o valor circulado nesta seara é ínfimo se considerarmos aquele, sem tributação, destinado à FIFA e suas parceiras e às importadoras.

7. De novo os ataques aos trabalhadores

Quando os trabalhadores, saindo da invisibilidade, se apresentam no cenário político e econômico e se expressam no sentido de que planejam uma organização coletiva para tentarem diminuir o prejuízo, buscando, por meio de reivindicações grevistas, atrair para si uma parte maior do capital posto em circulação em função da Copa, logo algum economista de plantão vem a público com a ameaça de que tais ganhos podem resultar em demissões futuras.

Mas, essa possibilidade aventada pelos trabalhadores de se fazerem ouvir na Copa, que pode, em concreto, minimizar o prejuízo dos trabalhadores, no processo de acumulação, e do país, na evasão de riquezas, acabou provocando uma reação institucional imediata, afinal o compromisso assumido pelo Estado brasileiro foi o de permitir que a FIFA obtivesse o seu maior lucro da história. Então, a Justiça do Trabalho se adiantou e divulgou que vai estabelecer um sistema de plantão para julgar, com a máxima celeridade (de um dia para o outro), as greves que ocorram durante a Copa, com o pressuposto já anunciado de que “as greves têm custo para os trabalhadores, empregadores e população”, sendo certo que a Copa não pode ser usada para “expor o país a uma humilhação internacional, como no Carnaval, quando houve greve de garis”.

Pouco importa o quanto a Justiça do Trabalho, historicamente, demora para dar respostas aos direitos dos trabalhadores, no que se refere às diversas formas de violências de que são vítimas em razão das práticas de algumas empresas no que tange à falta de registro, ao não pagamento de verbas rescisórias, ao não pagamento de horas extras, ao não pagamento de indenizações por acidentes do trabalho etc. Mesmo que já tendo melhorado sobremaneira na defesa dos interesses dos trabalhadores, transmite ainda a ideia central de que o que importa é ser célere quando isso interessa ao modelo econômico, que se vale da exploração do trabalho para reproduzir o capital.

A iniciativa repressiva da Justiça, ademais, foi aplaudia, rapidamente, por editorial do jornal Folha de S. Paulo, o qual, inclusive, em declaração, no mínimo, infeliz, chamou os trabalhadores de oportunistas:
É uma iniciativa elogiável para evitar o excesso de oportunismo sindical, que não hesita em prejudicar o público e ameaçar o principal evento do ano no país.

Ou seja, todo mundo pode ganhar, menos os trabalhadores. Parodiando a máxima penal, é como se lhes fosse dito: “tudo que vocês ganharem pode ser utilizado contra vocês mesmos…”

Como foram as condições de trabalho nas obras? Quantos trabalhadores não receberam ainda os seus direitos por serviços que prestaram para a realização da Copa? Segundo preconizado pelo viés dessa preocupação, nada disso vem ao caso… Na visão dos que só veem imperativo obrigacional de realizar a Copa, como questão de honra, custe o que custar, o que importa é que o “público” receba o proveito dos serviços dos trabalhadores e se estes não ganham salário digno ou se trabalham em condições indignas não há como trazer à tona, para não impedir a realização do evento e para não abalar a imagem no Brasil lá fora.

Mas, concretamente, que situação pode constranger mais a figura do Brasil no exterior? O Brasil que faz greves? Ou o Brasil em que os trabalhadores são submetidos a condições subumanas de trabalho e que não permite que esses mesmos trabalhadores, em geral invisíveis aos olhos das instituições brasileiras, se insurjam contra essa situação, tendo que aproveitar o momento de um grande evento para, enfim, ganhar visibilidade, inclusive, internacional?
Na verdade, a humilhação internacional, a qual não se quer submeter o Brasil, é a de que o mundo saiba como o capitalismo aqui se desenvolve, ainda marcado pelos resquícios culturais de quase 400 anos de escravidão e sem sequer os limites concretos da eficácia dos Direitos Humanos e dos direitos sociais, promovendo, em concreto, uma das sociedades mais injustas da terra.

8. O perverso legado das condições de trabalho na Copa

Do ponto de vista da realidade, é preciso consignar que a pressa na execução das obras ainda tem aumentado a espoliação da classe trabalhadora com elevação das jornadas de trabalho, cuja retribuição, ainda que paga, nunca é suficiente para atingir o nível da equivalência, ainda mais quando são implementadas fórmulas jurídicas fugidias do efetivo pagamento (banco de horas, compensações etc.). O trabalho em jornadas extraordinárias, ademais, gera um desgaste físico e mental do trabalhador que não é computado e não se compensa por pagamento.

Além dos acidentes do trabalho citados inicialmente, portanto, é importante adicionar ao legado da Copa para a classe trabalhadora as más condições de trabalho, caracterizadas pela elevação das jornadas de trabalho, pelo aumento do ritmo do trabalho e da pressão pela celeridade.

O relato de alguns fatos, extraídos do noticiário jornalístico, auxilia na visualização desse contexto de supressão de direitos dos trabalhadores no período de preparação para a Copa.

Em setembro de 2013, 111 migrantes, vindos do Maranhão, Sergipe, Bahia e Pernambuco foram encontrados em condições análogas à de escravos na obra de ampliação do aeroporto de Guarulhos/SP, o mais movimentado da América Latina, sob a responsabilidade da empresa OAS, que além de ser uma das maiores construtoras do Brasil, é também a terceira empresa que mais faz doações a candidatos de cargos políticos, segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, sendo uma das quatro empresas que formam o consórcio Invepar que, junto com a Airports Company South Africa, detêm 51% da sociedade com a Infraero para a administração do Aeroporto Internacional de Guarulhos através da GRU Airport e que para as obras de ampliação do aeroporto, onde foi flagrado trabalho escravo, obteve do BNDES um empréstimo-ponte de R$1,2 bilhões.

E a OAS, evidentemente, declarou que “vem apurando e tomando todas as providências necessárias para atender às solicitações” do Ministério do Trabalho e Emprego, negando que as vítimas fossem suas empregadas ou que tivesse tido qualquer “participação no incidente relatado”.

Até abril de 2012, conforme reportagem de Vinícius Segalla, oito dos doze estádios da Copa já haviam enfrentado greves, atingindo 92 dias de paralisação, sendo o recorde do Maracanã, no Rio de Janeiro, com 24 dias. As reivindicações foram variadas, indo desde questões ligadas à remuneração até o desrespeito de direitos como pagamento de horas extras e fornecimento de planos de saúde. Segundo a reportagem, “Em uma das quatro paralisações já ocorridas em Pernambuco, no início de novembro do ano passado, o motivo foi a forma como a Odebrecht lidou com as reivindicações dos trabalhadores. É que a empreiteira demitiu dois funcionários da arena que eram membros da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) porque eles teriam incitado os trabalhadores a fazer greve. A demissão dos operários, junto com denúncias de assédio moral supostamente praticados pelo responsável pela segurança do canteiro, levou os funcionários a decretar greve.”

Também nos termos da reportagem, “a empresa explicou ao UOL Esporte que ‘Os dois empregados membros da Cipa foram demitidos por justa causa, por cometimento de flagrante ato de indisciplina, quando, no último dia 31 de outubro, instigaram os colegas a paralisarem a obra da Arena da Copa, sem nenhuma razão plausível’.” Embora, depois, por meio de nota tenha dito que as dispensas se deram sem justa causa.

A situação, revela a mesma reportagem, foi também bastante séria na greve do Maracanã, em setembro de 2011, cuja motivação, segundo Nilson Duarte, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sitraicp), teria sido o fato de que “foram servidos aos cerca de 2.000 trabalhadores da obra macarrão e feijão estragados, salada com bichos e leite fora da validade”, o que fora negado pelo Consórcio Maracanã (Odebrecht, Delta e Andrade Gutierrez), por meio de nota. O local já havia sido alvo de uma greve, um mês antes, agosto de 2011, por causa de uma explosão no canteiro que feriu um trabalhador.

Relata-se, ainda, que em Manaus (AM), na Arena Amazônia, houve paralisação de um dia, em 22 de março de 2012, porque conta do valor da cesta básica que estava sendo paga aos operários, R$ 37, enquanto que “de acordo com pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos ), o valor da cesta básica, composta por 12 produtos, fechou o mês de março a um custo R$ 251,38 na capital amazonense”, tendo a greve se encerrado com o aumento da cesta para R$ 60, acompanhado da promessa da empresa de que iria “voltar a pagar hora extra aos sábados, o que parara de fazer três meses antes”.

Na arena de Pernambuco, no início de 2012, foi promovida a dispensa coletiva de 560 empregados, conforme destacado em reportagem de Paulo Henrique Tavares, que vale a pena reproduzir:

A sexta-feira marcou a volta aos trabalhos dos operários responsáveis pela construção da Arena Pernambuco, na cidade de São Lourenço da Mata. E como “boas-vindas”, 560 trabalhadores acabaram recebendo o comunicado de demissão. A expectativa da comissão organizadora da recente greve, que paralisou as obras do estádio por oito dias, é de que outros mil funcionários peçam a carta de dispensa até o fim da tarde.

Por considerar “abusiva e ilegal”, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE) exigiu, na quinta-feira, a volta aos trabalhos dos grevistas, com penalidade de R$ 5 mil, por dia, ao sindicato da categoria, o Sintepav, em caso de descumprimento. Apesar da obrigatoriedade, a ideia dos remanescentes nas obras da Arena Pernambuco é praticar – como os próprios denominam – uma “operação tartaruga”.

“Eu vim preparado para ser demitido. Como não fui, a maneira que encontrei para ajudar meus companheiros é trabalhar de maneira lenta. Cada prego desta Arena irá demorar pelo menos um dia, para ser colocado”, disse um trabalhador, que preferiu não ser identificado. “Eu não tenho prazo para terminar a obra. Quem tem prazo é o governo.”

Antes das demissões, as obras para a Arena da Copa contavam com 2.437 trabalhadores. Já contando com as saídas desta sexta-feira, cerca de 250 novos operários se apresentaram para o trabalho, em São Lourenço da Mata. “Pelo número de polícias que estão aqui na obra hoje, acredito que eles e o governador Eduardo Campo devem colocar a mão na massa para levantar o estádio até a Copa do Mundo”, falou, em tom irônico, um dos novos desempregados.
Entre as reivindicações, os trabalhadores exigiam aumento de benefícios, como cesta básica de R$ 80 para R$ 120, maior participação nos lucros e resultados (PLR), Plano de Saúde para os profissionais e ajudantes, além de abono dos dias parados e estabilidade de um ano para a comissão dos trabalhadores.

A questão pertinente às condições de trabalho chegou a tal extrema que, na Arena do Grêmio (que não está integrada aos jogos da Copa, mas se alimenta da mesma lógica), em outubro de 2011, os próprios trabalhadores pediram sua demissão, como “forma de protesto pelas condições de trabalho impostas pela empreiteira. A maioria dos trabalhadores é do Maranhão e retornará ainda hoje para seu estado natal.”

No estádio do Itaquerão, os operários disseram, em janeiro de 2014, à reportagem do UOL que estavam recebem salário “por fora” (que impede a tributação e não se integra aos demais direitos dos trabalhadores), “para trabalhar mais do que o previsto pelo acordo e evitar que a inauguração do palco de abertura da Copa do Mundo atrase ainda mais”. Segundo consta da reportagem, “Um soldador que trabalha na obra contou à reportagem que espera receber um salário quatro vezes maior do que o normal neste mês devido às horas extras irregulares que está fazendo”.

Segundo a reportagem, o acordo em questão, firmado com o aval do Ministério do Trabalho e Emprego, em 19 de dezembro de 2013, foi o de que estaria autorizado o trabalho em até duas horas extras diariamente, sendo que, anteriormente, dizem os trabalhadores, havia jornadas de até 16 horas. E, presentemente, as horas além das duas extras permitidas, que já é, por si, grave afronta à Constituição, eram trabalhadas sem marcação em cartão de ponto. “Eles [os chefes] falam para a gente: ‘Não pode atrasar’. Ainda tem muita coisa pra fazer e às vezes é melhor mesmo você trabalhar umas horinhas a mais num dia para terminar uma tarefa e já começa num ponto mais a frente no dia seguinte”, disse à reportagem um ajudante de pedreiro, de 23 anos, que, assim como os outros trabalhadores que conversaram com o UOL Esporte, pediu para não ser identificado.

Nos termos da reportagem, “Além do medo de perder o salário adicional, os funcionários da construtora disseram que foram orientados a não dar entrevistas. ‘Teve uma palestra no fim do ano para falar pra gente tomar cuidado com a imprensa, pra não ficar falando qualquer coisa porque isso só atrapalha a gente’, declara o ajudante de pedreiro.”

Como revela notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, edição de 23/03/14 (p. D-4), foram flagrados pelos jornalistas trabalhadores executando suas tarefas sem as mínimas condições de segurança e de uma subsistência digna em obra do centro de treinamento da seleção da Alemanha no sul da Bahia (Santa Cruz Cabrália).

9. O atentado histórico à classe trabalhadora

A maior parte dos problemas vivenciados pelos trabalhadores nas obras da Copa está ligada à sua submissão ao processo de terceirização e de precarização das condições de trabalho, que acabaram sendo acatados, sem resistência institucional contundente, durante o período de preparação para a Copa, interrompendo o curso histórico que era, até então, de intensa luta pela melhoria das condições de trabalho no setor da construção civil, que é o recordista, vale destacar, em acidentes do trabalho. Essa luta, implementada pelo Ministério Público do Trabalho, tendo como ponto essencial o combate à terceirização, entendida como fator principal da precariedade que gera acidentes, já havia sido, inclusive, encampada pelo Governo Federal, em 2012, ao se integrar, em 27 de abril, ao Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho.

O fato é que o evento Copa, diante da necessidade de se acelerarem as obras, acabou por jogar por terra quase toda, senão toda, a racionalidade que já havia sido produzida a respeito do assunto pertinente ao combate à terceirização no setor da construção civil, chegando-se mesmo ao cúmulo do próprio Superintendente Regional do Trabalho e emprego de São Paulo, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antônio Medeiros, um ex-sindicalista, declarar, sobre as condições de trabalho no Itaquerão, que: “Se esse estádio não fosse da Copa, os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Estamos fazendo de conta que não vemos algumas irregularidades” (entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 03/04/14).

O período da preparação para a Copa, portanto, pode ser apontado como um atentado histórico à classe trabalhadora, que jamais será compensado pelo aludido “aumento de empregos”, até porque, como dito, tais empregos, no geral, se deram por formas precárias. Nas obras o que se viu e se vê – embora não seja visto pelo Ministério do Trabalho e Emprego – são processos de terceirização e quarteirização, sem uma oposição institucional, que, por conseqüência, produz o legado de grave retrocesso sobre o tema, que tende a se estender, perigosamente, para o período posterior à Copa.

Não se pode esquecer que quase todos os acidentes fatais acima mencionados, não por coincidência, atingiram trabalhadores terceirizados, e o Estado de exceção, acoplado ao silêncio institucional sobre as formas de exploração do trabalho (exceção feita a algumas iniciativas individualizadas de membros do Ministério Público do Trabalho) e acatado para garantir a Copa, acabaram servindo como uma luva a certas frações do setor econômico, que serão as únicas, repita-se, que verdadeiramente, se beneficiarão do evento, para desferir novo ataque aos trabalhadores, representado pela tentativa de fuga de responsabilidade da empresa responsável pela obra, transferindo-a à empresa contratada (terceirizada), que possui, como se sabe, quase sempre, irrisório suporte financeiro para arcar com os riscos econômicos envolvidos.

Sobre a morte de José Afonso de Oliveira Rodrigues, a construtora Andrade Gutierrez, responsável pela construção da arena em Manaus, defendeu-se, publicamente, dizendo que Martins trabalhava para a Martifer, empresa contratada para fazer as estruturas metálicas da fachada e da cobertura.

Quando da morte de Marcleudo de Melo Ferreira, também na obra da arena de Manaus, a Andrade Gutierrez repetiu a estratégia, expressando-se em nota:

É com pesar que a Construtora Andrade Gutierrez informa que por volta das 4h da manhã de hoje, 14/12/2013, o operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, natural de Limoeiro do Norte – CE, funcionário de empresa subcontratada que presta serviços na montagem da cobertura da Arena da Amazônia, sofreu uma queda de uma altura de cerca de 35 metros, sendo socorrido e levado ao Pronto Socorro 28 de Agosto ainda com vida, onde não resistiu aos ferimentos e veio a falecer nesta manhã.

Reiteramos o compromisso assumido com a segurança de todos os funcionários e que uma investigação interna está sendo feita para apurar as causas do acidente. As medidas legais estão sendo tomadas em conjunto com os órgãos competentes.

Lamentamos profundamente o acidente ocorrido e estamos prestando total assistência à família do operário. Em respeito à memória do mesmo, os trabalhos deste sábado foram interrompidos. – grifou-se
Igual postura foi adotada pela Odebrecht Infraestrutura, responsável pela obra do Itaquerão, no que tange às mortes de Fábio Luiz Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos. Eis a nota publicada:

A Odebrecht Infraestrutura e o Sport Club Corinthians Paulista lamentam informar que no início da tarde de hoje um acidente na obra da Arena Corinthians provocou o falecimento de dois trabalhadores – Fábio Luiz Pereira, 42, motorista/operador de Munck da empresa BHM, e Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos, montador da empresa Conecta. Pouco antes das 13 horas, o guindaste, que içava o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio, tombou provocando a queda da peça sobre parte da área de circulação do prédio leste – atingindo parcialmente a fachada em LED. A estrutura da arquibancada não foi comprometida. Era a 38ª vez que esse tipo de procedimento realizava-se na obra e uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma semana no setor Sul do estádio. Equipes do corpo de bombeiros estão no local. No momento, todos os esforços estão concentrados para oferecer assistência total às famílias das vítimas.

E para demonstrar que a terceirização, com a utilização da estratégia de se eximir de responsabilidade, não é privilegio da iniciativa privada, quando houve a morte de José Antônio do Nascimento na obra do Centro de Convenções do Amazonas, desenvolvida pelo Centro de Gestão Metropolitana do Município de Manaus ao lado da Arena da Amazônia, a entidade em questão expediu a seguinte nota:

O funcionário da Conserge, empresa que presta serviço para a Unidade de Gestão Metropolitana, José Antônio da Silva Nascimento, de 49 anos, morreu de infarto por volta das 9h da manhã deste sábado (14 de dezembro), quando trabalhava nos serviços de limpeza e terraplanagem para o asfaltamento do Centro de Convenções da Amazônia, localizado na Avenida Pedro Teixeira.

José Antônio se sentiu mal quando subiu em uma caçamba. Uma ambulância do Samu foi acionada imediatamente para realizar o atendimento, mas o trabalhador não resistiu. A Conserge está dando toda a assistência necessária à família da vítima.

Segundo a família de José Antônio, este trabalhava sob pressão devido ao atraso na obra. “Ele trabalhava de domingo a domingo”, afirmou sua cunhada, Priscila Soares.

Por ocasião da morte de Antônio José Pitta Martins, técnico especializado em operações de guindastes de grande porte, que veio de Portugal para trabalhar na obra da Arena da Amazônia, tendo sido atingido na cabeça por uma peça de ferro que se soltou de um guindaste, novamente a fala se repete. Em nota oficial, a empresa responsável técnica pela obra, Andrade Gutierrez, destaca que o trabalhador não era seu empregado, ao mesmo tempo em que deixa claro que “o acidente não interferiu no seguimento das obras”

Eis o teor da nota:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

A Construtora Andrade Gutierrez informa que, por volta das 8h da manhã de hoje, 07/02/2014, um técnico de guindaste de grande porte, funcionário da empresa Martifer, sofreu um acidente nas dependências do sambódromo enquanto desmontava a máquina utilizada nas obras da Arena da Amazônia. O guindaste, que auxiliava os trabalhos da Arena, já estava com as operações encerradas desde 11/01/2014 e desmobilizado em uma área externa. O operador foi socorrido pela equipe de Segurança do Trabalho e levado pelo SAMU até o hospital 28 de Agosto, onde teve seu quadro de saúde estabilizado e foi transferido para o hospital João Lúcio. O acidente não interferiu no seguimento das obras da Arena da Amazônia. – grifou-se
A empresa Martifer Construções Metalomecânica S/A, por sua vez, emitiu nota de pesar, noticiando que iria “apurar as causas do acidente”.

A última morte foi a de Fabio Hamilton da Cruz, que se deu em acidente ocorrido no Itaquerão, após uma queda de oito metros de altura. Fabio, conforme foi várias vezes frisado pelos envolvidos, com difusão na imprensa, era empregado da WDS, uma subcontratada da Fast Engenharia, que fora contratada pela AmBev, que aceitou bancar os 38 milhões de reais para colocação de arquibancadas provisórias, exigidas pela FIFA para que o estádio tivesse a capacidade de público necessária para receber a abertura da Copa do Mundo.

10. A culpabilização das vítimas
A respeito do acidente de Fábio Hamilton da Cruz, o Delegado designado para verificação do ocorrido, após ouvir alguns relatos, um dia depois do ocorrido, sem a realização de qualquer laudo técnico, já concluiu que teria havido um “excesso de confiança” da vítima.

Essa foi, ademais, outra forma de agressão aos direitos dos trabalhadores que a pressa para a realização da Copa acabou reforçando, a da culpabilização da vítima nos acidentes do trabalho.

Ora, como o próprio nome diz, o acidente do trabalho é um sinistro que se dá em função da realização de trabalho em benefício alheio, ao qual, independente da postura da vítima, fica obrigado a reparar o dano, já que o risco da atividade econômica lhe pertence (art. 2º. da CLT) e, consequentemente, é de sua responsabilidade o cuidado com o meio ambiente de trabalho.

É extremamente agressivo à inteligência humana, servindo, inclusive para fazer prolongar no tempo o sofrimento da vítima ou de seus familiares, o argumento, daquele que explora com proveito econômico o trabalho alheio, de que “vai apurar” o ocorrido, deixando transparecer no ar uma acusação, que nem sempre é velada, de que a culpa pelo acidente foi do trabalhador.

Veja-se, por exemplo, o que se passou no caso do Raimundo Nonato Lima Costa, que morreu após uma queda de 35 metros na Arena da Amazônia. Em nota de pesar pela sua morte, a responsável técnica pela obra não teve o menor receio, inclusive, de fazer uma acusação generalizada aos trabalhadores, apontando-os como responsáveis por sua própria segurança. Diz a nota.

NOTA DE PESAR


A Andrade Gutierrez lamenta a morte do operário Raimundo Nonato Lima Costa, ocorrida na noite desta quinta-feira, durante o turno noturno da obra da Arena da Amazônia. A empresa providenciou apoio imediato à família do funcionário e aguarda o resultado dos trabalhos da perícia técnica que foi iniciada pela Polícia Civil com o objetivo de apurar as causas do ocorrido.

A Andrade Gutierrez reitera o compromisso assumido com a segurança de todos os seus funcionários e informa que intensificará o trabalho de conscientização dos operários com foco na prevenção de acidentes.

Por ocasião da morte de Marcleudo de Melo Ferreira, na mesma Arena, já mencionada acima, o secretário da Copa em Manaus, Miguel Capobiango, foi além na agressão aos trabalhadores e desferiu o ataque de que as duas quedas fatais até então havidas na Arena tinham sido fruto do “relaxo” dos operários na utilização dos equipamentos de segurança. “Usar o equipamento de segurança às vezes é chato e nem todos gostam de estar usando. O operário às vezes abre mão por preguiça, então ele relaxa, e é isso que agora nós não podemos deixar”. “Infelizmente, os dois acidentes aconteceram por uma questão básica de não cuidado do trabalhador no uso correto do equipamento.”
E, sobre a morte de Fabio Hamilton da Cruz no estádio no Itaquerão, disse Andrés Sanches: “Na vida, cometemos erros e excessos. Já dirigi carro a 150 km/h. Eu não bebo. Vocês já devem ter dirigido “mamados”. Infelizmente, cometemos erros que acabam em fatalidade. Realmente, é padrão na construção civil.”

11. O retrocesso social e humano da Copa

Bem se vê que o legado maléfico para os trabalhadores brasileiros com a Copa não está apenas nas más condições de trabalho e nos conseqüentes oito acidentes fatais (não se contando aqui os vários outros acidentes do trabalho que não resultaram em óbito), o que, por si, já constitui um grande prejuízo, ainda mais se lembrarmos que as obras para a Copa da África em 2010 deixaram 02 mortes por acidente do trabalho, está também na tentativa explícita de culpar as vítimas, buscando atingir a uma impunidade que reforça a lógica de uma exploração do trabalho alheio pautada pela desconsideração da dignidade humana.

A Copa já trouxe grandes prejuízos à classe trabalhadora e é preciso impedir que se consagrem e se prolonguem, mansa e silenciosamente, para o período pós-Copa. Não tendo sido possível obstar que o Estado de exceção se instaurasse na Copa é essencial, ao menos, não permitir que ele continue produzindo efeitos.

O passo fundamental é o de recuperar a consciência, pois a porta aberta às concessões morais e éticas para atender aos interesses econômicos na realização da Copa tem deixado passar a própria dignidade, o que resta demonstrado nas manifestações que tentam justificar o injustificável apenas para não permitir qualquer abalo na “organização” do evento. Foi assim, por exemplo, que o maior atleta do século XX e melhor jogador de futebol de todos os tempos, o eterno Pelé, chegou a sugerir, mesmo que não tenha tido uma intenção malévola, que mortes em obras são fatos que acontecem, “são coisas da vida” e que se preocupava mesmo era com o atraso nas obras dos aeroportos; que o competente e carismático técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, ainda que sem querer ofender, afirmou que a solução para o problema do racismo no futebol é ignorar os “babacas” que cometem tais ofensas, pois puni-los não resolve nada; e que o Ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, cogitou pedir para que os cidadãos brasileiros economizassem energia a fim de que não faltasse luz na Copa.

A postura subserviente, para satisfazer os interesses da FIFA, chegou ao ponto extremo de algumas cidades, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cuiabá, Natal e Fortaleza, terem atendido pedido feito, com a maior cara de pau do mundo, pelo secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, para que as cidades sedes de jogos da Copa concedessem transporte gratuito – algo que o Movimento Passe Livre está lutando, e sofrendo, para conseguir há anos –, sendo que a concessão, diversamente do que tem buscado o MPL, não se destina às pessoas necessitadas, mas aos torcedores dos jogos da Copa, que possuem condições financeiras para pagar os altos preços dos ingressos, que chegaram a ser vendidos, no paralelo, por até R$91 mil…

É de suma importância deixar claro, para a nossa compreensão e para a nossa imagem no mundo, que temos a percepção de todos esses problemas, que não o aprovamos e que estamos dispostos a enfrentá-los e superá-los.

O autêntico efeito positivo da Copa – realizada, ou não – será a constatação de que a classe trabalhadora se encontra em um estágio de consciência que lhe permite compreender que a Copa reforça e intensifica a lógica da exploração do trabalho como fonte reprodutora do capital, favorecendo ao processo de acumulação da riqueza, ao mesmo tempo em que permite a institucionalização de uma evasão oficial de divisas. A partir dessa compreensão, a classe trabalhadora não se deixará levar pela retórica de que o dinheiro dos turistas vai estimular o crescimento e gerar empregos, até porque ao se inserir na mesma lógica capitalista o dinheiro não é revertido à classe trabalhadora, à qual apenas é remunerada, sem o necessário equivalente, pelo trabalho prestado, direcionando-se, pois, a maior parcela do dinheiro em circulação em função da Copa às multinacionais aqui instaladas, especialmente no setor hoteleiro e nas companhias aéreas.

Cada trabalhador, pensando em sua atividade e em seu cotidiano de ganho e de trabalho durante a Copa, ou antes, que responda: teve ou terá algum ganho na Copa que não provenha do trabalho? Este trabalho é prestado em que condições? O eventual acréscimo de ganho está ligado ao aumento da quantidade de trabalho prestado? Que o digam, sobretudo, os jornalistas!!!

Claro que uma ou outra experiência comercial exitosa, desvinculada da dos protegidos da FIFA, pode ocorrer, mas isso por exceção. E, cumpre repetir: mesmo que no geral a Copa produza resultados econômicos satisfatórios, não se terão, com isso, justificadas as supressões da ordem jurídica constitucional, já havidas no período de preparação para o evento, e as violências sofridas por diversas pessoas, e, em especial, a classe trabalhadora, no que tange aos seus direitos sociais e humanos.

Este é o ponto fundamental: o de não permitir que a Copa e a violência institucional posta a seu serviço furtem a nossa consciência, que está sendo duramente construída, vale lembrar, após 21 anos de ditadura, seguida de 15 anos de propaganda neoliberal. A produção dessa consciência é extremamente relevante para que o drama das diversas pessoas, vitimadas pela Copa, não se arraste por muito mais tempo, sofrimento que, ademais, só aumenta quando, buscando não abalar eventual euforia da Copa, se tenta desconsiderar a sua dor, ou quando, partindo de uma perversão da realidade, argumenta-se que as pessoas que são contra a Copa (mesmo se apoiadas nos motivos acima mencionados) fazem parte de uma conspiração para “contaminar” a Copa, apontadas como adeptas da “violência”, sendo que para a ação dessas pessoas (que, de fato, carregam um dado de consciência), o que se reserva é o contra-argumento da “segurança pesada”.

O desafio está lançado. O que vai acontecer nos jogos da Copa, se a “seleção canarinho” vai se sagrar hexa campeã, ou não, não é decisivo para a história brasileira. Já o tipo de racionalidade e de reação que produzirmos diante dos fatos sociais e jurídicos extremamente graves relacionados ao evento vai, certamente, determinar qual o tipo de sociedade teremos na sequência. Boa ou ruim, a Copa acaba e a vida concreta continua e será boa ou ruim na medida da nossa capacidade de compreendê-la e de interagir com ela, pois como já disse Drummond:

Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.
São Paulo, 21 de abril de 2014.

*Jorge Luiz Souto Maior é professor livre docente de direito do trabalho brasileiro na USP, Brasil desde 2001. É juiz titular na 3ª Vara do Trabalho de Jundiaí desde 1998, palestrante e conferencista.

terça-feira, 22 de abril de 2014

FAMURS CONTESTA REFORÇO PARA A COPA



ZERO HORA 22 de abril de 2014 | N° 17771


FORÇA EXTRA. Entidade critica a transferência de policiais para a Capital por enfraquecer segurança em municípios



A diretoria da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) convocou uma reunião emergencial para amanhã O objetivo é avaliar a transferência temporária de 2 mil policiais militares do Interior para Porto Alegre para reforçar a segurança na Copa do Mundo.

Apesar de a Brigada Militar e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmarem que as cidades que perderão efetivo não ficarão descobertas, o presidente da Famurs e prefeito de Santo Ângelo, Valdir Andres (PP), teme pela insegurança:

– Avalio como muito negativa para os municípios que enfrentam altos índices de violência. O Interior tem menos policiais por habitante, então, há muita preocupação. Estamos desvestindo um santo para vestir outro. É pouca gente para o Interior.

Andres diz que a grande maioria das prefeituras não tem alternativa para suprir a redução no número de policiais, por não contar com guardas municipais. Uma alternativa apontada por ele seria o uso do Exército para fazer a segurança da Capital durante a Copa:

– Já temos problemas com a Operação Golfinho, com perda de policiais. Agora, fomos surpreendidos. Vamos estudar alternativas para sugerir ao governo, para colaborar, sem desproteger nossas populações.

A decisão provoca protesto no Vale do Sinos, uma das regiões mais violentas do Estado e que poderá contribuir com até 60% do efetivo local de PMs, estima o Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio dos Sinos (Consinos).

Apesar de o Estado não confirmar o número, a prefeita de Portão e vice-presidente do Consinos, Maria Odete Rigon (PMDB), afirma que a decisão de remanejar trará riscos:

– Temos municípios pequenos que têm quatro policiais e que vão ficar com dois. E daí, faremos o quê?

Medida garantirá reforço de 4,8 mil PMs a Porto Alegre

Um em cada cinco PMs do Estado estará em Porto Alegre a partir de 15 de maio. Com o reforço na segurança pública para a Copa, 4,8 mil estarão na Capital, entre aqueles que atuarão no evento e os responsáveis pelo policiamento regular.

Hoje, há 3 mil homens em atuação no Estado, de acordo com números oficiais do governo. A previsão da BM é de que 2.956 policiais e bombeiros atuem na segurança do Mundial. Desses, 402 serão agentes do Batalhão de Operações Especiais (BOE).



segunda-feira, 21 de abril de 2014

PORTO ALEGRE REFORÇADA POR DOIS MIL PMS DO INTERIOR


ZERO HORA 1/04/2014 | 05h41

Porto Alegre terá reforço de 2 mil PMs do Interior durante a Copa. Municípios com potencial de protestos não ficarão descobertas, garante coronel

Pedro Moreira*



A partir de 15 de maio, um em cada cinco policiais militares do Estado estará em Porto Alegre. Com a ampliação do efetivo da Brigada Militar para reforçar a segurança naCopa, irão desembarcar na capital gaúcha cerca de 2 mil PMs vindos do Interior.

Haverá um efetivo de 4,8 mil na sede gaúcha do Mundial, entre aqueles que atuarão no evento e os responsáveis pelo policiamento regular. O desfalque em pelotões de outras cidades causa apreensão na categoria.

Ao todo, são 23 mil homens em atuação no Estado, de acordo com números oficiais do governo. A previsão da corporação é de que 2.956 policiais e bombeiros atuem na segurança do Mundial. Desses, 402 serão agentes do Batalhão de Operações Especiais (BOE), que tem sedes, além da Capital, em Santa Maria e Passo Fundo. Em meio ao aumento no número de roubos a comércio e casas e a um número de 28 assassinatos em pouco mais de quatro meses, Santa Maria deve ceder 200 homens do BOE.

– Essa eventual falta será suprida com horas extras para os policiais que ficarem. No policiamento, temos mil policiais (em Santa Maria), acima da média. Temos um policial para cada 280 habitantes. Tiraremos 25% do efetivo. São 250 policiais da polícia montada e do BOE. Não é mais do que vai para a Operação Verão – afirmou o secretário da Segurança, Airton Michels.

De fato, cidades e regiões com melhores índices de policiamento cederão mais policiais para a Copa. Regiões como Serra, Vale do Sinos e Norte devem enviar um número menor de agentes. Ainda assim, o presidente da Associação de Cabos e Soldados quer reunir-se com o comando da corporação para pedir informações.

– O colega que fica no Interior estará sem outro colega para ajudá-lo. Estamos vendo se o brigadiano vai dobrar serviço, se vão diminuir postos ou turnos. Outra preocupação é o alojamento, em Porto Alegre, para os que virão – afirma Leonel Lucas.

Subcomandante-geral da BM, o coronel Silanus Mello sustenta que existe monitoramento de cidades com potencial de protestos no interior gaúcho, como Santa Maria, Caxias do Sul e Passo Fundo. E garante que os municípios não estarão descobertos:

Será a mesma da Operação Golfinho. Levamos quase 2 mil para o Litoral, agora vamos trazer para Porto Alegre. E os batalhões de operações especiais são uma tropa de reserva.

Os quase 3 mil policiais que trabalharão no Mundial serão divididos em dois grupos. Metade formará o Batalhão Copa e atenderá uma espécie de eixo do Mundial: desde o entorno do Beira-Rio, áreas oficiais de estacionamento, rota protocolar da Fifa, shoppings, rede hoteleira, fan fest, Acampamento Farroupilha e pontos turísticos até a rodoviária e o aeroporto.

Já a outra metade vai integrar o Batalhão Especial de Pronto Emprego (Bepe), força especial que ficará de prontidão em dias de jogos para o caso de protestos ou incidentes graves. Em dias sem partidas, essa equipe deve auxiliar no policiamento de outras áreas da Capital ou fazer cursos de aperfeiçoamento.

A área que mais cederá profissionais para o evento será a Academia de Polícia Militar, com integrantes dos cursos de formação de sargentos e de oficiais.

– É uma tropa com pré-qualificação diferenciada, para atender a demanda de torcedores vip, imprensa internacional e hotéis – explica o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e subcomandante do Batalhão Copa, tenente-coronel André Luiz Córdova.

*Colaborou Lizie Antonello

sexta-feira, 18 de abril de 2014

DETALHES DAS ENTRADAS

ZERO HORA 18/04/2014 | 11h30

Fifa divulga imagem de ingresso para os jogos da Copa. Retirada dos bilhetes nos postos oficiais começou nesta sexta-feira em 10 das 12 cidades sede.



Foto: Reprodução / Fifa.com


A Fifa divulgou, nesta sexta-feira, a imagem dos ingressos para os jogos da Copa do Mundo de 2014. O tíquete contém 10 informações, todas explicadas no site da entidade. De acordo com a Fifa, o design de cada ingresso de Copa do Mundo é pensado no sentido de lembrar o país sede e o jogo em questão.

A distribuição das entradas para os compradores que não quiseram receber os seus ingressos pelo correio será feita a partir desta sexta-feira em 10, das 12 sedes do Mundial. Apenas em Brasília e Porto Alegre é que a entrega começará em maio por conta das demoras nas confirmações dos postos de recolhimento. No momento da retirada, o torcedor deve levar documento de identidade e comprovante de pagamento.

Neste primeiro momento, o funcionamento dos postos para retirada dos ingressos será apenas nas sextas, sábados e domingos. A partir de maio, funcionarão durante todos os dias, entre 12h e 21h. O agendamento para a retirada das entradas deve ser feito no site da Fifa.

Conheça as 10 características do ingresso para a Copa do Mundo:

1: No canto esquerdo, em destaque, vem o número da partida. No exemplo acima, Brasil x México é o jogo de número 17. Os números de todos os jogos podem ser conferidos na tabela da Copa.

2: Ao lado do número vem a descrição da partida. Por razões óbvias, os nomes dos times aparecem apenas nos ingressos da fase de grupos. A partir das oitavas-de-final, os ingressos contêm uma combinação de letras e números para identificar as equipes envolvidas. Por exemplo, "1A x 2B" indica que o jogo será entre o 1º colocado do grupo A e o 2º colocado do grupo B, enquanto "W55 x W56" indica que a partida será entre os vencedores dos jogos 55 e 56. Em caso de dúvida, refira-se sempre ao número do jogo e à tabela da Copa.

Logo abaixo, na parte azul, serão encontradas as seguintes informações:

3: A data da partida.

4: O horário de início da partida.

5: O local onde a partida acontecerá, com o nome e o endereço completo do estádio.

6: O nome do comprador impresso no ingresso

7: A categoria escolhida

8: O preço do ingresso.

As informações na parte inferior são as mais específicas para que o torcedor encontre facilmente o seu assento:

9: Com informações que variam das mais abrangentes às mais específicas, de fora para dentro do estádio, esta parte representa um passo a passo bastante prático, a começar pela entrada na arena. Voltando ao exemplo acima, o ingresso indica claramente que o torcedor precisa procurar a entrada "sul" e em seguida, já dentro do estádio, o portão "C". Na área interna, em frente aos bares, basta que ele procure o bloco em questão, no caso, o "106 A". Neste momento o torcedor chega à arquibancada. Então, é só encontrar a fileira certa e o assento marcado, que no modelo são "C" e "1" respectivamente.

10: Para facilitar, este último elemento indica em cores a área do estádio onde o assento se encontra. Todos os estádios da Copa do Mundo estão divididos em 4 setores principais, representados pelas cores vermelha, azul, verde e amarela. A pequena seta preta indica a localização do setor do ingresso. Do lado de fora do estádio, a equipe de serviço ao espectador estará preparada para direcionar os torcedores a cada uma destas cores.


LANCEPRESS!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

JORNALISTA DINAMARQUÊS ALEGA LIMPEZA PARA A COPA

ZERO HORA 16/04/2014 | 12h46


Jornalista dinamarquês alega “limpeza” para a Copa, deixa o Brasil e causa polêmica em redes sociais. Post de Mikkel Keldorf Jensen teve mais de 26 mil compartilhamentos até a manhã de quarta.



Post do jornalista fala sobre morte de crianças de rua.Foto: Reprodução / Facebook


O desabafo de um jornalista dinamarquês no Facebook ganhou grande repercussão nas redes sociais: desde que foi escrito, em 14 de abril, o texto recebeu mais de 26 mil compartilhamentos até a manhã desta quarta-feira. Sem provas, Mikkel Keldorf Jensen relata que desistiu de cobrir a Copa do Mundo de 2014 após presenciar, em Fortaleza, "remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando" e afirma que voltará ao seu país de origem.

Entre as declarações mais fortes, está a de que crianças de rua seriam mortas "para deixar a cidade limpa para os gringos e a imprensa internacional". Em novembro do ano passado, o jornalista escreveu algo semelhante em seu perfil do Facebook se referindo ao Rio de Janeiro. Mas desta vez, a "limpeza" tratava de esconder usuários de crack na cadeia para "tornar a cidade apresentável para turistas e fãs da Copa".

A insatisfação de Mikkel, porém, já era noticiada na imprensa dinamarquesa pelo menos desde a terça-feira da semana passada, quando ele escrevera post semelhante ao mais recente em seu idioma. Lá, a mídia atribuía ao jornalista a declaração que "crianças de rua foram assassinadas" na capital cearense.

Em pesquisa feita sobre a vida profissional de Mikkel — que se diz jornalista independente — em pesquisa na internet, ZH encontrou apenas uma matéria assinada pelo repórter neste ano. Foi para o portal tv2.dk como correspondente no Rio de Janeiro, em 31 de março. Ele falava sobre a instabilidade das favelas pacificadas a pouco mais de dois meses para a Copa. Aparentemente, é a única reportagem feita por ele em 2014, fora as postagens em um blog sobre a Copa do Mundo, criado em janeiro deste ano.

sábado, 12 de abril de 2014

A ARMADURA ANTIBOMBA DA POLÍCIA




ZERO HORA 12 de abril de 2014 | N° 17761

PARA VER NA COPA

Materiais que serão utilizados por forças de segurança durante o Mundial incluem carro blindado e robô para desativar explosivos


Máscaras, uniformes especiais, veículo blindado, robôs desarmadores de bombas. Os sofisticados equipamentos que estão chegando ao Estado devem ser o legado da Copa do Mundo para a segurança pública do Rio Grande do Sul. Doação do Ministério da Justiça para a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, o material soma um investimento de R$ 90 milhões.

A maior parte desta quantia foi aplicada na construção de um centro de comando e controle integrado na Secretaria de Segurança. Com telões conectados a câmeras de videomonitoramento em toda a cidade, a estrutura ficará pronta até 20 de maio.

– A Copa nos proporcionou uma evolução tecnológica grande na área de segurança pública, porque os equipamentos permanecerão para uso da polícia – afirma o secretário da Segurança, Airton Michels.

Entre as aquisições mais vistosas está um veículo para ações de choque. O blindado é capaz de transportar 21 policiais, lança um esguicho de água que pode atingir até 60 metros e será usado “muitas poucas vezes”, segundo a previsão do secretário Michels.

– Não é princípio nosso controlar manifestações populares com esses caminhões. Ele não pode ser usado em qualquer circunstância. Vamos fazer um protocolo de uso, estabelecendo regras – afirma Michels.


Eficácia do veículo blindado é discutida por especialistas

Todas as 12 cidades-sede da Copa do Mundo deverão receber o veículo, que está sendo fabricado por uma empresa paulista.

Professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo, José Vicente da Silva acredita, porém, que o veículo pode não ser o mais adequado:

– No ano passado, São Paulo teve de recorrer a uma licitação internacional porque a polícia constatou que nenhuma empresa brasileira estava apta a desenvolver esse tipo de equipamento – afirma.

De acordo com o major Mario Augusto Ferreira, comandante da 1ª Companhia de Choque do Batalhão de Operações Especiais (BOE), o caminhão não é capaz de machucar as pessoas:

– Ele molha e empurra, mas não causa nenhum mal. A água é arremessada de cima para baixo, por cima do manifestante.


A polêmica da máscara


Entre as aquisições para a Copa também se sobressai a máscara de gás que será usada pela polícia de 11 Estados, incluindo o RS. Em uma época em que se debate a humanização da polícia, o major Mario Augusto Ferreira afirma que o aparato causa impacto psicológico porque “tira a figura humana” do policial.

– A humanização não vai ser dada pela aparência, mas pela forma como eles vão tratar as questões referentes a manifestações e prisões de pessoas – avalia o analista de assuntos estratégicos e consultor de organizações internacionais André Luís Woloszyn.

A função da máscara, segundo o secretário Michels, é dar segurança ao policial e também à população.

– Quanto mais protegido o policial se sente, menos violento ele será na sua ação. Essa proteção é para que ele possa agir dentro do protocolo e dentro da lei, nas circunstâncias que ele estiver enfrentando.


OS PRINCIPAIS ITENS DO KIT

ROBÔ PARA DESARMAR BOMBAS
- Comandado à distância por um técnico, é utilizado para intervenções em ocorrências onde há risco de vida. Pode levar a bomba para um local afastado, colocar uma contracarga e detonar o dispositivo. Fabricado nos EUA.

TRAJES ANTIFRAGMENTAÇÃO - Confeccionada na Suíça com material balístico para proteger de fragmentos com velocidade de projétil, cobre até a cabeça. Será usado pelos técnicos quando houver risco de que o objeto a ser examinado seja uma bomba.

BRAÇO ROBÓTICO - Usado junto à roupa, aumenta a distância do homem em relação ao objeto. Acrescenta a possibilidade de sair ileso caso a bomba exploda. Fabricado por uma empresa canadense.

APARELHO DE RAIO X PORTÁTIL - Menor do que os aparelhos industriais, serve para identificar todos os componentes da bomba sem contato físico. Feito nos EUA.

KIT DE LINHAS E GANCHOS - Conjunto de cabos e roldanas em que os policiais fazem a movimentação remota da bomba. Veio do Canadá.

MÁSCARA DE GÁS - É confeccionada com material que suporta até 1.000ºC. Tem visor à prova de balas, filtro cambiável para respirar em ambientes com gás e fumaça e um sistema que permite que o ar seja expulso sem a entrada de ar contaminado.

VEÍCULO PARA AÇÕES DE CHOQUE - Com tração de 6x4 e pesando 20 toneladas, tem na parte dianteira um limpa trilhos capaz de desobstruir obstáculos pelo caminho e um canhão de água capaz de arremessar jatos de alta pressão que chegam a até 60 metros. Deve ser utilizada em “eventuais tumultos de rua”, segundo o secretário Michels.

EXOESQUELETOS DE POLICARBONATO - De fabricação nacional, a novidade é que cobrirá a parte superior do corpo dos policiais dos três batalhões de operações especiais, como tórax, ombros e braços, além de órgãos genitais e pernas. Deve ser usado com capacete e máscara de gás, protegendo integralmente o corpo. Serão 300 unidades.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

EFETIVO DA PM NO MUNDIAL VAI SUPERAR EM 70% O EMPREGADO NA COPA DAS CONFEDERAÇÕES


Efetivo da PM no Mundial vai superar em 70% o número de agentes da Copa das Confederações. Região do Maracanã contará com 2.372 policiais militares. Aumento se deve a expectativa de maior público na cidade

O GLOBO
Atualizado:10/04/14 - 12h30

Na Copa das Confederações, o carro blindado da polícia virou atração turística - Marcelo Carnaval - 20/06/2013 / Agência O Globo


RIO - O efetivo da Polícia Militar na área externa do Maracanã durante a Copa do Mundo será 70% maior do que o planejado para a Copa das Confederações, realizada no ano passado. A decisão foi tomada durante uma reunião da Comissão Especial de Segurança do Estado para Grandes Eventos (CESEGE) nesta segunda-feira. Além do reforço da PMs, a Polícia Civil criará o Núcleo de Atendimento aos Turistas Estrangeiros nas delegacias localizadas em áreas onde acontecerão os evento, com a presença de 156 policiais habilitas em línguas estrangeiras. A expectativa é de que haverá um fluxo maior de pessoas na cidade em comparação ao público presente na competição do ano passado.

Serão 2.372 policiais militares ao redor do Maracanã, com mais 2.580 homens que ficarão de prontidão nos batalhões para casos de contingências em dias de jogos. Na Copa das Confederações eram 1.350 policiais fazendo a segurança ao redor do estádio. A PM fará também um cinturão de segurança nas áreas turísticas. Ficou acertado que não haverá alteração no efetivo das polícias Civil e Militar no interior e na Região Metropolitana do Rio, incluindo as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). E, a exemplo da Copa das Confederações e da Jornada Mundial da Juventude, o Instituto de Segurança Pública (ISP) produzirá diariamente um relatório com as ocorrências policiais que envolvam o público e as delegações do evento. Já a Polícia Civil montará uma delegacia e perícia móvel para atendimentos no entorno do Maracanã.

Para garantir o efetivo maior, dois mil homens tiveram as férias adiadas e formarão dois batalhões de campanha que atuarão ao redor do Maracanã. Licenças, quando possível, serão adiadas e também haverá um reforço dos formandos do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, totalizando 4.926 policiais militares no policiamento ostensivo do estado.

A Polícia Civil montará um posto avançado da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo no Aeroporto Santos Dumont, no Centro, e reforçará o efetivo da Delegacia do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. Também haverá uma unidade da Polícia Judiciária na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, exclusivamente para atender ocorrências que envolvam grande número de pessoas. O órgão também disponibilizará agentes especializados do Esquadrão Antibomba, de Recursos Especiais e equipes especializadas em operações com uso de helicóptero.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

MANIFESTAÇÃO NÃO SERÁ CERCEADA PELAS FFAA, MAS ELAS ATUARÃO NO CONTROLE



360471

CORREIO DO POVO 09/04/2014 14:27

AGÊNCIA BRASIL

Manifestação na Copa não será cerceada pelas Forças Armadas, diz Amorim. No entanto, Ministro da Defesa informou que militares estão sendo convocados para atuar no controle



O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse há pouco que a atuação das Forças Armadas na Copa do Mundo não pretende cercear o direito de manifestação da população. O ministro ponderou, contudo, que os militares não estão pedindo para atuar no controle de manifestações e sim convocados.

Durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Amorim frisou que Marinha, Exército e Aeronáutica atuarão, prioritariamente, na defesa do espaço aéreo, fronteira, no controle de explosivos, armamento químico e na defesa cibernética. Mas manterão também uma "força de contingência" para casos em que seja necessário "garantir o emprego da lei e da ordem".

"Esse emprego será normalmente objeto do pedido dos governadores e aceitação da Presidência", destacou.

Questionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) sobre a edição de portarias com instruções para atuação dos militares nas manifestações, o ministro disse que os documentos já foram modificados para evitar "ambiguidades", mas poderão passar por novas alterações para que não haja "má interpretação".

"Concordo que as manifestações têm que ser preservadas e não há no manual da lei e da ordem previsão de cerceamento. Na segunda edição fizemos uma revisão para evitar ambigüidades e má interpretações. Expressões como forças oponentes. O manual é como um paralelo usado pelas forças da Missão de Paz das Nações Unidas. Elas procuram dar clareza para que os militares envolvidos nessas ações não se excedam e saibam como se portar", argumentou Amorim.